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Cinema brasileiro renasce neste Festival de Brasília

Brasília - Numa prova de que o cinema brasileiro tal como o mitológico [Fênix] renasce das cinzas deixadas há 16 meses, quando o presidente Collor extinguiu a Embrafilme - e castrou toda a produção que existia na época - esta 24a. edição do Festival criado em 1965 inicia hoje em clima de otimismo e esperança. A inscrição de mais de quarenta filmes, entre longas, médias e curtas - que, aos trancos e barrancos foram concluídos nos últimos meses ( algumas produções se arrastavam há mais de três anos), reunindo mais de 200 pessoas ligadas a comunidade cinematográfica - realizadores, roteiristas, produtores, artistas, jornalistas, [etc.] - faz com que Brasília volte a viver seus anos de glória quando, mesmo nos anos duros da repressão, representava um foco de resistência intelectual - razão pela qual, por três anos deixou de ser realizado. Antecipando-se em quatro meses - tradicionalmente acontecia em outubro ou novembro - e com surpreendente dotação orçamentária garantida pelo governador Joaquim Roriz, Brasília pode até esvaziar o Festival de Gramado, que este ano, em sua 17a. edição, foi transferido de maio para agosto. Entretanto, para o festival gaúcho já há mais de 50 filmes inscritos - inclusive os que foram cortados pela comissão de seleção aqui em Brasília. Tendo lançado há um mês o Polo de Cinema, com recursos em torno de Cr$ 1,3 bilhões para a compra de equipamentos e projetos de verbas ao redor de US$ 4 milhões para estimular o reaquecimento da produção cinematográfica, o governador Roriz deu um tratamento prioritário ao Festival, dirigido por uma das mais experientes executivas da área, a professora Maria Luiza Dornas, agora na direção executiva da Fundação Cultural do Distrito Federal. Ao lado da mostra competitiva no cine Brasília - com longas inéditos como "Sua Excelência, o Candidato", de Ricardo Pinto e Silva; "Rádio Auriverde" de S. Back (já exibido comercialmente em Curitiba); "Ameríndia" de Conrado Berning; "Vai Trabalhar, Vagabundo II - A volta", de Hugo Carvana; "O Corpo" de José Antonio Garcia; "Matou a Família e Foi ao Cinema" de Neville de Almeida (refilmagem do filme undigrundi de Julinho Bressane, 1969, reprisado sábado pela Rede Manchete), o Festival será encerrado no dia 9, com a pré-estréia de uma super-produção rodada em Goiás há dois anos - "República dos Anjos", do argentino-brasileiro Carlos Del Pino - e sobre o qual; em 26 de novembro de 1989, publicamos a primeira grande reportagem na imprensa brasileira - em edição dominical de O Estado do Paraná. Também em competição estarão dois médias (sobre personalidades musicais: Noel Rosa e Radamés Gnatalli) e dez curtas (entre eles, "A Loira Fantasma", de Fernanda Morini, de Curitiba). O festival terá um importante seminário - "Cinema Brasileiro, Urgente", um curso de introdução ao cinema e "Festivalzinho"(sessões matinais para a garotada), oficina de cinema de animação, debates com os realizadores dos filmes em competição, mostra de vídeos e, principalmente, muitas novidades em torno de produção de cinema (e vídeo) neste Brasil de novos e sofridos tempos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
02/07/1991

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