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60 anos depois "Limite" na abertura do Festival

Brasília - Sessenta anos depois de sua primeira exibição - ocorrida no dia 4 de maio de 1931, no cinema Capitólio, na Cinelândia carioca, o filme-mito do cinema brasileiro - "Limite", de Mário Peixoto, abre hoje à noite, em sessão de gala na sala Villa Lobos do teatro Nacional a 24a. edição do mais antigo festival de cinema brasileiro. Em nova cópia e numa sessão que terá sua trilha original - com temas de Satie, Debussy, Borodin, Ravel, Stravinsky, Cesar Frank e Prokofiev - interpretadas pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional sob a regência do maestro Silvio Barbate, esta será a homenagem maior prestada aos 60 anos de uma obra que pouquíssimos espectadores conhecem - mas que é o cult mais citado da história da nossa cinematografia. Aos 81 anos, Mario (Breves) Peixoto não estará presente : além de sua tradicional aversão a qualquer exposição pessoal, há anos encontra-se doente. Quem vem para esta sessão é um de seus maiores amigos, Saulo Pereira de Melo que, por iniciativa de Plínio Sussekind Rocha (*), orientou os trabalhos da restauração da única cópia que existe - iniciados em 1958 e só concluídos em 1971. Após a exibição , será inaugurada uma exposição de fotografias deste filme-mito, rodado na região de Mangaratiba, RJ, com muitas seqüências filmadas na praia de Itucunerema, com fotografia de Edgar Brasil (1902-1954) e que, ao longo dos anos tem merecido as mais diferentes polêmicas. Ainda recentemente, a "Folha de São Paulo" denunciou dois mitos que se criavam em torno de "Limite": os elogios que o cineasta soviético Serguei Einsenstein (1898-1948) teria publicado na revista inglesa "The Tatler Art" em 1931 e o entusiasmo de Orson Welles [(1915-1985)] ao assistir o filme, em sua vinda ao Brasil em 1942. Levado por seu amigo Vinicíus de Moraes (1913-1980), o diretor de "Cidadão Kane" viu o filme - mas dormiu durante sua projeção. O artigo elogioso que Einsentein "teria escrito" nunca foi confirmado. Apesar disto, o mito ficou e a homenagem a Peixoto é merecida, já que seu filme, pela vanguarda da proposta - influenciado por sua formação européia - nascido na Bélgica, filho de família rica - é hoje um clássico. Peixoto passou sua adolescência na Inglaterra e Paris, ali conhecendo a avant garde da época - na música, cinema e artes plásticas. Desde os anos 40, indiferente às polêmicas que seu filme provocou, Peixoto vive em seu Sítio do Morcego, na Ilha Grande. Coleciona objetos de arte e históricos das fazendas da região, com os quais sonhava montar o Museu do Litoral Fluminense. Poeta ("Mundéu", 31; "Poemas de Permeio com o mar") e romancista, escreveu "O Inútil de Cada Um" (1934-35), reestruturado e aumentado por ser editado e, 7 volumes, dos quais só saiu o primeiro (Record, 84). Colaborou (sem ser credenciado, a seu pedido) no roteiro de "Estrela da Manhã" de Jonad/Oswaldo Marques de Oliveira (1948/50) e em 50 escreveu o roteiro de "A Alma segundo Salustre" (publicado pela Embrafilme, 83). Seu amigo e assistente de fotografia em "Limite", Ruy Santos (1916-1989), o homenageou no curta "O Homem e o Limite" (1975). Ruy Selberg, ex-presidente da Embrafilme, em 1980, o focalizou em "O Homem do Morcego". No começo dos anos 30, deixou inacabado dois filmes - "Onde a terra acaba" e "Maré Baixa" (não confundir com a produção realizada no Litoral paranaense, em 1965). Em 1978, Saulo publicou o roteiro fotográfico de "Limite" que, em sua cópia restaurada, chegou a ser reeditada em vídeo pela Globo - sendo possível encontrá-la em algumas locadoras maiores (Curitiba, na Disk Tape). A exibição de "Limite", na sessão de abertura do 24o. Festival de Brasília, com acompanhamento da Sinfônica sobre as partituras originais escolhidas pelo próprio Peixoto, é uma homenagem maior. Há alguns meses, dois outros clássicos - "Intolerância" de D.W. Griffth (1916) e "Napoleão", 1926, de Abel Gance, tiveram também sessões com as trilhas reconstituídas na execução de sinfônicas, em eventos ocorridos no teatro Municipal do Rio de Janeiro e num estádio em Niterói, respectivamente. NOTA (*): Sussekind Rocha, ao lado de Otávio de Farias (romancista, autor da obra cíclica "A Tragédia Burguesa"), Almir Castro e Claudio Melo, fundaram o primeiro cineclube do Brasil - o Chaplin Club, em 13 de junho de 1928, que promoveu a primeira sessão pública de "Limite" - editando também uma histórica e pioneira publicação - "O Fan" (1928/30 - 9 números).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
02/07/1991

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