ilegível
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de outubro de 1978
De repente, não mais do que de repente - como na poesia de Vinícius de Moraes - estreou, segunda-feira passada no Cinema 1, um dos filmes mais importantes do ano: "Verdades e Mentiras de Orsom Welles" (F For Fake). Realizado entre 1972/74, de forma de um descontraído documentário sobre a falsificação artística, este penúltimo filme dirigido pelo gênio de "Cidadão Kane" está na categoria das obras-primas do cinema, pela inventividade, coragem e, principalmente, atualidade - especialmente neste momento, no Brasil, mais especificamente em Curitiba, quando o mercado de artes torna-se uma arena confusa de interesses em que se mesclam a mediocridade e desonestidade de tantos. Um filme que deveria ser exibido, obrigatoriamente, em escolas, museus e mesmo galerias de arte, mostrando ao maior número possível de espectadores o outro lado da moeda (artificial) mundo das artes plásticas. Como tema, perfeito. Como cinema, excelente. Enfim, um filme maior, de visão obrigatória a quem tem a necessária informação para entendê-lo, pois Welles não faz concessões: documenta fatos, expõe idéias, mas exige do espectador uma indispensável atualização e cultura para que o mesmo entenda toda a beleza deste seu filme irreverente, corajoso, bem humorado - mas, sobretudo, belo.
Hoje a noite, em sessão especial no Plaza, à meia-noite, o Clube de Criação promove uma sessão especial do documentário "Harlan Country - Tragédia Americana", de Barbara Kopple, premiado com o Oscar de melhor documentário, em 1977 - e que na tarde do Natal do ano passado assistíamos em Paris. Corajoso - comparável mesmo a "Corações & Mentes", Harlan Country" vem ao Brasil, com lançamento regular prometido para breve. A sessão de hoje será restrita a publicitários e jornalistas, já que foi escolhido como tema do III Concurso Nacional de Cartaz de Cinema - e a exibição é para que os nossos artistas se inspirem e criem propostas para o cartaz capaz de colaborar na melhor difusão deste filme político, e atual.
"Os Incendiários Estão a Solta" (Fire Sale), de Alen Arkin, elogiado pela crítica inglesa, que deveria ter estreado ontem no Rivoli, foi adiado: "O Animal", comédia-vaudeville de Claude Zizzi, com Belmondo e a sexy Raquel Welch fica até domingo em cartaz. Assim como a atualíssima (apesar dos sete anos de atraso e das ridículas bolas pretas impostas pela Censura) "Laranja Mecânica" (Clockwork Orange, de Stanley Kubrick) permanece até domingo, no Astor. Os requebros de John Travolta continua a faturar, ainda mais agora, com a proliferação dos concursos discotheques nos clubes da cidade e assim "Os Embalos de Sábado à Noite", está no Ópera.
Afora, "O Bem Dotado/O Homem de Itú" e "Um Marido Contagiante", mais uma produção nacional na mesma linha: "Emanuello... O Belo", que Nilo Machado (?) produziu e dirigiu, com um ator chamado (chamado?) Sylvio Kristal. É necessário perder tempo para comentar o nível de picaretagem e desonestidade comercial que se chega ? Achamos que não!
No mais, o negócio mesmo é ver (e rever) "Verdades e Mentiras de Orsom Welles" ou ir nas sessões da meia-noite, no Astor, que reprisa hoje o interessante "Cidadão Klein" de Joseph Losey e amanhã a ficção-científica "THX-1138", de George Lucas, que poucos viram, há três anos passados, em seu lançamento no Scala.
E, amanhã há, à meia-noite, no Condor a reprise de "A Dança dos Vampiros", de Roman Polanski.
Enviar novo comentário