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Aramis

Verdades e Mentiras de Welles

Há 38 anos - desde que "Cidadão Kane" (Citzen Kane, 1940) foi lançado, um filme de Orson Welles sempre é uma sensação. Aos 63 anos de idade, uma vida das mais intensas, Welles está, definitivamente, entre aqueles gênios de nosso século, que marcaram o cinema. Rebelde, independente, Welles tem uma presença bissexta como diretor, já que nunca abriu mão da absoluta criatividade, não admitindo interferência s- o que, num esquema comercial, dificilmente ocorre. Por isso que há muitos anos não vemos nenhum de seus filmes - em termos daqueles que dirige, pois, como ator, para sobreviver (e muitas vezes obter recursos para suas próprias fitas), Welles tem aparecido em muitas fitas indignas de seu talento. Na verdade, com exceção de "Cidadão Kane" - obra-prima definitiva do cinema, com cópias espalhadas em todo o mundo (o Museu Guido Viaro dispõe de uma, que tem constantemente reprisado) - A maioria dos filmes de Welles permanece desconhecida: "Soberba" (The Magnificent Ambesons, 42), "Jornada do Pavor" (Journey into Fear, 43), "A Dama de Shangai" (The Lady Fron Shangai, 46), "Reinado de Sangue" (Macbeth, 48), "Othelo" (49/50). "Grilhões do Passado" (Mr. Arkadin/Confidencial Report, 1955), são filmes vistos por uma minoria: lançados há mais de 20 anos, nunca tiveram reprises - e inexistem cópias mesmo para entidades culturais. xxx A produção mais recente de Welles também é pouco conhecida: "A Marca da Maldade" (Touch of Evil, 1958), com [Charlton] Heston e Jane Leigjt, lançado no Cine Avenida, em 1959, nunca mais foi reprisado; "O Processo" (Le Procés, 62, do romance de Franz Kafka), teve já a melhor carreira: foi sucesso relativo de público, ao estrear no Glória, em 1964, e teve duas reprises. Em compensação, há filmes de Welles que nunca chegaram ao Brasil, por razões que só a insensibilidade dos importadores explica: "Campanadas a Medianoche", rodado em 1965, na Espanha, com John Gielgud; "The Immortal Story", com Jeanne Moreau, rodado em 1968 e "The Other Side of the Wind", 1974, com John Huston e Peter Bogdanovich (cuja admiração por Welles é imensa). Outros filmes de Welles nunca puderam ser completados: Entre 1969/71 - tentou concluir uma versão de "Don Quixote" com akin Tamirof: entre 1967/70 trabalhou em "Dead Reckoning" (ou "The Deep") com Jeanne Moreau, isto sem falar em "It's All True", que o Departamento de Estado e a RKO iriam produzir em 1942, com episódios rodados no México e Brasil - e que trouxe Welles ao nosso país, resultando fatos que motivaram centenas de páginas já escritas a respeito. O material rodado nunca chegou a ser montado, embora a história que Welles pretendia realizar no México, fosse aproveitada em 56, em "Arenas Sangrentas" (The Brave One)), roteirizado por Dalton Trumbo (1905-1976), na época vítima do Maccarhtismo e teve que assina o trabalho com o pseudônimo de "Robert Rich". xxx Rodado entre 1973/75, "Verdades e Mentiras" ("F" For Fake"), é o penúltimo filme dirigido por Welles, que, numa seleção Ouro finalmente chega a Curitiba (Cinema1, desde ontem). Um filme em que Welles toma por tema um assunto bem atual: a fraude na arte. Tentando desvendar esse mistério, Welles propõe um filme deliberadamente "arranjado", construído como uma novela policial, em cada episódio nos conduz a outro episódio, e assim em diante até o desenlace - que também é hipotético. Em suma, trata-se de um quebra-cabeças confiado a perspicácia do espectador. Trata-se, assim, de um filme desafiador ao raciocínio, exigindo uma intensa participação do espectador. xxx Do filme participam, por exemplo, o famoso falsificador Elmyr de Hory, que enganou os "22marchands" de arte e os museus durante mais de 20 anos com "suas " pinturas dos pós-impressionistas (Modiglliani, Braque, Matisse, Picasso, etc.); Cliford Irving, processado há poucos anos por ter escrito uma falsa "autobiografia" de Haward Hughes (1905-1976), também é outro dos personagens deste "Verdades e Mentiras de Orsom Welles", que foi rodado durante quase 3 anos, a partir de alguns milhares de metros de película filmada para uma produção de TV por François Reichenbach. Velhos amigos de Welles colaboram no filme, com Joseph Cotten (seu colaborador desde "Cidadão Kane"). Richard Wilson e Peter Bogdanovich. xxx Como são raras as oportunidades de se ver um filme de Welles, o destaque justifica-se: no Cinema 1, nesta semana, "Verdades e Mentiras de Orson Welles".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
10/10/1978

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