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Aramis

Ninguém segura mais o grande Festival de Cinema de Gramado

Uma semana após o término do Festival de Gramado, algumas reflexões: até onde esta promoção que atinge, initerruptamente, sua 15ª edição é importante para o cinema brasileiro? Os filmes ali exibidos e premiados são beneficiados? Qual o futuro do festival? De princípio, uma coisa é certa: hoje, o Festival está consolidado.Mesmo que, por infelicidade, o sucessor do prefeito Pedro Henrique Bertolucci - cujo mandato vai até 15 de março de 1989 - queira, será impossível suspender o festival. Consolidado em termos de imagem, promoção e economia, Gramado tem sua identificação com o Cinema - e independente de ativíssimo calendário de eventos, que inclui também um festival de cinema publicitário, em julho, o evento cinematográfico, competitivo, tem hoje um significado que ultrapassa qualquer limitação política. Romeu Dutra, que como secretário de Turismo da Prefeitura de Gramado, em 1973, foi um dos responsáveis pela sua implantação, é objetivo: - "O Festival de Gramado é o evento mais significativo para o turismo no Rio Grande do Sul. Turisticamente e promocionalmente, sua realização é inquestionável. Oficializado em janeiro de 1973 pelo Instituto Nacional de Cinema, o Festival de Gramado teve origem nas mostras de cinema promovidas durante a Festa das Hortências, em 1969 e 1971, organizadas pelo crítico J.P. Gastal, hoje com 67 anos, durante anos do "Correio do Povo" e dono de um dos mais valiosos acervos sobre o cinema mundial. O grande evento Entre a primeira edição - aberta a 11 de janeiro de 1973 - ao XV Festival (27 de abril a 3 de maio último), o Festival cresceu, amadureceu e atingiu, este ano, dimensões imensas - colocando em risco inclusive a sua estrutura. O número de convidados triplicou, e afora os que a comissão executiva convoca, há centenas de artistas, produtores, técnicos, jornalistas, etc., que, por sua conta e risco vão ao festival. resultado: os hotéis da cidade têm sua lotação esgotada e este ano muitos convidados, como realizadores dos curtas e médias metragens, tiveram que se hospedar em hotéis de Canela, inclusive no Lage da Pedra, 5 estrelas, um dos três melhores hotéis do Brasil. Os problemas O maior problema do Festival, entretanto, é a pequena capacidade do cine Embaixador. Mantido por 237 membros da comunidade gramadense, com apenas 600 cadeiras, há muito que o cinema não comporta o público que aflui - pois afora os convidados, milhares de porto-alegrenses que sobem a Serra para assistir aos filmes em competição. A secretária-executiva, a simpática e competente Leila, faz verdadeiros milagres de diplomacia para conseguir colocar no cinema um público que é quase o dobro do humanamente possível de entrar. Reclamações, é claro, são muitas, mas o que fazer! Os filmes em competição à noite são reprisados na sessão da manhã seguinte - sempre com casas lotadas, mas uma solução definitiva só viria com a ampliação da sala - projeto antigo. O prefeito Pedro Henrique Bertolucci já decidiu que a Prefeitura vai tocar as obras de ampliação do cinema. Entretanto, o crescimento contínuo do Festival faz com que esta providência não signifique uma solução definitiva, como comenta Romeu Grimaldi, arquiteto, programador de cinemas de arte em Porto Alegre e membro encarregado pela comissão executiva para coordenar a área da exibição: - "O número de participantes do Festival aumenta cada vez mais. Mesmo com mil ou dois mil lugares, sempre faltarão lugares. Alguns dos problemas estamos equacionando - como a qualidade da projeção e som, apesar das constantes reclamações." Este ano, Grimaldi levou uma equipe de cinco técnicos de alto nível para supervisionar a projeção. Apesar disto, na noite de abertura, o som falhou após a exibição de "Vera" (de Sérgio Toledo, mostrado hors concurs), quando entraria o primeiro filme em competição - "Nem Tudo é Verdade". Foi o suficiente para o enraivecido Rogério Sganzerla, que buscava se destacar na base do escândalo (para tanto, 10 dias, antes, em entrevista a "O Globo", já havia atacado os colegas que participariam do Festival), subir ao palco e fazer um discurso, acusando até o ex-presidente da Embrafilmes, Carlos Augusto Calil. Que, afinal, não tinha nada com o problema. Centro de Convenções Este ano, o Festival funcionou em seus eventos paralelos e sociais no Hotel Serrano, distante mil metros do cinema. Por 13 anos, o Hotel Serra Azul era o centro nervoso do Festival, mas com a inauguração do Centro de Convenções Serrano - uma área de 4 mil metros, moderníssima, com amplas salas, auditórios, hall de exposições, etc. - as atividades puderam ter melhor distribuição. Assim no anfiteatro Lupicínio Rodrigues, com 400 lugares, poltronas de veludo, foram projetados os filmes em 16 mm, curtas e longas - que anteriormente eram prejudicadas nas sessões do cine Embaixador. Em uma das salas do Hotel Serrano, pela manhã, eram apresentados os 24 filmes em super 8, décimo festival realizado nesta bitola - praticamente condenada a desaparecer com o advento do vídeo. Aliás, o vídeo teve seu espaço este ano: no hall de exposições, várias empresas, entre distribuidoras como a Globovídeo, Transvídeo, Onyx, o Tape Clube do Brasil, CIC, instalaram seus estandes, apresentando os últimos lançamentos - inclusive alguns filmes que estavam em competição, mas já à disposição em cópias de vídeo, como "Anjos do Arrabalde", de Carlos Reichenbach. Ronaldo Matarazzo Suplicy - irmão do deputado Eduardo Suplicy e cunhado do ex-ministro Dilson Funaro, pioneiro na comercialização do vídeo no Brasil, acusado de ter sido o pirata-mór por anos através de seu Vídeo Clube (o maior do país), aproveitou para lançar o número um de "Fotogramas & Vídeo", uma bem acabada revista de 66 páginas, papel de melhor qualidade, editada por José Eduardo Mendonça, que, entre outros créditos, tem a de ter idealizado a revista "Bizz". A revista "Fotogramas & Vídeo" foi apenas uma das muitas publicações - jornais, revistas e livros - que tiveram seu lançamento durante o Festival de Gramado, como detalharemos em próximo texto. Afinal, um evento como Gramado passa a concentrar tudo que se relaciona a cinema e vídeo. Ainda incipiente, mas com condições de se concretizar, circula a idéia de Gramado vir a sediar um festival exclusivo de vídeo. O vice-prefeito Enoir Antônio Zorzanello, presidente da comissão executiva, não vê possibilidade de eventos competitivos de vídeo acontecerem simultaneamente ao de cinema, por uma questão prática: - "Só o cinema já está atrofiando toda nossa capaciade da hospedagem. Se houver mais a parte competitiva de vídeo, não teremos condições de abrigar mais as centenas de participantes que por certo serão atraídos." Seriedade & Números O crítico Carlos Eduardo Lourenço Jorge, ex-Folha de Londrina, diretor da Casa de Cultura de Londrina, e que há dez anos acompanha o Festival de Gramado, faz uma observação importante: - "O sucesso deste Festival deve-se à forma carinhosa, afetiva, que é organizada. Há uma preocupação da comunidade em cuidar de todos os detalhes, como se fosse um filho querido." Realmente, embora com a participação de muitos jornalistas e executivos de Porto Alegre - especialmente os críticos Hélio Nascimento, Ivo Stigger (que coordena há anos os debates) e Romeu Grimaldi - a comissão executiva busca, basicamente, trabalhar com o pessoal de Gramado. Assim, o corpo de auxiliares - cerca de 50 a 80 pessoas mobilizadas durante o evento - é de pessoas daquela vizinhança. Jovens bem treinadas, procuram coordenar os diferentes setores. Iara, funcionária da Caixa Econômica Federal, que se licenciou durante o Festival para atuar na coordenação de imprensa, empenhou-se num trabalho magnífico para facilitar o trabalho de mais de 200 jornalistas, 50 dos quais da imprensa nacional. Vicky, na secretaria-executiva, coordenou as questões de hospedagem e transporte, sempre atenciosas e bem-educadas, mesmo nos momentos de maior rush, com alguns participantes menos educados insistindo em perturbar. O custo do festival de Gramado chegou este ano aos Cz$ 10 milhões - coberto pela Prefeitura, uma ajuda de Cz$ 2 milhões da Embratur e iniciativa privada. Houve necessidade de cortar certas despesas - inclusive os cheques de premiações, mas o Kikito está hoje tão consolidado, que, a exemplo do Oscar, vale por si. E ninguém reclamou da falta do cheque que, nas 14 edições anteriores, acompanhava as premiações. LEGENDA FOTO 1 - Tonia Carrero e o presidente da comissão, Odair Zorzanello. LEGENDA FOTO 2 - Centenas de crianças, na busca de autógrafos de ídolos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
5
10/05/1987

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