Schumann e Vivaldi com os seus temas de Veneza
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de maio de 1987
No pacote de música clássico colocado nas lojas há algumas semanas e com o qual volta a oferecer à mais exigente fatia de consumidores lançamentos de primeira qualidade, a Polygram editou o elepê com a Academia de St. Martin-In The Fields, sob a regência de Iona Brown, tendo como solista Heinrich Schiff, interpretando cinco concertos para violoncelo, cordas e contínuo de Antonio Vivaldi (1678-1741). O violoncelo é um dos intrumentos cuja literatura foi enriquecida pela obras que Antonio Vivaldi lhes consagrou.
Como diz o musicólogo Peter Ryon, "se, com efeito os musicólogos não tivessem conseguido recuperar os manuscritos de suas composições relativamente numerosas para o violoncelo, teríamos deixado de conhecer uma parte importante de sua produção musical."
O mestre veneziano empregou o violoncelo na qualidade de instrumento solista em pelo menos dez sonatas, onde ele é secundado apenas pelo baixo-contínuo - comportando normalmente também um violoncelo - e em cerca de 30 concertos. Neles a orquestra de cordas é incumbida ao mesmo tempo de acompanhá-lo e de executar as seções destinadas a assegurar o contraste sonoro e dinâmico que caracteriza essas obras.
Para algumas composições o violoncelo vê-se reunido a outros instrumentos, notadamente o violino numa variedade de combinações: dois violinos e dois violoncelos, etc.
Por outro lado, essas diversas composições comportam numerosos exemplos, que concorrem para lançar um pouco de luz sobre diversos aspectos do trabalho criador de Vivaldi.
Alguns concertos existem também em versões diferentes, que se distinguem uma das outras pela presença de instrumentos solistas diferentes, tais como violoncelo e flauta transversa, violoncelo e fagote, violoncelo e oboé.
Os cinco concertos aqui registrados (gravação feita em Londres, junho de 1983, para a Philips) ilustram amplamente esses diversos aspectos do estilo vivaldiano.
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Outra produção preciosa é a que apresenta um grupo de virtuoses reunidos há três anos passados, nos estúdios Baarn, na Holanda, da Philips, quando gravaram cinco peças camarísticas de Franz Liszt (1811-1886): Reinbert De Leeuw (piano), Vera Beths (violino/viola), Anner Bijlsma (violoncelo), Gerda Ockers (harpa) e Bob Zimmerman (harmônio).
É importante a audição destas obras camarísticas de Liszt - como a "Elegre I" (para violoncelo, piano, harpa e harmônica, 6:28'), "La Lugubre Gondola" (violoncelo e piano, 10:28'); "Elégie II" (violino e piano, 5:07'), "Vergessene Romanze" e "Romance Oubliée" (para viola e piano, 4:17) e "La Notte" (violino e piano, 12:56'). Na obra de Liszt sua produção camarística (provinda do começo e do fim de sua carreira) foi eminentemente experimental, como frisa o musicólogo Max Harrison.
O que as faz serem peças menos executadas - mesmo em concertos por especialistas na obra de Liszt. Por exemplo, "La Lugubre Gondola" chegou até nós como uma composição em duas formas substancialmente diferentes, que são normalmente escutadas como solo de piano. O arranjo para violoncelo e piano, aqui executado por Reinbert De Leeuw, é contemporâneo. A obra foi inspirada pelas procissões funerárias em gôndolas, que Liszt presenciou nas lagoas de Veneza. Ela foi escrita no decorrer de novembro de 1882, antecipando em três meses a morte de Wagner, ocorrida na mesma cidade. Hoje essa música aparece como uma alucinação cinzenta, distante.
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Reconhecido como um dos mais notáveis trios de música erudita em atividade - o Beaux Arts - vem tendo, periodicamente, suas gravações editadas no Brasil. Pelo selo Philips, numa gravação esplêndida, temos agora esta formação instrumental com duas obras marcantes de Robert Schumann (1810-1856): o" Quarteto Para Piano em Bi Bemol", opus 47 e o "Quinteto Para Piano em Mi Bemol", com a participação especial de Samuel Rhodes (viola) e Dolf Bettelheim (segundo violino).
O Trio Beaux Arts é formado por Manahem Pressler, alemão de Magdeburg, pianista; Isidore Cohen, novaiorquino, violinista e Bernard Greenhouse, norte-americano, executante de violoncelo. Três músicos extraordinários, todos com formação das mais sólidas - Isidore e Greenhouse, estudaram na Juilliard - e que antes de se unir em trio tiveram esplêndidas carreiras como solistas.
Os quartetos de Schumann foram compostos em 1842 - e eles permaneceram únicos. Logo depois foram produzidos o Quinteto para Piano e o Quarteto para Piano, seguindo-se em 1847 os dois primeiros trios para piano.
Comenta o musicólogo Hanspeter Krelmann que "A compulsão criativa que parece ter-se apoderado de Schumann enquanto escrevia o Quinteto para Piano e O Quarteto é ainda mais surpreendente, se considerarmos que volta-se então para grupamentos instrumentais que eram novos e inéditos à época. Somente Mozart havia composto quartetos para piano instrumentados com cordas e outras formas de quartetos e quintetos eram quase sempre escritas apenas para cordas ou para combinações cordas e sopros."
Assim, dentro da obra de Robert Schumann, uma nova gravação destas duas peças, na interpretação de um grupo como o Trio Beaux Arts, com a participação de músicos convidados como Samuel Rhodes e Dolf Bettlheim, acrescenta ao catálogo da Polygram mais um título indispensável.
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