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Aramis

Os mestres ao piano com Perahia e Alfred Brendel

A CBS, fez três edições primorosas. Em primeiro lugar, temos os Concertos nº 1 e 2 para piano e orquestra de Beethoven com o jovem pianista novaiorquino Murray Perahia, acompanhado pela concertbown, de Amsterdam, regida por Bernard Haitink. Além do entusiasmo que esses nomes despertam, esta gravação traz uma curiosidade: o uso, no Rondó final do Concerto nº 1, Opus 15, em dó maior, de uma cadenza do próprio Beethoven recém descoberta e que pela primeira vez chega ao disco. Também com a concertbown, regida por Haitink e Perahia como solista outra gravação preciosa: o glorioso Quinto concerto de Beethoven, a obra que provocou ao estrear a exclamação de um oficial francês presente: "É o Imperador!" Pode até não ser verdadeira essa situação narrada como fato histórico, mas, sem dúvida, o concerto em mi bemol, Opus 73 é um Imperador do maestro Haitink, tornam este lançamento um dos melhores títulos do catálogo erudito da CBS. Já os Divertimentos mais popularmente apreciados de Mozart, são os que reúnem variados instrumentos de cordas e de sopro, dando as peças uma riqueza de timbres deveras encantadores. Mas o "Divertimento em mi bemol mais o, K.563", tem apenas instrumentos de cordas: um violino, uma viola e um violoncelo. E é peça que três virtuoses - Yo-Yo Ma (violoncelo), Gidon Kremer (violino) e Kim Kashakashian (viola) gravaram em Nova Iorque, processo digital, para outro lançamento excelente feito agora no Brasil. E falando em gravações imperdíveis, mais um registro: Alfred Brendel, 57 anos, austríaco (mas nascido na Checoslováquia), discípulo de Fauermann e Fischer, é hoje considerado o melhor intérprete de Franz Liszt (1811-1886). Pela Philips/Polygram, está saindo toda a obra do compositor húngaro, para piano - ao qual se acrescenta, em edição no Brasil, a "Sonata em Si Menor" (concluída em 2 de fevereiro de 1853, dedicada a Schuman). Na época Liszt estava recolhido num asilo. Dizem os historiadores que nem a esposa de Liszt, Clara, nem o amigo dela, Brahms (para quem ele havia tocado a sonata de Weimar) estavam prontos para apreciá-la. Richard Wagner foi o único que a recebeu com alegria. Somente quatro anos depois, Hans Von Bullow estreou a peça em Berlim. No lado dois do disco temos as "Legendas", que Liszt compôs em 1863. Obras de imensa ternura temática ("São Francisco de Assis: a prédica aos passarinhos" e "São Francisco de Paulo caminhando sobre as ondas"), emocionam pela nobre simplicidade e tranqüilidade que Liszt atribuiu ao seu santo padroeiro. Em contrapartida, não há esperança e dificilmente algum consolo, no desolado mundo da tardia "Lugebre Gondola", as peças que encerram a gravação. Como escreveu um estudioso de sua Obra: "Nenhum contemporâneo de Liszt escreveu músicas prenunciando tão distintamente a música de nosso século". Ambas "Gondola" (dois momentos) foram compostas em Veneza, antecipando a morte de Wagner. A segunda é a versão solo de uma peça originalmente escrita para piano e violino ou violoncelo. xxx Mais um lançamento primoroso da Philips/Polygram - com um trabalho inédito no Brasil. A Orquestra Filarmônica de Berlim, apresenta obras de Witold Lutoslawski, 75 anos, também o regente: a Sinfonia nº (obra iniciada há 16 anos mas que só teve sua estréia mundial em Chicago, a 29 de setembro de 1983) e que consiste em dois movimentos, precedidos por uma curta introdução e seguidos por um epílogo e uma coda. No lado dois desta gravação o mesmo Lutoslawski rege "Les Espaces du Sommeil", obra com utilização de texto de Roberto Desno (1900-45), compositor judeu que morreu no campo de concentração de Theresienstadt. Após longa reflexão, Lutoslawski escolheu o magnífico poema "Les Espaces du Sommeil" (editado em 1926), para a obra orquestral homônima, dedicada a Dietrich Fischer-Dieskay. A voz humana - com o barítono Deskay - é usada de um modo não muito distante do falar, apesar de o efeito nada ter em comum com o "Sprechgesang" de Schoenberg, como acentua Miriam Verhey-Lewis no texto que auxilia a melhor compreensão desta obra que chega ao Brasil, com uma boa novidade aos que buscam a música erudita.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
22
13/03/1988

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