Murray, um novo mestre do piano em dose dupla
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1985
Entre as preocupações de Maurício Quadrio como coordenador das edições clássicos e jazz da CBS está a de promover lançamentos de novos artistas, revelados nestes últimos anos e em escala ascendente nos grandes centros. Faz isto agora com o jovem pianista israelense Murray Perahia, sucesso nos palcos de concertos europeus e americanos nesta primeira metade da década de 80.
Simultaneamente, dois belíssimos álbuns trazem a arte de Murray Perahia para os ouvintes brasileiros. Aplaudindo intérpretes de Mozart e Beethoven pode ser ouvido interpretando concertos e sonatas em dois preciosos lps incluídos na série CBS Records Masteworks.
Num elepês estão conjugados duas importantes Sonatas de Ludwig Van Beethoven (1770-1827); a conhecidíssima "Apassionata" - sonata nº 23, Opus 57 e a Sonata nº 7; opus 10, nº 3, obra singular que apresenta uma série de movimentos altamente contrastantes, apresentada pela primeira vez em 1798. Já de Mozart, temos Murray acompanhado com a Orquestra de Câmera Inglesa, interpretando os Concertos nº 17 e 18. E, não custa lembrar, que no domínio do concerto ninguém igualou Mozart em quantidade e em variedade - assim como ninguém o superou em qualidade.
O Concerto nº 17, em sol maior, foi terminado em Viena em 12 de abril de 1784. Já o Concerto nº 18, em si bemol maior, do mesmo ano, teve sua conclusão em 30 de setembro e Mozart o tocaria, ele próprio, no dia 12 de fevereiro de 1785 e seu pai, Leopold, a ele se referiu como "o concerto feito para a Paradis, para que ela o leve a Paris". É que Mozart o havia destinado à pianista cega Maria Theresia Paradis, uma aluna de Leopold Kozeluch.
Se Murray Perahia é um jovem pianista, só agora tendo seus álbuns lançados no Brasil, Alfred Brendel, é um virtuose já dos mais conhecidos. Numa gravação da Philips, feita em Londres, em março do ano passado, Brendel interpreta obras de Ludwig Van Beethoven (1770-1827). Inicialmente a ss15 variações e Fuga, em mibemol, opus 35, da chamada "Eroica". No mesmo lado, aquela que é, sem dúvida, a mais popular das obras de Beethoven: "Para Elisa" (Pour Elise"), a popular bagatela e cujo título, diz o musicólogo Alan Tyson, pode ser um erro de nome. Foi o biógrafo de Beethoven, Ludwig Nohl, quem publicou o trabalho completo, em 1867, usando uma partitura autografa que pertencera a Thereses e Malfatti, filha de um dos médicos de Beethoven. É provável que em 1810, Beethoven tenha proposto o casamento a ela, sendo recompensado. De acordo com Nohl, o autógrafo - que jamais havia sido visto antes - tinha a dedicatória: "Para Elisa, em 27 de abril, como uma recordação de L.Von Beethoven". Mas, nos anos 20, Max Unger sugeriu que Nohl lera erradamente as anotações do compositor; parece mais provável que a peça tenha sido dedicada a Therese Malfati".
Nesta gravação temas também as "6 Batatelas", opus 126 - pequenas peças para plano que ele chamava de "Kleinigkeiten" ou "bagatelas". Cuidadosamente contrastantes em tonalidades, tempo e humor, elas justificam plenamente o que Beethoven afirmava a seu editor Schott; de quem era "as melhores peças de seu tipo que eu escrevi". Completando esta gravação estão as "6 Escocesas", publicadas, pela primeira vez, em 1888. Cada uma das Escocesas termina com o mesmo refrão de 16 compassos.
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Neste panorama da boa música para piano, temos também em edição da Polygram (London/ Digital), o pianista Jorge Bolet, na [seqüência] a série de obras para piano de Franz Liszt (1811-1886), no volume 5, trazendo o primeiro livro dos "Anos de Peregrinação: Suíça", que nasceu às margens do Lago Léman, entre 1835/36. Ali, o compositor e sua amante, a condessa Maria d'Agoult, conheceram dias idílicos. Grande parte dessa música foi incansavelmente revisada mais tarde, tornando-se obra que hoje conhecemos em 1855. São obras românticas, inspiradas em poemas de Byron ("A Peregrinação de Childe Harold"), ou a série de nove peças dedicadas a Guilherme Tell, herói nacional suíço.
Estes quatro lps com três grandes pianistas, em obras clássicas, se constituem em lançamentos de primeiríssima linha, enriquecendo o catálogo erudito a disposição dos colecionadores.
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