Afinal, chegam os filmes do FestRio (Os do ano passado!)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1985
Curiosa coincidência: enquanto no Rio de Janeiro acontece o II Festival Internacional de Cinema, Vídeo e Televisão (ao qual estaremos dando cobertura na próxima semana), finalmente chegam às tela de Curitiba ao menos dois dos filmes mais interessantes ali exibidos há um ano: "1984", de Michael Radford (cine Itália, a partir do dia 28) e o extraordinário "Koyaanisqatsi", de Godfrey Reggio (cine Astor, também a partir da dia 28). "1984", baseado no romance de George Orwell - último filme (para cinema) em que Richard Burton atuou - foi mostrado na parte competitiva do festival e apesar de ter sido um dos favoritos, acabou perdendo para "Cabra Marcado para Morrer". "Koyaanisqatsi" - que ganhou agora o [subtítulo] de "O Equilíbrio da Vida", foi levado apenas na parte informativa, em exibições paralelas.
Infelizmente, a maior parte dos filmes que participaram do I FestRio não chegaram a ter lançamento comercial no Brasil. O que se dirá dos que estão agora, desde a última quinta-feira, sendo apresentados nesta grande promoção do governo do Rio de Janeiro, com apoio de inúmeras instituições.
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Um lançamento corajoso e necessário: "Don Giovanni", o filme-ópera que Joseph Losey realizou há 6 anos, numa fiel transposição da ópera de Mozart, está em exibição no cine Ritz. Um filme de categoria, capaz de surpreender o público e que poderá se manter em cartaz se houver o devido prestigiamento do público requintado que tanto aprecia o belo canto.
Numa semana de poucas estréias - embora com ótimas continuações e reprises - há um lançamento inesperado: "O Incrível Barba Amarela", comédia capa-e-espada, procurando reeditar os tempos clássicos das aventuras dos 7 mares, que naquelas clássicas fitas da Warner Brothers que tinham Errol Flynn como super-herói. Hoje, para uma garotada mais ligada à informática e ao som internacional, talvez o fascínio de lutas entre piratas, tesouros escondidos e rapto de princesas não atraia tanto. Mas, a julgar pelo trailer, trata-se de um filme de bom gosto visual, muita ação e elenco internacional, inclusive com James Mason, falecido no ano passado, numa ponta.
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O melhor filme da semana continua a ser A Rosa Púrpura do Cairo. Uma obra-prima de Woody Allen, enternecedora, envolvente e perfeita em todos os aspectos, com magnifica trilha sonora de Dick Humann (inclusive com Fred Astaire cantando "Heaven" e "Cheek To Cheek".
Assistir "The Purple Rose of Cairo", produção de 1985 - langada hors-concours no último festival de Cannes e que antecedeu a "Helen e suas irmãs" (o novo filme de Allen, ainda inédito nos EUA) - se constitui em programa indispensável a quem ama o cinema. Raras vezes um filme foi tão perfeito, tão inteligente e criativo em sua simplicidade. Mia Farrow está magnífica como a meiga Cecília e no elenco de suporte aparece o veterano Van Johnson.
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"Cocoon", a comédia de Ron Howart, que numa pacifista visão da chegada de seres extra-terrestres, proporciona que artistas de várias gerações se encontrem - veteranos como Don Ameche e Maureen Stapleton, filhos de gente famosa como Tyrone Power Jr. e Tahnee Welch (filho de Rachel), continua ao menos mais uma semana no cine Plaza. Outro filme que prossegue em exibição, só que agora no Cinema I, é "Mad Max - Além da Cúpula do Trovão", produção australiana, direção de Goerge Miller e George Ogilvie, com Mel Gibson e a cantora americana Tina Turner à frente do elenco. Aliás, o Cinema I acabou não exibindo o clássico "Cidadão Kane", na semana passada, conforme havia sido previsto: a cópia enviada pela distribuidora estava em péssimo estado e em respeito ao público, João Aracheski, executivo de Fama, decidiu manter "Poltergeist - O Fenômeno", que assim completou nada menos que 4 semanas de reprise naquela casa.
Nem só de "Mad Max" vive o vigoroso novo cinema australiano. Um drama pungente, de especial apelo a pais e profissionais ligados a crianças excepcionais, teve uma semana de fraquíssima renda no Condor, mas, por decisão de Ticoon Paulo Fucs, da UIP, no Rio, permanece em cartaz, agora no Lido II: "Uma Razão Para Vier" (A Test Of Love).
Apesar de ter tido três pré-estréias promocionais, "Uma Razão Para Viver" não chegou ao público certo. É um filme para platéias especiais, já que mostra cenas chocantes, com mais de 70% de sua ação ambientada num hospital de crianças retardadas em Melbourne. Baseado numa história real ("Annie's Coming Out", de Rosemary Crossley e Anne McDonald), este pungente filme aborda o caso de crianças excepcionais, mas dotadas de inteligência, confinadas num estabelecimento dirigido com rigor mais incompetência. A luta de uma assistente social, Jessica Hathaway (Angela Punch McGregor) para conseguir retirar a pequena Annie (Tina Arhondis) do hospital, e lhe dar uma vida normal, chega a emocionar o público. Um filme que fala e uma realidade dura, amarga mas que não deve ser escamoteada. Uma obra para ser vista [especialmente] por pais de crianças excepcionais, assistentes sociais, professores e médicos.
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Uma estréia nacional: "Areias Escaldantes" (com o subtítulo de "Caravana do Delírio") é uma produção jovem: o diretor, Francisco de Paula, 22 anos, procurou montar uma ficção-política, embalada por grupos de rock e intérpretes na faixa dos 20/28 anos - Diogo Vilela, Regina Casé, Cristina Aché, Luiz Fernando Guimarães e Eduardo Roly. Em exibição no cine Italia, até a próxima quarta-feira.
LEGENDA : Angela Punch McGregor e a garota Anne McDonald num filme pungente sobre excepcionais: "Uma Razão Para Viver", No Cine Lido II.
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