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Aramis

Deus, como é belo o planeta!

Num filme sem diálogo, atores ou narração, o poder da imagem torna-se ainda mais importante do que em um filme dramático. A forma de koyaanisqatsi rompe com muitas das convenções pré-estabelecidas da cinematografia, e o processo técnico de produção de imagens, que finalmente apareceu nas telas, também é totalmente inovador. Muitos profissionais contribuíram para tornar Koyaanisqatsi uma festa para os olhos, sendo que um dos mais importantes foi Ron Fricke, responsável pela maior parte da cineraria. Para conseguir uma forma variada de efeitos, Fricke inventou seu próprio equipamento. Ajustando uma lente zoom de 16 mm numa câmera de 35 mm, Fricke criou um instrumento leve e portátil. Esta adaptação, segundo ele, "realçou as imagens do "organic footage", dando suavidade à curvatura natural da terra". Para as [seqüências] de "trimerlapse", ele criou um equipamento operado à bateria, que custou menos de mil dólares, usando peças do "Rádio Shack" e motores utilizados nas janelas de carros elétricos. Este equipamento permitiu que ele controlasse a velocidade da câmera, assim como as inclinações e a cavidade. Fricke também combinou técnicas de quadro-a-quadro ("timelapse") com exposições múltiplas. A cena da Bolsa de Valores foi filmada primeiro para diante, depois de trás para diante, depois para diante outra vez, dando uma qualidade fantasmagórica à atividade frenética. Numa longa tomada da cidade de Los Angeles ele conseguiu um curioso efeito de arqueamento de tempo através da tomada da mesma cena de dia e de noite. Assim vemos o [contorno] do tráfego noturno enquanto o céu de meio-dia ilumina os edifícios. A tomada espetacular da lua foi feita em "in-camera mat shot" (em câmera opaca, fosca). Fricke primeiro filmou um edifício iluminado à noite com uma lente 75 mm. Depois de enrolar o filme novamente ele alinhou um edifício totalmente escuro que encobriu a primeira exposição. Usando uma lente de telefoto de 500 mm ele filmou a lua com uma velocidade 2 vezes maior que a normal. O resultado é uma lua imensa, que aparece quase que maticamente e que faz com que o edifício pareça um anão, com o seu brilho poderoso e sobrenatural. A nuvens ondeadas e em redemoinho, tanto na metragem normal como sobre a cidade, foi uma contribuição de Louís Schwarzberg, especialmente. A companhia de Schwarzbergh em Los Angeles, a "Energy Productions", é especializada em fotografia em "timelapse". Suas danças de nuvens apareceram nos filmes de Altered States e Superman. "Faço uma força tremenda para orquestra meu trabalho, a fim de maximizar a beleza do que filme"" diz Schwarzberg, "esticando a melhor luz e comprimindo a luz menos interessante. É um processo de expansão e contração". Todas as suas nuvens em Koyaanisqatsi foram filmadas em terra, de um lugar bastante favorável. "Filmando em terra, em vez de dentro das nuvens, podemos vê-la se metamorfosearem", explica Schwarzberg. "Dá uma impressão de surrealismo". Muitas filmagens aéreas, incluindo as tomadas de movimento rápido frontal e panoramas de altitudes elevadas, forma uma contribuição da Mogillivray-Freeman, uma firma de Los Angeles especializada em fotografia aérea. Sob a direção de Greg McGillivray e Jim Freeman, a firma projetou seu próprio equipamento para conseguir uma qualidade etérea e flutuante nas imagens de vôo. Uma imensa câmera, montada sob o seu helicóptero foi especialmente projetada para reduzir a vibração e maximizar a flutuação da câmera para obter suavidade. Monitorando suas tomadas com vídeo, a equipe usa um sistema de controle remoto para operar sua câmeras. "É uma verdadeira ciência", diz Greg McGillivray. "Fiquei satisfeito em ver como nossas tomadas foram bem usadas em Koyaanisqatsi: mostra a perfeição, a graça de espírito em vôo que torna este tipo de fotografia muito excitante". O diretor Godfrey Reggio se aproximou do cineasta nova-iorquino Hillary Harris depois de ver Harris usar fotografia de "timelapse" em seu premiado filme de 16 mm, Organism. Reggio utilizou alguma metragem de Organism e fez com que Harris filmasse metragens adicionais da cidade também. "Calculei cada tomada matematicamente e esquematizei com antecedência", diz Harris, que usa um esquadro especial para extrapolar a percentagem de compressão do tempo. "É feito de forma que eu possa realmente ter certeza do resultado". Reggio também usou "stock-shots" (cenas de arquivo) de diversas origens (Nasa, "Control Demotion Inc.", etc...). Kathie Beatie, da "Gumshoe Research", de Los Angeles, passou mais de 350 horas pesquisando e obtendo metragens que corresponderam ao que Reggio desejava. "É como trabalho de detetive", diz Beatie. "Não há biblioteca central, nem banco de dados. Mantendo os meus olhos abertos eu vou 50 por cento da intuição". Os close-ups em "microchip", por exemplo, a iludiram até que ela percebeu um anúncio da "Western Eletric" na revista Time. A agência de propaganda indicou-lhe o microfotógrafo Philip Harrington, que forneceu os "stulls" em close-up que estão intercortados com as tomadas noturnas "computer-like" da cidade. A coordenação da montagem do filme foi do editor-chefe Alton Walpole. O trabalho de pós-produção levou quase três anos, incluindo tomadas adicionais, período em que a filmagem foi catalogada e dividida em unidades. "Tentamos manter toda a metragem de 16 mm em blocos", explica Walpole, "para que a diferença em qualidade entre esta e a de 35 mm não ficasse aparente". Walpole apresentou o problema de casar a metragem de 16 mm com a de 35 mm a Tom Edmond, da "Gamma Opticals", em Los Angeles. Edmond desenvolveu um método onde ele coloca molduras chaves em cromo e os projetou numa tela grande para comprá-los. Trabalhando junto com Walpole e com o co-editor Ron Fricke, Edmond pôde casar a saturação de contraste e côr o mais exatamente possível. Edmond desenvolveu um processo de "phase step-printing", que permitiu que ele fizesse sob medida o ritmo das imagens para as exigências da trilha sonora. Para manter a exposição constante em "dissolves", Edmond usou uma impressora controlada por computador, que ele desenvolveu em 1980. Sobre o realizador do filme e sem empenho com a equipe, Edmond disse: "Godfrey Reggio é um mestre em escolher pessoas criativas e dar a elas espaço para trabalhar. Geralmente filmes feitos por agrupamentos de pessoas não funcionam. Koyaanisqatsi funciona, e eu acho que é uma tremenda vitória".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Up-to-date
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24/11/1985

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