Cinema para ler - O primeiro filme de Glauber virou livro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de julho de 1988
A série "90 Anos de Cinema Brasileiro" (Rede Manchete, encerrada no último domingo) foi um verdadeiro curso de introdução ao cinema nacional, num belo trabalho dirigido por Roberto Feith e Eduardo Coutinho. Para encerrar, foi focalizado aquele filme que é, em nosso ponto de vista, o mais importante já realizado no Brasil: "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha (1939-1981), rodado entre 1963/64 e que foi o marco definitivo do Cinema Novo. Entretanto, foram mostradas também imagem dos primeiros curtas que Glauber realizou na Bahia e de seu primeiro longa "Barravento", iniciado em 1961 por Luis Paulino, mas que seria por ele concluído, com ajuda, na montagem , de Nelson Perera dos Santos.
"Barravento", premiado internacionalmente e que já revelaria a força criativa de Glauber, é um filme cercado de muitas histórias, algumas verdadeiras, outras fantasiosas. Por isto, uma das melhores contribuições que se proderia dar ao conhecimento da obra de Glauber é a publicação de "Barravento: a estréia de Glauber", de José Gatti (Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, 114 páginas).
Elaborado como dissertação de mestrado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em novembro/85, José Gatti trabalhou em cima de um filme-marco, entrevistando pessoas ligadas a sua realização e fazendo uma leitura detalhada das seqüências sobre os mitos africanos. O resultado foi um excelente trabalho crítico-informativo, que mereceu da parte do incansável Salim Miguel, diretor da Editora da UFSC, atenção para ser publicado há poucos meses. Galli é professor no Departamento de Comunicação da UFSC, em Florianópolis, e com sua tese - adaptada para leitura na forma de um ensaio agradável e de fácil comunicação - deu uma importante contribuição a bibliografia de nosso cinema. Um livro que, pelo conceito internacional que Glauber desfruta (há meia dúzia de livros a seu respeito já editados na Europa) por certo merecerá traduções.
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