Nelson Pereira no cinema e em livro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de setembro de 1987
Quando a jornalista Helena Salém se propôs a escrever um livro sobre um dos mais conhecidos e respeitados cineastas brasileiros - Nelson Pereira dos Santos - não imaginava que estava iniciando um projeto que lhe exigiria tanto trabalho. Profissional experiente, com 18 anos de jornalismo, Helena já vinha de calejadas experiências na imprensa internacional - como ex-correspondente de "Isto É", em Lisboa, em 1977/79 e tendo coberto para o "Jornal do Brasil" a "Guerra dos Sete Dias".
Ligada a editoria internacional do "Jornal do Brasil" e "O Globo", ex-correspondente de "O Expresso", de Lisboa, Helena Salém publicou "Palestina, os Novos Judeus" (Editora Eldorado, 1979, edição em Lisboa, 1981); "A Igreja dos Oprimidos" (1981, Editora Brasil Debate) e "O que é a Questão Palestina" (Coleção Primeiros Passos, Brasiliense, 1982) - além de centenas de reportagens e ensaios.
Ligada, entretanto, também a cobertura do setor de arte, especialmente de cinema brasileiro, para "O Globo", participação em vários festivais no Brasil e Exterior, Helena não entendia que um cineasta com a força e a fama de Nelson Pereira dos Santos, não tivesse um estudo de profundidade a respeito de sua vida e obra. Afinal, a bibliografia sobre cinema em termos mundiais é enorme, e nos EUA e Europa, raro o mês em que não aparecem novos títulos - enfocando realizadores, artistas, escritores, estilos e mesmo os grandes estúdios - revisitada em valiosíssimas obras referenciais.
Assim, Helena Salém se lançou a biografar Nelson Pereira dos Santos, num rastreamento que a levou a fazer mais de 80 entrevistas com pessoas que tiveram ligações com sua vida profissional, buscando todos os seus filmes - curtas e longas, remexendo em arquivos, enfim, conhecendo melhor do que ninguém a vida do realizador de "Rio, 40 Graus", que, há 33 anos, deflagraria o processo do chamado Cinema Novo.
- "Não foi fácil" - diz Helena, comentando as dificuldades para encontrar inúmeros dados para fazer uma obra com a seriedade que caracteriza seu trabalho profissional. Um filme de NPS, que todos julgavam perdido - "El Justicero", 1966, baseado em texto de João Bethencourt - acabou sendo até localizado nas pesquisas de Helena Salém, possibilitando sua restauração e inclusão na completa retrospectiva, organizada pelo Cine Clube Estação Botafogo, no Rio de Janeiro, e apoio da Cinemateca Brasileira / EMBRAFILME / MAM.
Neste sábado, às 19 horas, antes da projeção de "El Justicero" (Cine Groff, 20 horas, uma primeira sessão às 14 e 16), Helena Salém estará falando sobre o cinema do diretor de "Vidas Secas", dialogando com o público interessado em conhecer mais a seu respeito. Domingo, às 10,30 horas, na livraria Dario Vellozo (Fundação Cultural, Praça Garibaldi), Helena autografa "Nelson Pereira dos Santos - o Sonho Possível do Cinema Brasileiro" (Editora Nova Fronteira, 368 páginas, Cz$ 360,00), obra que, desde seu lançamento, em abril último, já vendeu mais de 20 mil exemplares.
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Nestes últimos cinco meses, apesar de seus compromissos profissionais - jornalista free-lancer na área cultural de "O Globo", trabalhando atualmente com o cineasta Eduardo Coutinho (diretor de "Cabra Marcado para Morrer", 1962-1984), e o jornalista Roberto Feith, numa série de cinco especiais sobre o cinema brasileiro (1906-1962), para a Rede Manchete, Helena Salém tem também se desdobrado para fazer conferências sobre Nelson Pereira dos Santos.
Afinal, a importância da obra de NPS fez com que a iniciativa de Helena em lhe dedicar um livro estimulasse os jovens dirigentes do Cineclube Estação Botafogo - hoje um dos mais ativos núcleos culturais do Rio de Janeiro - a levantarem recursos que permitissem a recuperação de toda a obra do cineasta. Animada com isto, a Manchete Vídeo também acaba de fazer algo inédito no Brasil: lançar todos os filmes, de um único cineasta, num pacote extremamente cultural e referencial, que já pode ser encontrado nas locadoras e mesmo adquiridos, separadamente, pelos fãs mais entusiastas do cineasta (Cz$ 2.200,00 a Cz$ 3.000,00 cada vídeo).
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Desde ontem, a retrospectiva Nelson Pereira dos Santos teve início no Cine Groff, com dois filmes por dia. Iniciou com dois filmes-marcos de NPS, partes de uma trilogia que ficou incompleta: "Rio, 40 Graus", lançado em 1955 - deflagrador do processo de renovação do Cinema Novo e "Rio, Zona Norte", 1957. Hoje e sexta-feira, serão mostrados "Mandacaru Vermelho", 1960 (14 e 20 horas) e "O Boca de Ouro", 1962 (16 e 20 horas).
Amanhã, finalmente, o mais famoso dos filmes de Nelson Pereira dos Santos: "Vidas Secas", 1962 (às 14 e 22 horas). "El Justicero" terá projeções às 16 horas e - antecedido da palestra de Helena Salém - às 20 horas.
LEGENDA FOTO - Nelson Pereira dos Santos: revisão da obra no Cine Groff.
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