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Nelson está nos bairros e ganha livro de Helena

A jornalista Helena Salem, d' "O Globo", acaba de entregar ao editor Sergio Lacerda, da Nova Fronteira, os originais de um livro que há muito se fazia necessário: um estudo sobre a personalidade e obra de Nelson Pereira dos Santos. Aos 58 anos, mais de 30 de cinema, legítimo precursor do Cinema Novo a partir de "Rio Quarenta Graus" (1954), Nelson tem uma obra integra, consciente e profundamente política. Ainda agora, trabalha na finalização de "Jubiabá", novo mergulho na literatura de Jorge Amado, que possivelmente estará no festival de Cannes-87. Mais de 80 entrevistas com pessoas ligadas a Nelson e sua carreira, longuíssimos depoimentos com o próprio, revisão de todos seus filmes - inclusive os curtas, chegando até a descobrir alguns dos quais se julgava perdidos, deram condições a Helena de produzir um estudo substancioso, que se vem acrescentar a seus outros trabalhos - sempre de vertentes jornalísticas. Um deles, sobre a presença e ação da igreja numa das regiões mais tensas do País, Conceição do Araguaia, no Sul do Pará, transformou-se num longa metragem, co-dirigido com Jorge Bodanski; "A Igreja dos Oprimidos", até agora com poucas exibições. Ao lado de "A Igreja da Libertação", média de Silvio Da-Rin, e o ainda inédito "Deus é um Fogo", em que Geraldo Sarno, enfoca a transformação da Igreja na América Latina, forma um tripé atual, mostrando os novos tempos da religião frente ao social. xxx Uma das idéias de Helena Salém, jornalista presente sempre nos grandes eventos cinematográficos, é organizar um ciclo retrospectivo de Nelson Pereira dos Santos, para levar a várias cidades quando a Nova Fronteira lançar o livro. Por coincidência, em Curitiba, neste mês de novembro, Francisco Alves dos Santos, coordenador da área de cinema da Fundação Cultural,organizou um Ciclo Nelson Pereira dos Santos, com quatro de seus mais interessantes filmes - "Rio, Zona Norte" (1957), "Como Era Gostoso o Meu Francês" (1971), "Tenda dos Milagres" (1977) e "Na Estrada da Vida" (1980), dentro do projeto "Cinema nos Bairros". Aliás, desde sua implantação, no primeiro semestre do ano passado mais de 50 mil pessoas assistiram aproximadamente 100 filmes - 60% dos quais nacionais - nos dois circos volantes da Fundação Cultural, clubes e associações de bairros. Todas as noites, uma kombi da fundação, leva o projetor em 16mm, operado por Cesar Boamorte, 24 anos, na periferia. A idéia de levar cinema ao povo não é original, mas a regularidade da promoção e o bom gosto na seleção fazem com que esta promoção se consolide cada vez mais. Só em 1986, mais de 30 mil filmes, entre os quais os ciclos Humberto Mauro, e Charles Chaplin. após esta mostra do cinema de Nelson Pereira dos Santos, em dezembro serão projetados nos bairros alguns filmes de Glauber Rocha (1938-1981). O importante é que a população tem recebido bem - inclusive obras de cineastas considerados herméticos, como o sueco Ingmar Bergman, numa demonstração de que se deve oferecer às camadas mais humildes produtos de boa qualidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
19/11/1986

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