No campo de batalha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de outubro de 1987
Revelação de Betse de Paula, realizadora do bem humorado curta "SOS Brunet", que teve entusiásticos aplausos do público pela forma com que conta as desventuras de dois jornalistas, presos no elevador do prédio em que mora a modelo Luiza Brunet, quando iam entrevistá-la: apesar dos requintes de produção o filme custou baratíssimo. "Só tive que pagar os negativos e o laboratório, com a grana na venda do carro do meu irmão" diz a jovem realizadora, que agora parte para o segundo curta, "Outra Vera", com Fernanda Torres. "Só que neste, os amigos vão cobrar, o que não aconteceu em "SOS", onde os atores Carlos Gregório e Antônio Pedro, o músico Sérgio Sarraceni, e demais integrantes foram numa boa, na base da camaradagem".
Fred Confaloniere, em compensação, gastou Cz$ 1.200.000,00 para o seu também divertido curta "Churrascaria Brasil", que como o filme de Betse, tem requintes de superprodução. Agora, Fred viabiliza a produção do longa-de-estréia, com título tirado de uma música de Jorge Ben: "Mas Que Nada!".
Durante a mesa redonda sobre a música no cinema, o jornalista Germano Gustavo Jacobs, de "A Notícia", de Joinville, quis saber os compositores favoritos dos expositores. Sérgio Ricardo e Pena, saíram pela tangente. Paulo Sérgio Sarraceni, não teve dúvidas: enumerou Nino Rotta, Bernardo Hermann - já falecidos - e John Williams entre os que mais admira.
Em sua forma brasileira e até radical de fazer colocações, Sérgio Ricardo disse que se faz no Brasil a melhor música para o cinema no mundo - só que limitada pelas condições técnicas e orçamentarias. O maestro Remo Usai, que nos anos 50 foi discípulo (e amigo) de Miklos Rosza, um dos grandes mestres da música no cinema americano, fez uma explanação mais ampla - reconhecendo a importância de maestros e compositores como Max Steiner, Victor Young, Leonard Bernstein, Michel Legrand, entre tantos outros.
Queixa unânime dos compositores que trabalham para o cinema: o pagamento de meia entrada por sessão, que caberia ao autor da trilha sonora, jamais foi cumprido. Se fosse, Sérgio Sarraceni, que entre suas 18 trilhas sonoras fez a do filme "Os Trapalhões e o Rei do Futebol" estaria hoje com uma bela conta bancária: afinal só este filme teve mais de 4 milhões de espectadores.
Sarraceni tem três trabalhos em filmes inéditos: "Amor Vagabundo", de Hugo Carvana; "Banana Split", de Paulo Sérgio Almeida (que iria concorrer em Brasília, mas foi cancelado) e "Natal da Portela", que seu tio, Paulo César Sarraceni, está finalizando em Paris.
Confissão de Sérgio Ricardo: a música que fez para "Deus e o Diabo na Terra do Sol", talvez o tema mais conhecido do cinema brasileiro, foi desenvolvido numa noite por insistência de Glauber Rocha. Gravou num precário aparelho, só com voz e violão, e Glauber, em sua rapidez baiana, não quis nem esperar a finalização: usou em bruto. O resultado, na tela ficou perfeito. E a música de Sérgio, com letra de Glauber - e a força das imagens, deram ao clássico do Cinema Novo uma dimensão eterna.
LEGENDA FOTO - "Churrascaria Brasil": um curta comunicativo e com bom humor.
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