Remo Usai, o homem das muitas trilhas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de outubro de 1987
Sérgio Sarraceni, autor de trilhas sonoras de filmes como "Anchieta José do Brasil" (realização de seu tio, Paulo César) e "Baixo Gávea" (de Haroldo Marinho Barbosa) ficou feliz ao saber que um de seus colegas da mesa-redonda sobre "A Música no Cinema Brasileiro" (auditório Brasílio Itiberê, hoje, a partir das 10 horas) seria o compositor Remo Usai. Afinal, para quem se interessa pela música no cinema o nome de Remo Usai merece o maior respeito. Aos 59 anos, este filho de imigrantes brasileiros, formado pela Escola Nacional de Agronomia da Universidade Rural na turma de 1953, mas que trocou a carreira de agrônomo pela de músico, vem produzindo trilhas sonoras para dezenas de longas, médias e curtas-metragens.
Pela primeira vez, Remo Usai sentar-se-á ao lado de colegas mais jovens - como Sarraceni, o mineiro Tavinho Moura e Pena Filho, que, cada vez mais vem se dedicando a criar bandas sonoras para nossos filmes. Sérgio Ricardo, 55 anos, músico, compositor e cineasta, autor da trilha de um clássico do cinema brasileiro ("Deus e o Diabo na Terra do Sol", 1963, de Glauber Rocha), também cineasta ("Menino da Calça Branca", "Esse Mundo é Meu", "Juliana do amor Perdido", "A Noite do Espantalho"), estará presente neste encontro, inédito em termos de propostas musicais, que se realiza hoje em Curitiba.
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Desde 1958, quando fez a música para "Pega Ladrão", Remo Usai não parou mais de ser solicitado para fazer música para o cinema. Afinal, foi o primeiro maestro e compositor a se especializar na arte de fazer música para ilustrar sonoramente as imagens, com curso na UCLA, em Los Angeles e estágio, entre outros mestres, com Miklos Rozsa, um dos mais conhecidos autores do cinema americano. Nos EUA, como defesa de tese, Usai fez a música para o documentário "Chicken's Fram", e, mais tarde, criou a sound track para outro filme americano, "Men of Brazil", dirigindo a orquestra de David Rose (e tendo como spala o violonista Israel Backer que na época participava do quarteto Heifetz).
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Na longa filmografia de Remo Usai - são mais de 150 títulos, entre longas e curtas (sem contar sua colaboração na televisão e no cinema publicitário, estão momentos marcantes do Cinema Novo - como a trilha para "Mandacaru Vermelho", de Nelson Pereira dos Santos, bem como dos filmes do chamado "ciclo baiano" - com "A grande Feira" e "Tocaia no Asfalto" de Roberto Pires. Para Nelson Pereira dos Santos, Remo voltaria a musicar sua versão de "O Boca de Ouro", em 1963, enquanto Roberto Farias recorreria ao seu talento para a trilha de "Assalto ao Trem Pagador".
Só entre 1958/70, Remo fez a trilha para 53 longas metragens.
Infelizmente, dentro da pobreza na fonografia de trilhas sonoras do cinema brasileiro, apenas quatro dos filmes que musicou tiveram edições em elepês (hoje raridades): "Mandacaru Vermelho", "Boca de Ouro", "Pega ladrão", e "Pistoleiro Bossa Nova".
Trabalhando em seu próprio estúdio, Remo Usai continua a ser requisitado para criar e gravar trilhas para filmes e também comerciais, além de projetos especiais. Nos últimos anos, entre os filmes que musicou estão "Consórcio de Intrigas", "O Caso Cláudia" e "As Aventuras da Turma da Mônica".
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Duas ausências lamentadas no encontro dos músicos de cinema: Francis Hime, que a exemplo de Edu Lobo, fez curso sobre trilha sonora também em Los Angeles - e que não pode aceitar o convite porque se encontra fazendo shows no Nordeste. Já o paranaense Arrigo Barnabé, autor de várias trilhas sonoras, viajou para a Bélgica, onde "Cidade Oculta" (do qual é autor, co-roteirista e compositor da trilha sonora) concorre num festival que tem uma premiação especial para trilha sonora.
Compositores paranaenses ou aqui radicados - como Marinho Galera, Paulo Chaves, Alecir de Antonina, Reinaldo Galera, que se dedicam a criação de trilhas sonoras, especialmente para trabalhos comerciais (na impossibilidade de fazerem musicais para os nossos inexistentes longas) também foram convidados para o debate desta manhã, que terá, por certo, muitas revelações interessantes sobre este aspecto tão importante - mas até hoje esquecido da realização de um filme: a música.
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