Os homens que fazem a música do cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de outubro de 1987
Qual a importância da música na trilha sonora de um filme? Como tem sido a evolução musical em nosso cinema? A questão dos direitos autorais no cinema? As relações entre compositores, instrumentistas e os realizadores?
Questões como estas - nunca discutidas entre os maiores interessados, ou seja, os autores de trilhas sonoras, serão levantadas, pela primeira vez, em Curitiba. A mesa-redonda sobre "A música no cinema brasileiro" (dia 7, 10,30 horas, auditório Brasílio Itiberê da Secretaria da Cultura) representa um encontro de alguns compositores que se dedicam a fazer música do cinema - desde o jovem Pena Filho, autor da imaginativa trilha para "Fronteira das Almas" (de Hermano Penna, a ser exibido às 20 horas do dia 6, Lido I) até o veterano Remo Usai, 59 anos, que já compôs trilhas para 80 longa-metragens e mais de 100 curtas-metragens. Arrigo Barnabé, paranaense de Londrina, autor das trilhas de "Vera" e "Cidade Oculta" (na qual é também ator e roteirista) não pode confirmar sua presença, pois estará num festival de cinema da Bélgica, na qual "Cidade Oculta" concorre.
Em compensação, aqui estarão outros compositores importantes: o mineiro Tavinho Moura premiadíssimo pelas trilhas que fez para "Cabaré Mineiro" e "Noites do Sertão", de seu conterrâneo Carlos Prates; Sergio Sarraceni, que embora jovem já tem uma respeitável filmografia - incluindo "Baixo Gávea", de José Marinho Barbosa, Sergio Ricardo, compositor, cantor, cineasta - autor de uma das trilhas sonoras mais perfeitas do cinema brasileiro - "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha, em 1963, ele próprio diretor e compositor das trilhas de seus filmes "Meninos da Calça Branca", "Esse Mundo é Meu", "Juliana do Amor Perdido" e "A Noite do Espantalho".
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Compositores e instrumentistas do Paraná que tem participado da criação de trilhas sonoras para curtas-metragens, documentários e mesmo comerciais (inclusive em vídeo), como Marinho Galera, Reinaldo Godinho, Paulo Chaves e tantos outros também estarão presentes nesta reunião que, pela primeira vez, levantará questões atuais relacionadas a um dos aspectos mais importantes da criação cinematográfica.
A trilha sonora sempre foi de fundamental importância para o resultado final de um filme. Seja através de temas de diferentes autores, reunidos por um produtor musical, seja uma obra unificada, de um único compositor. Historicamente, inexistem estudos sobre a musica no cinema brasileiro - aliás, uma das razões pelas quais propusemos que um dos itens do concurso Lucio Rangel de Monografias, edição 1987, promovido pelo Instituto Nacional de Música/Funarte, fosse sobre este tema - tão carente de estudos. Pouquíssimas trilhas musicais de filmes brasileiros foram preservadas em discos (ao contrário do que acontece no Exterior), de forma que, com isto, se perderam excelentes trabalhos - desde Radamés Gnatalli (que, se não estivesse gravemente enfermo seria convidado de honra desta reunião) até trilhas que Edu Lobo e Francis Hime criaram para filmes recentes.
Remo Usai, maestro, regente e compositor, autor de uma obra imensa, é praticamente desconhecido do grande público, embora sua música tenha emoldurado centenas de filmes a partir dos anos 40. Sua presença em Curitiba se constitui numa homenagem aos autores de sua geração, raramente reconhecidos em seu trabalho. O maestro Lindolfo Gaya, falecido no dia 14 de setembro último, aos 66 anos, também, fez muita música para o cinema (em Curitiba, há 4 anos, musicou "O Foguete Zé Carneiro", de Berenice Mendes), razão pela qual, na noite de hoje, quando da abertura da Mostra, no palco do cine Lido, sua viúva, a cantora Stelinha Egg, receberá uma homenagem. Também estarão sendo homenageados os pioneiros do cinema paranaense: Aníbal Requião, João Baptista Groff, Vladimir Kosak e Eugenio Felix, já falecidos - e o montador Mauro Alice. Além do pioneiro da crítica cinematográfica entre nós, o veterano Armando Ribeiro Pinto.
LEGENDA FOTO - Gaya: homenagem póstuma.
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