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Tigipió: um Nordeste sem emoção

O nordeste, tão cantado em versos e prosas e conhecido dos filmes de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, mais uma vez aparece nas telas do cinema. Tigipió, o filme que passa hoje às 20 horas no Lido I, dentro da programação da I Mostra de Cinema Latino Americano do Paraná, para alguns serve como um grito político, que mais uma vez denuncia a situação daquele povo. Para outros, é uma história envolvendo a caipirinha da região com o fino engenheiro da cidade grande. Tigipió, na verdade, é um fruto cor de ouro do Nordeste, que assim como serve para saciar a fome do sertanejo, pode também se transformar em veneno mortal, segundo a crença popular, se ingerido em demasia. E, sob este ângulo é que fielmente acontece a história. Ficção e documentário, Tigipió consegue misturar a realidade da seca do nordeste, o sertão e suas leis de vida, sem deixar esquecer suas paisagens, a terra arada, as árvores típicas e até mesmo a chuva, com a fantasia de uma história de amor. "O filme é seco, silencioso e digno, assim como é a seca, silenciosa e digna a vida do nordestino", diz a atriz Regina Dourado, como que resumindo a história de Tigipió. Um filme que mostra sem constrangimentos as rachaduras da terra árida, e se preocupa intensamente com as emoções do povo que vive neste sertão, enraizado por suas leis e comportamentos próprios. "A escolha de Tigipió não foi uma opção, expressão de liberdade: sinto-o como compromisso irrecusável com o meu mundo inicial e próximo", diz o cearense Pedro Jorge de Castro, diretor e roteirista junto com Carlos Alberto Raton. Neste seu compromisso com o Nordeste o conto Tigipió de Herman Lima surgiu como argumento para este seu primeiro longa-metragem. Desde que foi realizado, na virada de 84 para 85, o filme já percorreu vários festivais no Brasil ou exterior, ganhando vários prêmios: Dom Quixote, da Federação Internacional de Cine Clubes da Suiça; Troféu Candango para B. De Paiva, como melhor ator coadjuvante, no XVIII Festival de Cinema Brasileiro: Pierre Kast, da Cinemateca Francesa e prêmio Gran Coral no 7º Festival Del Nuevo Cine Latino Americano, em Havana para José Dumont, como melhor atuação masculina. A sua procura, como o próprio Pedro Jorge diz, da naturalidade do nordestino, seu espaço, temperatura, cheiro e sensações epidérmicas fluem naturalmente para o espectador, que sente na história e nos personagens esta preocupação. A história acontece no Ceará, em 1919, na cidade de Itaiçaba, a 150 quilômetros de Fortaleza, onde nada precisou ser modificados para se transformar em cenário da trágica história de amor envolvendo Matilde (Regina Dourado), filha de um coronel falido (B. De Paiva) com o engenheiro Heitor (José Dumont), enviado pelo governo para abrir uma frente de trabalho no local. Enquanto Matilde é a moça ingênua que vive apenas para atender o solitário e áspero coronel, Heitor é o moço fino, que nasceu em Fortaleza, mas se formou no Rio e agora comanda as obras de uma pedreira temporária da região, servindo como garantia de trabalho aos filhos da seca. Heitor convida o coronel para ser o feitor das obras e Matilde, longe da vigilância do pai, vive um caso de amor com o engenheiro. De repente uma chuva torrencial chega àquela região, fertilizando a terra. Ao mesmo tempo, Matilde, assim como a terra, fica grávida, mas não encontra o apoio de seu companheiro. Diante desta situação, o final da história fica à encargo de seu pai, o coronel empobrecido e tomando pelos comportamentos e tradições nordestinas. "É simplesmente a realidade nordestina vista com emoção", dizem os que vêem Tigipió, o encontro da vida-morte, paixão-tabus, amor e proibições. LEGENDA FOTO - José Dumont e Regina Dourado, personagens de Tigipió.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
1
07/10/1987

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