"Louisiana", a estréia nas águas de "E o Vento Levou"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de outubro de 1986
Três estréias e uma reprise tão especial que tem sabor de novidade acrescentam-se aos bons programas que continuam em exibição. Assim, a temporada cinematográfica continua apetitosa, com opções para todos os gostos.
Uma superprodução franco-canadense ao estilo de "...E o Vento Levou" - o há muito aguardado "Louisiana" (cine Luz), um novo festival de violência em "Comando Delta" (cine Vitória), o inventivo "Por Incrível que Pareça", de Uberto Tolo (Lido II) e o retorno de "A Dama das Camélias" (cine Groff) - entre as novidades.
Dois dos melhores filmes do ano - os magníficos "A Cor Púrpura" de Steven Spielberg (cine Itália) e "Hannah e suas Irmãs", de Woody Allen (Plaza) continuam em cartaz, assim como "Karatê Kid II", de John G. Avidsen (agora no Cinema I), "Ases Indomáveis", de Tony Scott (Condor), "9 1/2 Semanas de Amor", de Adrian Lyne (Astor), "Invasão dos Estados Unidos" (USA), de Joseph Zito e a dupla dose de Fernanda Torres: como a caipira Carula do delicioso "A Marvada Carne", de André Klotzel (São João) e a rebelde Eliane Maciel em "Com Licença, Eu Vou à Luta", de Lui Farias (Ritz). Enquanto o curioso "Os 7 Suspeitos", de Jonathan Lynn continua no Lido I, no Lido II, estréia o nacional "Por Incrível que Pareça", de Uberto Tolo - que amanhã, em nossa coluna "Tablóide", merecerá registro maior.
NAS ÁGUAS DO VENTO - Desde 1939, quando Darry F. Zanuck realizou o mais famoso filme da história do cinema americano - "...E o Vento Levou", que o old south tem sido revisitado por outros produtores, na tentativa de reeditar a saga de Butler e Scarlett O'Hara.
Uma ativa dupla de produtores franceses, John Kemeny e Dennis Heroux, reunindo capitais de várias fontes, levantaram quase US$ 30 milhões para transpor à tela o romance "Louisiana", de Maurice Denuziere.
Rodado a patir de março de 1984, "Louisiana" tem uma história de lances épicos, cobrindo mais de três décadas no século XIX, e focando a garra de uma bela e ambiciosa mulher, Virgina Tregan (Margot Kidder), que embora apaixonada por um atlético galã, Clarence Dandridge ((Ian Charleson), acaba se casando com um rico fazendeiro, o marquês Damvilliers (Lloyd Bochner). "Louisiana" foi dirigido por Philipe De Broca, 53 anos, cineasta ligado ao pessoal da Nouvelle Vague e que alcançou seus maiores êxitos em comédias como "O Gozador" (61), "Cartouche" (62, com Jean Paul Belmondo, no auge de sua fama), "O Homem do Rio" (63, rodado no Brasil) e, especialmente "Este Mundo é dos Loucos" (Le Roi de Coeur, 66), recentemente reprisado na televisão.
Broca tem segurança suficiente para fazer bons filmes e isto credencia esta produção ambiciosa, com trilha sonora do excelente pianista e compositor de jazz Claude Bolling (um dos maiores divulgadores do ragtime na Europa) e com um elenco interessante. Margot Kidder, na ambiciosa personagem Virginia, é uma atriz já conhecida pela sua presença como Lois Lane na série "Superman", bem como em "Irmãs Diabólicas", de Brian de Palma, entre outros filmes. Ian Charleson foi o escocês presbiteriano que correu em nome de Deus em "Carruagens de Fogo" e, posteriormente, encarnou Charlie Andrews no premiado "Gandhi" de Richard Attenborough. Andrea Ferreol - a "Mignette" - se destacou no excelente "A Comilança" (premiada, inclusive, com vários troféus) e tem atuado bastante em filmes italianos e franceses (como "Stelle Sulla Cittá" e "Balles Perdues", inéditos no Brasil). Já Lloyd Bouchner, o Marquês Damvilliers, será reconhecido por quem acompanha o seriado "Dinastia", onde ele tem uma atuação de destaque.
DUMAS REVISITADO - Poucos romances têm sido tão aproveitados como "A Dama das Camélias", de Alexandre Dumas, Filho. A versão cinematográfica mais famosa é aquela que George Cukor (1899/1983) realizou há exatamente 50 anos passados, com Greta Garbo como Camille, ao lado do garboso e estreante ator Robert Tylor. Inúmeras outras versões se sucederam do trágico amor da cortesã doente e seu apaixonado poeta, numa love story ambientada entre bordéis de alta classe e camarins de grandes teatros.
Conseguir dar uma nova dimensão a uma história tão conhecida e desgastada era um desaforo, mas o eclético e trabalhador Mauro Bolognini, 63 anos, o aceitou. Retrabalhando na história, com um roteiro rejuvenescido (no qual colaboraram Enrico Medioli e Jean Aurenche), invertendo a ação de certos personagens e, sobretudo, reunindo um elenco internacionalmente admirável - a francesa Isabelle Huppert, o italiano Gian Maria Volonté, o alemão Bruno Ganz e o espanhol Fernando Rey - "A Dama das Camélias", na versão 1980, de Bolognini, faz com que se aplauda esta nova visão de uma história kitsch da literatura francesa. Uma belíssima fotografia (de Ennio Guarnieri) em cores, excelente trilha sonora, (de Ennio Morricone), montagem dinâmica. Enfim, todos os elementos para dar ao espectador um filme inteligente e admirável. Já exibido em Curitiba, há 4 anos, passou, entretanto despercebido - e retorna agora, com condições de emplacar várias semanas em cartaz se houver inteligência dos programadores da Fundação Cultural em mantê-lo em cartaz no cine Groff.
A VIOLÊNCIA DE CHUCK - Desbancando até Sylvester Stallone no ranking da violência cinematográfica, Chuck Noris está em dupla dose nas telas. Enquanto é o super-herói da democracia americana na defesa dos Estados Unidos no ataque dos selvagens russos, no filme em cartaz no Palace Itália, está também na cabeça do elenco de "Comando Delta", dirigido por Menahem Golan - um dos proprietários da Connan, que estreou no Vitória. Com um elenco até que apreciável - com veteranos como Lee Marvin, Martin Balsan, Joey Bishop e George Kennedy - "Comando Delta" rendeu tanto que a Cannon já realizou uma continuação. A história já foi vista e revista dezenas de vezes: o seqüestro de um avião por terroristas.
CINEMA ESPECIAL - Amanhã, à meia-noite, no Astor, haverá a pré-estréia de um dos mais importantes filmes do ano: "Mishima - Uma Vida em Quatro Capítulos", de Paul Schrader. Produção de Francis Ford Coppola e George Lucas, este filme vem provocando grande polêmica e merecendo especial atenção do público exigente.
Inspirado na vida do romancista japonês Yukio Mishima (Kimitaki Hiraoka), que se matou, de forma dramática, aos 45 anos, em 29 de novembro de 1970, o filme de Schrader fez com que aumentasse o interesse pela sua obra - estimulando traduções em português ("O marinheiro que perdeu as graças do mar", "Sol e Aço", "Neves da primavera", entre outros lançamentos recentes). A trilha sonora é de Philip Glass, o papa da música minimalista - que começou a se tornar conhecido no Brasil a partir de seu trabalho sonoro para o encantador "Koyaanisqatsi" (1982/83, de Godfrey Reggio).
Programado para estrear no Cinema I, na última quinta-feira, "Mishima" teve adiado seu lançamento. Trata-se de um filme importante, difícil até certo ponto mas que pode atrair uma faixa especial de público. Sua pré-estréia numa sessão da meia-noite, habitualmente freqüentada por um público semi-analfabeto, em busca apenas de sexo e violência, é um risco. Seria muito melhor se houvesse uma pré-estréia com convites dirigidos, para uma faixa de espectadores capazes de melhor entender esta obra série e digna. Enfim...
O Lido I também passa a promover sessões da meia-noite aos sábados, com pré-estréias de filmes da UIP. Amanhã, será apresentado "Curtindo a vida adoidado", com lançamento normal para breve em Curitiba. Nas próximas semanas estarão programados "Perigosamente juntos" (25), "Fábrica de loucuras" (1º), "Veia de campeão" (8) e "A morte pede carona" (8).
No Groff, amanhã à meia-noite e domingo às 10h30min, mais uma projeção de "Monty Python", de Terry Jones e Terry Ghilliam - uma demolidora comédia com o irreverente grupo inglês. No Luz, domingo, às 10 horas, "Os Trapalhões na Serra Pelada", de J.B.Tanko.
LEGENDA FOTO - Margot Kidder - que já foi a namorada do Superman - é agora uma ambiciosa sulina em "Louisiana", uma superprodução franco-canadense em exibição no Luz.
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