Login do usuário

Aramis

"A Cor Púrpura", melhor lançamento da temporada

Afinal o ministro Paulo Brossard, da Justiça (?), acabou reeditando os tempos do mais negro autoritarismo da ditadura que ele, então um corojoso e atuante oposicionista tanto combateu, e exigiu cinco cortes de "Stallone/Cobra". Independente dos aspectos estéticos do filme - particularmente o classificamos como uma mediocridade total, indigno inclusive do talento de George Pan Cosmatos (que no ano passado já fez obras comercialmente mais toleráveis, inclusive "Rambo II: a missão") - a forma como o governo agiu, reeditando a ação censória que, poucos meses antes, vetou "Je vous salue, Marie" de Godard, é condenável em todos os aspectos. Cortando em 5 seqüências, o que era ruim ficou pior e o estúpido roteiro do próprio Stallone (baseado no romance "Fair game", de Paul Gosling) se tornou ainda mais idiota. E como o público, mesmo o que gosta deste gênero de cinema, não é tão idiota assim, a renda começou a cair, de forma que "Cobra" sem o veneno que assustou Brossard agora é uma inofensiva minhoca cinematográfica, de tão pouca atração que João Aracheski, da Fama Filmes, decidiu nem transferí-lo para outro cinema. Para compensar o corte da carreira de "Cobra" - que já havia rendido só no Vitória, mais de Cz$ 1.200.000,00 em 25 dias - a Warner fez o lançamento nacional, ontem, do interessante "Karate Kid II - a hora da verdade continua", com os mesmos atores centrais - Ralph Macchio, Noriyuki "Pat" Morita - e direção (o talentoso John G. Avildsen) e compositor da trilha sonora (Bill Conti) que, há dois anos, realizaram "Karate Kid", indicado inclusive ao Oscar de melhor ator coadjuvante - mas o japonês Pat Morita perdeu para o cambojano Haing S. N'gor ("The Killing fields"). Assim, embora seja uma seqüência a um filme de sucesso, "A hora da verdade continua" tem dignidade em sua realização e mesmo a abordagem que faz das lutas marciais não é apenas na linha da violência gratuita, característica de milhares de filmes que os estúdios de Hong Kong e adjacências vem despejando, há anos, nos cinemas ocidentais. Lançado com boa promoção no Cine Vitória, "Karate Kid II" deve ter uma boa carreira comercial, atingindo um público extenso - já que a censura é de 10 anos e, espera-se, que o ministro da Justiça não venha também querer censurar esta produção. O filme/emoção do ano Já em exibição, desde ontem, no Astor, aquele que seguramente estará entre os 10 melhores filmes do ano: "A Cor Púrpura", que o próprio realizador Steven Spielberg considera como sua primeira "realização para o público adulto". Emocionante, sincero, profunda transposição à tela do romance de Alice Walker (edição no Brasil da Marco Zero), com uma esplêndida trilha sonora de Quincy Jones (albúm duplo, editado pela WEA), "The color purple" foi o grande injustiçado na festa do Oscar 86: com 11 indicações (menos para Spielberg, como diretor) saiu sem nenhuma premiação. E embora o grande premiado da noite ("Entre dois amores/Out of África", de Sidney Pollack, 8 Oscar) tenha grandes méritos, ignorar a perfeição do roteiro de Mennon Meyjes, a fotografia antológica de Allen Daviau, trilha sonora de Jones e, especialmente, as magníficas interpretações de Whoopi Goldberg (que perdeu como melhor atriz para Geraldine Page), Margaret Avery e Oprah Wiinfrey (indicadas ao Oscar de coadjuvante, perderam para Jo Angelica Huston) foram, no mínimo, pecados capitais dos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Já falamos há um mês, em página especial do Almanaque dominical sobre "The color purple" e, por sua importância voltaremos, em outras colunas, a abordar este filme maravilhoso - a grande estréia da temporada e merece ficar semanas em cartaz. Vamos ver se o público curitibano saberá prestigiar este Spielberg adulto, da mesma forma que adorou suas obras anteriores ("-Tubarão", "Encontros imediatos do terceiro grau", "ET", "Caçadores da arca perdida" e "Indiana Jones"). Grito Ecológico José Frazão, estreante no longa-metragem com "Vento Sul", obra realizada há quase dois anos mas ainda inédita comercialmente, decidiu fazer o lançamento nacional deste seu filme-denúncia sobre agrotóxicos em Curitiba, aproveitando a motivação aqui existente em torno de campanhas preservacionistas. Assim, para atrair uma platéia consciente em termos de defesa do meio ambiente, Frazão está na cidade há dois dias, onde, ajudado por Chico Alves e Dinah Pinheiro Ribas, da Fundação Cultural, faz tudo o que é possível para que haja público nas sessões do Ritz, onde "Vento Sul" - já levado (e até premiado) em mostras internacionais de cinema - estará em exibição até a próxima quarta-feira, passando, depois para o Luz. No elenco, duas boas atrizes da nova geração - Denise Bandeira e Maria Padilha. Com a estréia de "Vento Sul", a carreira de "O beijo da mulher aranha", de Hector Babenco, foi cortada. Esperava-se que este filme que deu a William Hurt os dois principais prêmios como ator (Cannes e o Oscar), tivesse melhor público neste relançamento, mas, pelo visto, esgotou sua potencialidade na longa permanência que fez entre o Palace Itália e o Itália, no primeiro semestre. Em compensação, no Luz continua o excelente "A hora da estrela", de Suzana Amaral e no Groff, "A bela tarde", de Buñuel, com Catherine Deneuve no auge de sua beleza. "Com licença eu vou à luta" de Lui Farias, com sua esposa Fernanda Torres na personagem biográfica da escritora Eliana Maciel - várias premiações no Festival de Gramado e sucesso de bilheteria no Rio e São Paulo - tem hoje à noite uma badalativa pré-estréia, antecipando seu lançamento normal na próxima quinta-feira, no Ritz (o que significa que o "Vento Sul" não terá segunda semana naquela sala). De certa forma, o tema de "Sinal de perigo" (Warning Sign), de Hal Barwood - discreto lançamento de ontem, no Plaza - tem algumas semelhanças com "Vento Sul", ao denunciar os perigos que o mundo corre devido às "pesquisas" científicas que ameaçam o futuro da humanidade. Obra de um diretor estreante, Barwood, mas que se desenvolveu fazendo roteiros competentes, e um elenco de nomes também pouco conhecidos - Sam Waterson ( foi visto em "Os gritos do silêncio", inclusive indicado ao Oscar de melhor ator e apareceu em "Interiores" de Allen), Kathleen Quinlan ("No limite da realidade", "O último inverno") e Yaphet Rotto - este "Sinal de Perigo" merece visão atenciosa nesta semana. Enquanto o ficção-científica "Força sinistra" de Tobe Hooper (o diretor de "Poltergeist", que continua no Lido 1) volta no São João, outras continuações marcantes: "Ran", de Kurosawa, mesmo sem som dolby, no cinema 1 e para quem busca a simples diversão, "As minas do Rei Salomão", J. Lee Thompson (Palace Itália), "Loucademia de Polícia 3: de volta ao treinamento" (Itália), "ET", de Spielberg (Condor) e "A garota de rosa schocking", de Howard Deutch (Lido II), continuam em exibição. No circuito extra, a Cinemateca programou para este fim de semana, a oportunidade dos mais jovens conhecerem um interessante "filme noir" que Roman Polanski rodou na França, há 20 anos ("Armadilha do destino/Cul de Sac", com a falecida Françoise Doleac, irmã de Catherine Deneuve) - em exibição sábado e domingo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
05/09/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br