A Dança dos Bonecos e o excelente humor de Whoopi
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de julho de 1987
Os filmes destinados às crianças continuam chegando. Nesta semana, o aguardado "A Dança dos Bonecos", de Helvécio Ratton, premiado em Giffoni (Itália), Brasília e Gramado - e que, em termos de cinema destinado à infância representa, sem dúvida, um passo à frente.
Uma comédia agradável e que se incorpora ao chamado "cinema informático" - ou seja, aquele no qual o computador se insere na trama, estreou ontem no Plaza, substituindo a "De Volta Às Aulas": SALVE-ME QUEM PUDER, com uma atração especial - Whoopi Goldberg.
No mais reprise e continuações. Fora do circuito comercial, teremos os curtas e médias metragens exibidos paralelamente a 21ª Jornada dos Cineclubistas, que terá temperatura elevada - já que a política internacional e muitos "ismos" radicais preocupam hoje mais os dirigentes das entidades cinematográficas do que o cinema propriamente dito.
A BELA DANÇA
Helvécio Ratton, um mineiro simpático e competente, teve inúmeros problemas para concluir "A Dança dos Bonecos", seu primeiro longa-metragem. Faltou dinheiro durante as rodagens, teve que interromper as filmagens e só o entusiasmo da equipe e elenco possibilitou que o filme fosse concluído. Mas as dificuldades foram compensadas: lírico, suave e com belíssimas passagens captadas no Interior de Minas Gerais - fazem desde um dos melhores filmes infantis já realizados no Brasil.
O primeiro prêmio conquistado por "A Dança dos Bonecos" foi a medalha de ouro no XVI Festival de Filmes para Infância e Juventude de Giffoni, na Itália. Em outubro do ano passado, no XIX Festival de Brasília, foi o grande vencedor: prêmio da crítica, do júri popular, prêmio especial do júri oficial, fotografia (Fernando Duarte), cenografia (Paulo Henrique Pessoa), trilha musical (Nivaldo Ornelas), além de "melhor filme" do Festivalzinho Infantil e o "Troféu Macunaíma" do Conselho Nacional de Cineclubes.
O único prejudicado foi Wilson Grey: veterano coadjuvante em mais de 200 longa-metragens, pela primeira vez interpreta um personagem central. Esperava ser premiado e ficou furioso com a decisão do júri que deu o Candango de melhor ator para Carlos Gregório, por sua atuação em "Baixo Gávea". Em Gramado, em abril último, a injustiça foi corrigida: Wilson Grey (que não compareceu ao festival) acabou sendo galardoado com o Kikito de melhor ator.
Cintia Vieira, uma garotinha quando da rodagem do filme (1984), agora uma sensual ninfeta, cria uma personagem marcante - a Ritinha, que vê os seus bonecos (criados pelo artista plástico Álvaro Apocalipse) adquirirem vida e com isto despertarem a ganância de Mr. Kapa (Wilson Grey) e seu auxiliar, Geléia (Kimura Schttino). No elenco, dois outros papéis marcantes: Rui Polanah como o Destino e a bela Cláudia Gimenez como Almerinda. Mas os bonecos Totoca, Tisio e Bubu roubam as seqüências e encantam crianças e adultos.
A trilha sonora de Nivaldo Ornelas é magnífica e já mereceria ter sido editada em elepê pela Bemol, atuante etiqueta de Belo Horizonte.
SALVE-ME QUEM PUDER
Quem se emocionou com a dramática personagem que Whoopi Goldberg interpretou em "A Cor Púrpura" - e que lhe valeu a indicação ao Oscar de melhor atriz - 86 - pode agora apreciar a versatilidade do talento desta atriz negra, que fazendo rir num desbocado espetáculo apresentado na Broadway, chamou a atenção de Spielberg e ganhou o personagem central daquele filme. Pois em "Salve-me Quem Puder" (cine Plaza, desde ontem), Whoopi Goldberg é Terry Doolitle, uma jovem que trabalha com computadores no departamento de transferência monetária internacional de um grande banco. Para quebrar a monotonia, Terry incrementa suas transações com comunicações pessoais: negocia, clandestinamente, fitas de Bruce Springsteen com seu correspondente londrino; para outro, no Japão, envia receitas culinárias e para um francês dá conselhos amorosos.
Entre tantas mensagens, Terry recebe um apelo urgente no vídeo de seu computador codificado por "Salve-me Quem Puder". E atrás deste apelo vem toda uma intriga internacional com um operador britânico que está num impasse no bloco oriental. Terry decide bancar a 007 e inicia uma aventura fascinante.
Dirigido por uma mulher, Penny Marshall, que chega ao longa-metragem após fazer sucesso com episódios da série "Laverne and Shirley" na televisão americana. "Jumpin'Jack Flash" é daqueles filmes de verificação obrigatória, pela trama, agilidade e mesmo elenco de novos talentos. Além de Whoopi Goldberg, vem Stephen Collins - já visto, em pontas, em "Todos os Homens do Presidente" e "Jornada nas Estrelas"; Carol Kane, que atuou em "Dia de Cão" e "Carnal Knowledge", além de John Wood (pequenos papéis em "Jogos de Guerra", "Ladyhawke" e "A Rosa Púrpura do Cairo"). Trilha sonora de Thomas Newman e fotografia de Matthew F. Leonetti.
"Fievel, Um Conto Americano" (An American Tail), primeiro desenho animado de longa-metragem, direção de Don Bluth, continua em cartaz no Condor - possibilitando, assim, uma comparação com o primeiro cartoon de longa duração, "Branca de Neve e os Sete Anões", que Walt Disney realizou em 1937, entre os dois - cinqüenta anos de encantamento nas telas. "Branca de Neve" é projetada somente nas sessões diurnas do Lido II, que a noite reprisa agora "O Rapto do Menino Dourado", comédia lembrando "Indiana Jones", mas sem a mesma força.
"Os Trapalhões no Auto da Compadecida", de Roberto Farias - transpondo à tela a peça de Ariano Suassuna - continua também no Lido I, em 5 sessões. No São João, somente à tarde. Às 20 e 22 horas a pornochanchada "Os Bons Tempos Voltaram" (Vamos Gozar Outra Vez), que reúne um grande elenco: a bela Carla Camurati, Marcos Frota, Katia Lopes, José Lewgoy, Consuelo Leandro, Tânia Boscoli etc. São dois sketches, dirigidos por Ivan Cardoso e John Herbert.
Para as crianças, outras boas opções: Hoje, sábado e domingo, nas sessões Zig-Zag, agora no cine Itália - 10, 11, 15 e 12,30 horas, tem seqüência o Festival da Mônica, com exibição de "A Princesa e o Robô". Em Ponta Grossa, no cine Império, também em sessões Zig-Zag, só que às 14 e 15 horas, está sendo apresentado "As Novas Aventuras da Turma da Mônica". No próximo fim-se-semana, a partir do dia 23, o Itália estará lançando nas sessões matinais o novo filme produzido por Maurício de Souza: "A Turma da Mônica" em "O Bicho Papão e outras histórias".
Outra opção para a garotada - mas esta bastante medíocre - é a versão que o paulista Wilson Rodrigues fez de "Joãoziho e Maria", originalmente para vídeo, mas agora em exibição às 10 horas da manhã, no Astor, aos domingos.
Ainda como opções: "Ludmila e os Bárbaros", produção soviética, direção de Aleksander Ptuschko, em exibição no Groff. O cinema russo é competente em termos de filmes infantis mas, ao julgar pelo triller, a cópia desta fita que o Chico Alves trouxe agora está em péssimo estado.
Para quem não viu ainda uma comédia amalucada, no Astor, que agrada platéias mais indulgentes: "Loucademia de Polícia 4 - O Cidadão se Defende", com o mesmo elenco das fitas anteriores - mas com direção de Jim Drake.
A ROSA E VERA
Dos filmes que continuam em cartaz, recomendações vão para "O Nome da Rosa", de Jean-Jacques Annaud, que continua atraindo bom público no Itália. Uma inteligente transposição à tela do romance de Umberto Eco, com excelentes atuações de Sean Connery e F. Murray Abrahms - e uma única mulher no elenco, Valentina Vargas. Outra boa recomendação: "Vera", de Sérgio Toledo - Aida Leiner e Carlos Kroeber - premiado em Brasília, no ano passado e que deu o Urso de Prata de melhor atriz a Ana Beatriz, em Berlim, continua em cartaz. A trilha sonora é de Arrigo Barnabé.
LEGENDA FOTO 1 - Whoopi Goldberg mostra agora sua face de comediante em "Salve-me Quem Puder".
LEGENDA FOTO 2 - Kimura Schettino é "Geléia", divertido personagem de "A Dança dos Bonecos". No Cine Luz.
LEGENDA FOTO 3 - A turma da Mônica volta em festival nestas férias.
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