L'Art traz canções idishes e as sonatas de Beethoven
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de fevereiro de 1992
A escalada do CD - mais de 7 milhões de unidades comercializadas em 1991, enquanto o mercado fonográfico, em geral, sofreu uma redução de mais de 40%, atingiu diretamente não só as grandes gravadoras mas também as etiquetas independentes e as produções alternativas. Hoje, nenhum produtor pensa mais em vinil quando se decide a fazer um disco e a questão está em baratear o produto. Já com duas fábricas no Brasil - a MicroService, de São Paulo e a MAC, em Manaus - e a da Sony em fase final de instalação - a moderna tecnologia da gravação digital é cada vez mais disputada.
Um produtor que se dedica a área erudita, valorizando especialmente os intérpretes brasileiros, Lauro Henrique Alves Pinto, da L'Arte - produções Artísticas (Rua Dr. Garnier, 143, RJ, CEP 20971), teve uma boa idéia para possibilitar que suas produções possam atingir o público com preços mais competitivos: substituir as caras (e frágeis) edições em plástico por envelopes-caixinhas de papelão, nas quais sem perder a qualidade e a proteção, os CDs são protegidos.
As duas primeiras produções de Lauro Henrique nesta fórmula beneficiam pianistas brasileiros: Edson Elias com um "Beethoven Recital" e o já conhecido Fábio Luz acompanhando a mezzo-soprano em "Jewish Songs".
Com olhos postos no mercado internacional, os didáticos textos destes dois CDs, escritos pelo próprio Lauro Henrique, são apresentados em inglês, alemão e idish no caso das "Canções Judaicas" e em inglês e português de Edson Elias. Fábio Luz, 37 anos, ex-discípulo de Eudóxia de Barros e Maria José Carrasqueira, fez carreira internacional a partir dos anos 60, com inúmeras gravações. No Brasil, tornou-se conhecido após a L'Art passar a editar suas gravações. Neste novo CD - apontado pelo expert Oswaldo Euclides Aranha, da Rádio Estadual do Paraná - como uma das melhores edições de 91, Fábio acompanha a mezzo-soprano Ruth Frenk, holandesa, com uma carreira relativamente recente (seu primeiro disco é de 1986) e que mostra toda a extensão de sua belíssima voz em 12 canções judaicas neste CD destinado especialmente a colônia idish - que, tradicionalmente, tem um alto nível cultural - mas sem esquecer outros públicos.
Já Edson Elias é professor titular da École Normale de Musique de Paris e membro fundador de duas Academias Internacionais de Piano na França. Detém 13 prêmios internacionais, apresenta-se em toda a Europa como concertista, participa de júris de concursos e leciona em "Master Classes". Foi discípulo de Alexander Jenner, Bruno Seidhofer, Dietter Weber e Jacques Klein, em cuja homenagem fez este "Beethoven Recital", reunindo as sonatas que o saudoso pianista Klein (1930) mais apreciava.
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O pianista Miguel Proença, 50 anos, gaúcho de Livramento, é a exemplo do carioca Arthur Moreira Lima, 52, um virtuose que sabe administrar muito bem sua carreira. Executivo de mão cheia já ocupou várias funções na área cultural e nos últimos dois anos dirigiu o Curso de Música de Cascavel, recusando há pouco a direção artística da Fundação Teatro Guaíra. Como não é de esperar pelas gravadoras, tem autoproduzido suas gravações, buscando patrocínio e, posteriormente lançando seus discos no mercado. Agora, com patrocínio da Alcoa - que pela terceira vez banca um CD - Proença volta ao universo sonoro de um compositor que tem merecido sua especial atenção: o cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920). Anteriormente, a "Coleção Alcoa" teve CDs com obras de Cláudio Santoro (1919-1989) e Villa-Lobos (1887-1959).
Para este CD - inicialmente distribuído como brinde mas que, em breve, terá edição comercial - Proença selecionou peças compostas por Nepomuceno entre 1887/1907. Entre elas, estão "Prece", "Dança de Negros" (ou "Batuque") - esta a primeira peça que projetou o nome de Nepomuceno - e "Quatro Peças Líricas" (Opus 13), escritas em Paris, na qual houve preocupação de fazer uma música de raízes mesmo estando no estrangeiro.
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