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"JFK", mentiras e verdades que o mundo quer conhecer desde 63

Quando um superstar da construção cinematográfica se dispõe a se cansar num périplo internacional para promover a estréia de seu último filme - seja um intérprete, diretor ou mesmo produtor - a imprensa desconfia. No mínimo, é uma estratégia de luxo para reforçar o marketing promocional de uma produção que consumiu milhões de dólares e que no lançamento nos Estados Unidos fracassou. Assim foi que Jane Fonda, há dois anos, ao lado do diretor Luiz Puenzo passou pelo Rio e São Paulo - vindo do Chile e a caminho de Buenos Aires para tentar fazer com que as rendas de sua produção "Gringo Velho", baseado no romance de Carlos Fuentes, melhorassem. Apesar de toda sua fama - e do valor do filme - pouco adiantou. "Old Gringo" teve lamentável carreira nas telas. A vinda de Oliver Stone, que chegou no Rio, da Europa, há uma semana e na quinta-feira já seguiu para Buenos Aires, poderia, ao primeiro momento dar a mesma impressão: a de que "JFK - A Pergunta que não quer Calar" necessita de um reforço especial para a promoção. Embora a propaganda nunca faça mal a um produto de consumo, desta vez a história é diferente: estreando nos EUA em 20 de dezembro, a tempo de se habilitar ao Oscar (que considera para fins de competição apenas produções que estréia em Los Angeles até o final de cada ano), "JFK" ganhou espaços - e polêmicas - desde o final do primeiro semestre do ano passado, quando Stone começou as filmagens. Dezenas de revistas - como as influentes "Time", "Life", "Newsweek" e tantas outras - lhe dedicaram matéria de capa (como fez a "Veja", nesta semana) e mesmo antes do filme estrear as críticas se sucederam. Afinal, Stone, 46 anos, 17 de cinema, é um especialista em tocar no vespeiro das consciências americanas: desde seu terceiro longa-metragem, "Salvador, o martírio de um povo" (85) vem remexendo feridas incômodas da sociedade (e principalmente governo) americano - como a intervenção em países latino americanos ("Salvador"), a guerra do Vietnã ("Platoon", 86; "Nascido em 4 de Julho", 89), a mistificação dos meios de comunicação ("Talk Radio - verdades que matam", 88) e o próprio comportamento da juventude na época do sonho de flores & drogas ("The Doors", 90). Agora, entretanto, Stone foi ainda mais audacioso: decidiu, 29 anos depois, colocar numa super-produção a discussão de um fato que até hoje os americanos (e o mundo) não aceitaram como verdade: a de que o jovem, belo e otimista presidente dos Estados Unidos John Fitzgerald Kennedy tenha sido morto naquela tarde de 22 de novembro de 1963 apenas por um solitário e neurótico cidadão, Lee Harvey Oswald, 24 anos, que morreu assassinado, 48 horas depois, frente às câmaras de televisão, por um dono de boate ligado à Máfia, Jack Ruby, no porão da delegacia de polícia de Dallas, quando ia ser transferido para outra prisão. O que já se escreveu sobre o assassinato de Kennedy - mais de 100 livros, milhares de reportagens, duas investigações oficiais - a Comissão Warren (instaurada pelo presidente Lyndon Johnson, que substituiu a Kennedy, e que após cerca de dez meses de trabalho concluiu em 24/9/1964, que Lee Oswald agiu sozinho) - e o Comitê Superior da Câmara sobre Assassinatos Políticos, instalada em setembro de 1976 e que após dois anos controvertidos de trabalho e gastos de US$ 5 milhões e 800 mil, acabou, após muita discussão, admitindo que Kennedy "foi provavelmente assassinado como resultado de uma conspiração". Paralelamente a montanhas de textos, documentos, depoimentos, etc., houve, paralelamente, a solitária investigação de um promotor de Nova Orleans, Jim Garrison, hoje, aos 71 anos, juiz aposentado (e que no filme interpreta, ironicamente, o juiz Earl Warren, falecido em 1974), que decidiu investigar por sua conta e risco o assassinato, a partir de 1966, chegando a processar um empresário, Clay Shaw, pela participação no suposto complô três anos antes. O processo foi um fracasso, pois o júri inocentou Shaw e Garrison ficou numa situação difícil. Escreveu, entretanto um livro explosivo ("On the trail of the assassins"), um dos dois textos básicos para o roteiro desenvolvido pelo próprio Stone (o outro foi "The plot that killed Kennedy", de Jim Marrs) que, obviamente, estudou tudo que foi possível para desenvolver o filme. Numa produção de mais de três horas - com um elenco em que refulgem nomes famosos a começar por Kevin Costner ("Dança com Lobos", Oscar 91) como Jim Garrison, Donald Sutherland, Gary Oldman (como Lee Oswald), Tommy Lee Jones, Sissy Spacek, Jack Lemmon, Walter Matthau, e dezenas de outros - Stone fez um filme explosivo, importantíssimo para que, três décadas depois, os fatos que, em novembro de 1963, abalaram o mundo - e, de certa forma, modificaram os rumos da própria história contemporânea, sejam mais conhecidos - especialmente das novas gerações. Afinal, como teria sido o mundo - e a presença americana - se Kennedy, aos 46 anos que havia completado a 29 de maio, 35º presidente (e o primeiro católico) dos Estados Unidos, não tivesse sido assassinado ao chegar a Dallas, no Texas, para uma visita que muitos haviam desaconselhado? Filmes como "JFK A Pergunta que não quer Calar" provam, mais do que nunca a força das imagens, a informação e que uma obra - em que mesmo existindo uma liberdade histórica em relação a certas colocações - faz o público pensar, reflexionar e melhor entender este nosso século. LEGENDA FOTO - A reconstituição dos dramáticos momentos do assassinato de John Fitzgerald Kennedy em Dallas, na tarde de 22 de novembro de 1962, é perfeita em seus mínimos detalhes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
09/02/1992

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