"Salvador", o filme denúncia de Stone
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de março de 1987
Enquanto "Platoon" é uma (re)visão da guerra do Vietnã, realizada com a mais absoluta coragem, "Salvador - O Martírio De Um Povo" (São João), o primeiro longa metragem de Oliver Stone, também produção de 1986, aborda uma outra guerra suja, bem mais próxima e que ainda não acabou.
Se Oliver Stone vivenciou as experiências da guerra do Vietnã - e isto deve ter contribuído para fazer de "Platoon" um filme tão sincero e honesto - no caso de "Salvador", o co-roteirista, Richard Boyle, teve sua vivência como repórter fotográfico, em El Salvador, entre 1980/81. O que nos remete a memória a outro filme marcante e emocionante - "Sob Fogo Cerrado" (Under Fire, 1985, de Roger Spottiswoode), que focalizava um fotógrafo e jornalista, Russel Price (Nick Nolte), na Nicarágua dominado pelo ditador Somoza. Como se vê, pouco a pouco o cinema americano vai tocando o dedo em feridas incômodas, colocando elementos de ficção dentro de uma realidade dolorosa.
Por trás da estória de um jornalista (James Woods) que ao voltar a El Salvador, na dupla tentativa de reencontrar Maria (Elpedia Carrilo), a jovem salvadorenha e com quem teve um caso (na primeira vez em que esteve no país) e fazer uma boa reportagem sobre a guerra civil, para recuperar-se profissionalmente, Oliver Stone desenvolveu um filme de profundas (e atualíssimas) conotações político-sociais.
A fase em que a trama se passa foi das mais violentas na História do país, em que os esquadrões da morte do Comando Maximiliano Hernandez, chefiado pelo dirigente de extrema direita Roberto d'Aubuisson (que no filme aparece com o nome de Comandante Max) eliminavam sumariamente todos os suspeitos de simpatizar com os movimentos rebeldes.
O filme evoca, em seqüências fortes, episódios como o do assassinato do arcebispo D. Oscar Arnulfo Romero, a 24 de março de 1980, depois de um sermão em que ele pedira aos soldados o fim da repressão; ou dos combates em Santa Ana, a segunda cidade do país, quando ela foi atacada pela Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional, no início de 1981.
Misturando jornalismo e guerra temática que tem alimentado filmes marcantes como "O Ano Em Que Vivemos Em Perigo", "O Ocaso De Um Povo", "Sob Fogo Cerrado", e o premiadíssimo "Os Gritos Do Silêncio", este "Salvador - O Martírio De Um Povo", é um filme de visão obrigatória, lançamento mais do que oportuno nesta semana, antecedendo a estréia de "Platoon", do mesmo diretor. A fotografia é de Robert Richardson, a música de Georges Delerue e no elenco estão James Woods, Jim Beluschi, Michael Murphy, Elpedia Carrilo, Cindy Gibb e John Savage.
LEGENDA FOTO - "Salvador - O Martírio De Um Povo", primeiro longa de Oliver Stone (o mesmo diretor de "Platoon") está em exibição no São João. Um filme de visão indispensável.
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