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Aramis

E chega o filme que discute morte de JFK

Desde que a Igreja condenou "Je Vous Salue, Marie" (1984, de Jean Luc Godard) e "A Última Tentação de Cristo" (88, de Martin Scorcese) que um filme não provoca tanta discussão: "JFK - A Pergunta que não quer Calar" (Cine Astor, 14, 17h15 e 20h30; Cinema I, às 15 e 19h30). Mesmo o Instituto Gallup tendo confirmado em julho do ano passado, que 73% dos americanos não acreditam nos resultados do suspeitíssimo Relatório Warren, as teorias que Oliver Stone propõe em seu filme valeram uma tormenta de críticas e acusações, admitindo até que não descarte a possibilidade de sofrer um atentado. Cineasta consagrado com três Oscars (dois como diretor; um como roteirista e "O Expresso da Meia-Noite"), Stone, 46 anos, vem levantando sérios questionamentos em relação à sociedade americana e, voluntário no Vietnã, após realizar os contundentes "Platoon" e "Nascido em 4 de Julho" (temática que pretende completar ainda com um terceiro filme), mergulhou na selva de especulações, informações e teorias que, desde 22/11/62, cercam o crime que mais abalou o mundo neste século: o assassinato do 35º presidente americano, primeiro católico a chegar ao poder nos EUA, John Fitzgerald Kennedy, símbolo de uma época. Produzido com US$ 40 milhões, em menos de um mês nos EUA (onde estreou em fins de dezembro, a tempo de disputar os Oscars, sendo já um dos favoritos), já rendeu mais de US$ 50 milhões, soma que deverá no mínimo se multiplicar seis vezes, considerando que os US$ 15 milhões que a Warner está investindo na propaganda o transformaram no filme do ano. Além de todo interesse jornalístico que cerca este filme - que pode até ser visto como um documentodrama, pela seriedade com que Stone desenvolveu o roteiro utilizando inclusive cenas reais - o próprio diretor, com humildade e muito entusiasmo, se dispôs a viajar entre janeiro e fevereiro por países da Europa, vindo agora a América Latina para conversar com centenas de jornalistas a respeito de sua obra, do mito Kennedy e, especialmente de tudo que se vem discutindo (e o acusando) em relação a um filme que tem merecido o maior espaço na mídia de todos os países. O resultado é que há tempos não acontecia uma estréia (hoje, nas principais cidades brasileiras) com tanto impacto promocional como de "JFK - A Pergunta que não quer Calar". Com um elenco all star em que Kevin Costner, hoje o mais acreditado ator americano (uma espécie de cruza James Stewart e Cary Cooper dos anos 90), após os Oscars que obteve por seu "Dança com Lobos" aqui interpreta o promotor Jim Garrison, que não aceitou as versões oficiais de que apenas Lee Harvey Oswald teria matado JFK e partiu para uma investigação paralela. Stone, que admira profundamente Garrison (hoje aos 71 anos, juiz aposentado em New Orleans, e que no filme interpreta o juiz Earl Warren), desenvolveu o roteiro especialmente a partir do livro On The Trail of The Assassins (1988), de Garrison, mas juntando dezenas de outras fontes. Sissy Spacek é a esposa de Garrison, Gary Oldman (o viciado de "Sid & Nancy"), interpreta Lee Oswald, e atores da dimensão de Donald Sutherland, Walter Matthau e Jack Lemmon fazem pontas, com música do várias vezes premiado John Williams. "JFK" é mais do que um filme de utilidade pública - definição que usamos para obras que abordam temas contemporâneos e necessários de serem denunciados e discutidos. É uma demonstração de que o cinema, como força de comunicação, é ainda o grande veículo-palanque visual para que se possa conhecer melhor este nosso mundo, seus homens e sua história. Domingo, estaremos dedicando "Tablóide" à entrevista com Oliver Stone. LEGENDA FOTO - Oliver Stone: massacre, elogio e indicação ao Oscar por "JFK - A Pergunta que não quer Calar".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
17
07/02/1992

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