A musical ajuda para gente de todo mundo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de maio de 1987
Quando, há mais de 20 anos, o Alto Comissário dos Refugiados das Nações Unidas, convocou os superstars da época para um concerto de fins beneficentes ("All Star Festival"), nascia uma tendência das mais positivas em termos de auxílio a quem necessita: a colaboração de grandes nomes da vida artística para minorar os sofrimentos de milhões de pessoas em todo o mundo. Assim, nos últimos anos, se multiplicaram eventos filantrópicos, alguns alcançando repercussão internacional como o "We Are The World", que valeu ao até então modesto e pouco famoso cantor pop inglês, Bob Geldof, um reconhecimento internacional e mesmo sua indicação ao Nobel da Paz, no ano passado.
Mais duas gravações registrando eventos filantrópicos acabam de sair, ambos pela Polygram, fábrica que tem obrigado a edição da maioria destas produções cujos lucros revertem em favor de nobres causas.
PELA ANISTIA
Fundada em 28 de maio de 1961, um sábado, a Amnesty vem há 26 anos, lutando pelos direitos humanos. Neste quarto de século, esta organização internacional, com sede em Londres, tem procurado denunciar as brutalidades de governos ditatoriais - tanto da Esquerda como da Direita e, durante os anos mais duros da ditadura militar no Brasil foi a Anistia quem denunciou muitos crimes aqui ocorridos e dos quais, nossa imprensa não podia denunciar. Portanto, ajudar a Anistia é uma obrigação de toda pessoa consciente e foi isto que mais de uma dezena de nomes famosos do rock fizeram no ano passado, resultando este belo "Conspiracy Of Hope" ("Conspiração da Esperança"), cuja capa já traduz as intenções: uma vela acesa cercada de arame farpado. As músicas e os intérpretes reunidos neste disco-documento-manifesto são conhecidas (os), mas vale a intenção - e o resultado inclusive em termos artísticos é excelente. Assim, abrindo com Steve Winwood ("Higher Love"), o evento prossegue com Peter Gabriel ("Biko"), Elton John ("Passengers"), o duo Tears For Fears ("I Believe"), Howard Jones ("No One Is To Blame"), Paul McCartney ("Pipes of Peace"), Sting ("Strange Fruit"), Dire Straits ("Brothers In Arms"), John Cougar Mellencamp ("Pink Houses"), Simple Minds ("Ghost Dancing") e Brian Adams ("Tonight").
EM FAVOR DO MÉXICO
Plácido Domingo, um dos mais notáveis tenores da atualidade, encontrava-se na Cidade do México em 19 de setembro de 1985 quando [ocorreu] o terrível terremoto que assolou aquela metrópole. Imediatamente uma ponte de solidariedade estendeu-se em direção à nação mexicana e Domingo, que ali se encontrava, adiou outros compromissos para trabalhar entre os escombros e coordenar uma das equipes de resgate demonstrando um notável espírito de humanismo.
Artista famoso e que tem intercalado suas atuações em óperas também com atuações nos filmes de Zifferelli e feito gravações de músicas folclóricas e populares (para irritação dos puristas do bel canto), Plácido Domingo fez mais: consciente do grande esforço que seria necessário realizar para apagar as marcas da tragédia, cancelou a maioria de seus ininterruptos compromissos para dedicar-se a uma série de apresentações destinadas exclusivamente a obter recursos para o Fundo de Ajuda às vítimas. A Detusche Grammophon somou-se a este esforço e o resultado é um disco, gravado em vários teatros do mundo, e cuja renda destina-se integralmente a esse Fundo de Ajuda.
Um repertório que inclui canções populares e árias de óperas faz deste não apenas um disco emocionante, mas também valioso em termos musicais. Com a Sinfônica de Londres, sob a regência de Marcel Peeters, Plácido interpreta "Granada" (Agustin Lara) e "Júrame" (M. Grever); Kal-Heinz Loges rege a mesma Sinfônica nas faixas "Siboney" (D.Morse/ Ernest Lecuona); "Marta" (Gilbert Simons); "Muñequita Linda" (M. Grever) e "Amapola" (M. Lacalle), enquanto que Roberto Pansera assumiu a batuta da Sinfônica de Londres, quando Plácido deu uma interpretação emocionante ao mais famoso tango de Gardel/Pera: "El Dia Que Me Quieras".
No lado dois, estão árias de óperas: acompanhado pela Orquestra do Teatro Alla Scala, de Milão, regida por Claudio abbado, temos "Se Quel Guerrier Io Fossi... Celeste Aída", de "Aida" de Giuseppe Verdi (1813-1901) e "O Figli, O Figli Mieii. Ah, la Paterna Mano", de "Macberth", também de Verdi; Abbado regeu a Sinfônica de Londres, quando Plácido apresentou-se em favor das vítimas do terremoto do México, interpretando a ária "La Fluer Que Tu M'evais Jetée", de "Carmem" de Georges Bizet (1838-1875).
Finalmente, Carlo Maria Giulini, rege a Filarmônica de Los Angeles, nas três árias que complementam o disco: "Pays Merveilleux... O Paradis" de "L'Africaine", de Giacomo Meyerbeer (1791-1865), "Je Crois Entendre Encore" de "Les Pêcheurs de Perles" de Bizet e "Un Furtiva Lagrima" de "L'Elisir d'Amore" de Gaetano Donizetti (1797-1848).
CLÁSSICO PELA ANISTIA
Não foram apenas os superstars do rock que se sensibilizaram, há dois anos, em darem um pouco de sua arte em favor da Anistia Internacional. O pianista Alfred Brendel, em colaboração com a British Broadcasting Corporation (BBC), Rádio Austríaca (ORF) e o Concertdirectie G. de Koos, Holanda, também gravou um belísssimo recital, editado com fins beneficentes. Agora lançado no Brasil pela Polygram, esta gravação, ao vivo, de Brendel, um dos grandes virtuoses do piano, traz peças de Franz Liszt (1811-1886) - "Valée d'Obermann", "Funérailles", "Sposalizio" e "Bagatelle", a "Sonata, Opus 1, de Alban Berg (1885-1935) e a "Toccata", de Ferrucio Busoni (1866-1924).
São peças importantes, que no calor da gravação ao vivo de Brendel, tiveram registros marcantes, fazendo deste um álbum histórico e importante. Além de tudo, ao adquirí-lo, está se contribuindo com uma grande causa.
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