A força do 16mm em curtas e nos médias biográficos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de agosto de 1991
Dos quatro médias-metragens que disputarão a premiação em Gramado, três foram rodados em 16mm, o que comprova que esta bitola continua a ser uma opção para projetos de cunho mais cultural - como é o caso dos médias. Afinal, se as possibilidades de exibição dos curtas no circuito comercial são reduzidas - apesar da chamada "lei da obrigatoriedade" que há dois anos não é fiscalizada (e que continua a justificar debates, reuniões e manifestos dos interessados), aos médias-metragens as chances de chegarem aos espectadores ainda são mais reduzidas. Restam, então, circuitos específicos - ou o mercado externo - como é o caso de "A Guerra dos Meninos" que a carioca Sandra Werneck realizou com a ajuda de organismo internacionais, transpondo para a tela - com muita coragem - as denúncias que o jornalista Gilberto Dimenstein, diretor da sucursal da "Folha de São Paulo", fez em seu livro lançado em 1990. Injustamente cortado na seleção de Brasília (Sandra tentou exibir hors concours seu documentário, mas não conseguiu), "A Guerra dos Meninos" deverá provocar grande impacto em Gramado - talvez tão forte como outros filmes - denúncias - "Ilha das Flores" de Jorge Furtado e "Que Bom Te Ver Viva", de Lúcia Murat, ambos em 1989, ali causaram. Os três outros médias voltam-se a biografias. Numa linguagem moderna, misturando ficção e realidade, verdades & mentiras, Rogério Sganzerla, catarinense de Joaçaba, 45 anos, mas desde os anos 60 radicado em São Paulo/Rio de Janeiro, fez um polêmico filme sobre Noel Rosa (1910/1937) que em Brasília só obteve um honorífico prêmio da Associação Carioca de Cineastas - que serviu de motivo para Sganzerla, na noite de encerramento, criticar violentamente o júri, especialmente o seu presidente, Nelson Pereira dos Santos. Como biografia, "Isto é Noel" - no qual pretende também homenagear seu amigo João Gilberto - é discutível, mas o filme tem seus defensores.
Bem diferente - numa forma respeitosa e efetiva - é "Nosso Amigo Radamés Gnatalli" que dois amigos do grande pianista, maestro e arranjador gaúcho, falecido há dois anos, lhe dedicaram. Moisés Kendler e Aluisio Didier capturaram imagens do cotidiano de Radamés, encontros com amigos como Tom Jobim e Dorival Caymmi e uma pesquisa iconográfica valorizando o documentário que já teve seus méritos reconhecidos em Brasília.
O quarta média em competição será "Vôo Solitário" (Der Einsame Flug) do jornalista e (agora) cineasta Everson Faganello, radicado há muitos anos em Florianópolis, respeitado na área científica mas desconhecido do público.
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