O violão de um novo mestre trazendo Villa e Ginastera
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de agosto de 1991
A obra de Heitor Villa-Lobos é de tamanha importância que todas as gravações que se façam para divulgá-la no Brasil e Exterior devem ser saudadas com entusiasmo. E quando um virtuose da dimensão de Eduardo Fernandez acopla a 5 prelúdios e 12 estudos que o mestre Villa criou para violão, mais a sonata para violão, opus 47, de Alberto Ginastera (1916-1983) estamos diante de uma pequena jóia. É o caso deste CD, selo London/Polygram, lançado há algumas semanas.
Heitor Villa-Lobos (1887-1959) é autor de uma obra imensa que apesar de toda sua importância ainda é insuficientemente conhecida e divulgada entre nós, em que pese os esforços que o maior executante ao violão de seus temas, o maranhense Turibio Santos, faz há mais de 10 anos - como virtuose internacional e dirigente do Museu Villa-Lobos, que a segunda esposa do maestro, Armandinha, fundou e dirigiu até a sua morte.
Executantes de vários países têm se voltado à obra que Lobos compôs para violão - e que teve, em muitas delas, como primeira motivação sua amizade com o maior guitarrista de todos os tempos, o espanhol Andres Segovia, que conheceu ainda jovem e de quem foi um dos maiores amigos. A ele, dedicaria a série de 12 estudos para violão, compostos entre 1925/1929 - e que agora podem ser apreciados na virtuosidade de Eduardo Fernandez, uruguaio de Montevidéu, 39 anos.
Incluído por muitos críticos como um virtuose na categoria de Segovia, Narciso Yepes, Julian Bream e John Williams - para citar quatro dos maiores mestres, Fernandez começou estudando com Raul Sanchez, mas sua grande evolução se deu quando foi admitido pelo professor Abel Carlevaro, que o auxiliou a desenvolver uma técnica especial, que lhe trouxe muitas premiações no Uruguai, Brasil e França - incluindo, em 1975, o primeiro lugar no Andres Segovia Competition, na Espanha. Buscando sempre aprimorar-se, Fernandez teve, posteriormente, aulas com Guindo Santorsola, inclusive de harmonia, contraponto e fuga.
Há 14 anos, ao estrear em Nova York, ganhou entusiásticos elogios, que vêm se repetindo em todas as suas excursões pela Europa e Américas - embora evite um calendário desgastante. Assim, seleciona suas apresentações e dedica-se mais ao seu conservatório em Montevidéu, no qual jovens violonistas sonham em estudar. Isto explica porque, apesar de sua competência e talento, é ainda pouco conhecido no Brasil.
Shostakovich/Ashkenazy
Outro excelente lançamento em digital que a Polygram fez há pouco é o que traz a Orquestra Royal Philharmonic, sob regência de Vladimir Ashkenazy, em dois concertos de Dmitri Shostakovich (1906-1975). O primeiro, concerto para violino nº1, em Lá Menor, opus 77, tendo como solista Boris Belin; o segundo, concerto para piano nº2 em Fá Maior, opus 102, com a brasileira Cristina Ortiz.
O musicólogo Robert Layton observa no texto que acompanha este CD que enquanto Shostakovich compôs nada menos que 15 sinfonias e outro tanto de quartetos para cordas, o seu interesse pelo concerto foi menos entusiástico. Assim, escreveu apenas seis concertos para piano, violino e violoncelo. Os para violino foram ambos inspirados em David Oistrakh e a ele dedicados (o mesmo acontecendo com as duas sonatas para violino). Também os concertos para violoncelo foram dedicados a uma mesma pessoa: o mestre Mstislav Rostropovich. Pianinsta em sua juventude, Shostakovich não chegou a desenvolver uma obra "pianística" maior - o que torna importante os dois únicos concertos que compôs, o segundo - aqui tendo como solista a brasileira Cristina Ortiz - escrito em 1956/57 e dedicado a seu filho, o pianista Maxim, que estreou a obra em 10 de maio de 1957, por ocasião do seu 19º aniversário.
LEGENDA FOTO - Eduardo Fernandez, virtuose uruguaio do violão executa em CD estudos de Villa-Lobos e a sonata de Ginastera.
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