Em livros, o som da melhor música
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de janeiro de 1989
Não há motivos para queixas! Pouco a pouco a bibliografia de nossa música vai se ampliando com lançamentos que vão desde contribuições modestas até projetos ambiciosos e caros como os patrocinados pela Construtora Carioca (livro e disco sobre Vinícius de Moraes) e o Banco Chase Manhattan ("Brasil Musical - Viagem pelos Sons e Ritmos Populares"), que merecerão futuros (e detalhados) registros.
Há 14 anos, quando fez um pioneiro levantamento sobre o que havia publicado referente a nossa música popular, o professor Alceu Schwab conseguiu identificar pouco mais de 100 títulos - apresentados num comunicado durante o I Encontro de Pesquisadores da MPB (Teatro Guaíra, 28 de fevereiro a 2 de março de 1974). Posteriormente, ampliando sua pesquisas, Schwab levantou mais de uma centena de outros títulos, para o livro que publicou a respeito. No ano passado, saiu a "Bibliografia da Música Brasileira (1977/1984)", numa edição da Universidade de São Paulo.
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Agora, estas publicações teriam que vir acompanhadas de folhas anexas, pois continuam a sair trabalhos relacionados a nossa música - seus personagens, ritmos e mesmo interpretações mais amplas.
O grande impulsionador para o crescimento da bibliografia sobre a MPB foi, sem dúvida, Hermínio Bello de Carvalho, este incansável poeta e animador cultural, que em 1977 idealizou o I Concurso de Monografias da MPB, tendo Pixinguinha como tema.
Recebendo depois o nome de Lúcio Rangel como patrono, homenagem das mais justas ao pioneiro do estudo jornalístico de nosso cancioneiro, o concurso de monografia patrocinado pela Funarte/Instituto Nacional de Música cresceu para 4 temas anuais. E, em dez anos, mais de 50 bons estudos foram elaborados, dos quais 20 já estão publicados pela própria instituição. Em 1988, ainda, saíram os trabalhos de Bruno Gomes ("Adoniram - Um Sambista Diferente") e João Baptista Vargens ("Candeia - Luz da Inspiração"), ambos editadas em convênio com a Livraria Martins Fontes, de São Paulo.
No ano passado, outros livros relacionados a nossa música também tiveram suas primeiras edições: Charles A. Perrone estudou "Letras e Letras da MPB" (Elo Editora), enquanto José Maria de Souza Dantas publicou "MPB - O Canto e a Canção" (Ao Livro Técnico S/A).
José Ramos Tinhorão, o mais conhecido, polêmico e respeitado pesquisador, lançou o básico "Os Sons dos Negros no Brasil" (Art Editora), enquanto em Recife, Leonardo Dantas diretor da Editora Massangana, publicava a tese de Mundicarmo Maria Rocha Ferreira sobre a obra de Luiz Gonzaga e Zé Dantas ("Baião de Dois").
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Em novembro, Ermelinda A. Paz Barros, professora de música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicou "As Pastorinhas do Realengo" (Editora UFRJ, 133 páginas), trabalho que recebeu menção honrosa no Concurso Silvio Romero, em 1983. Trata-se de um detalhado estudo sobre as Pastorinhas, manifestação folclórica que continua a oferecer amplos enfoques para estudos, como comprova com competência. Aliás, a professora e pesquisadora vem trabalhando bastante, tendo sido premiada no ano passado em dois concursos sobre Villa-Lobos.
O primeiro, instituído pelo Museu Villa-Lobos, versou sobre as ligações do compositor com a música e músicos populares, trabalho que deve ser editado em breve pelo próprio Museu, que tem na direção o violonista Turíbio Santos. O segundo foi instituído pela Organização dos Estados Americanos/MEC, abrangendo aspectos sobre a latinidade de Villa e sua proposta de educação social através da música.
Paralelamente,Ermelinda concluiu um estudo sobre o cordão carnavalesco "Sodade do Cordão", criado em 1940 por Heitor Villa-Lobos (1887-1959), e que também deve sair pela editora Universitária da UFRJ.
Numa demonstração de energia, a mesma pesquisadora trabalha atualmente em dois novos projetos. O primeiro é sobre educação das correntes pedagógico-musicais brasileiras e o segundo sobre as constâncias modais na música folclórica brasileira, que, diz a professora Ermelinda Paz, "visa sobretudo resguardar e preservar nosso rico filão folclórico modal, que vem sofrendo penosas influências e modificações".
O estudo tem também como objetivo detectar os tipos de estruturas modais mais comumente encontradas nas diferentes regiões, o que a levou a solicitar a pesquisadores de outros estados o envio de informações que possam ajudá-la neste projeto. Pena que a professora Roselys Veloso Roderjan, uma de nossas mais dedicadas pesquisadoras, esteja hoje aposentada e preocupada apenas com sua tese de doutoramento, pois, poderia por certo auxiliar o trabalho de Ermelinda no que se refere a música folclórica no Paraná.
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No dia 14 de dezembro, no auditório da Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, outro pesquisador, Henrique Pedrosa, lançou seu livro "Música Brasileira Estilizada - o Popular e o Erudito na Cultura Brasileira - O Caso da Música". Professor de História Contemporânea e de História Social da Música na Universidade Santa Úrsula e na PUC, com apenas 26 anos, também violonista e professor de violão, Pedrosa há cinco anos foi co-autor de "Patápio, Músico Erudito ou Popular", vitorioso no concurso de Monografia Lúcio Rangel. Com vários cursos no Brasil e Exterior, sempre voltado a área musical, Henrique Pedrosa é o coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisa da Escola de Música Villa-Lobos.
LEGENDA FOTO - Schwab: trabalho pioneiro.
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