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Aramis

Uma tese sobre o Baião de Gonzaga

"Eu vou mostrá pra vocês Como se dança um baião E quem quiser aprender É favor prestar a atenção" (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira, 1945) Quando o Brasil saía do período do Estado Novo (1937-45) e festejava a promulgação da Constituição de 1946, um encontro entre o então estudante de medicina José de Souza Dantas Filho (Carnaíba de Flores, Pernambuco - 27/02/1921 - Rio de Janeiro, 11/03/1962) e o sanfoneiro Luiz Gonzaga do Nascimento (Exu, Pernambuco, 13/12/1912) veio traçar novos rumos para uma fase áurea da música popular nordestina: surgiria a grande fase do baião, gênero que embora o "Lua" já viesse apresentando desde agosto de 1945, a partir de sua parceria com Humberto Teixeira ("Baião" teve sua primeira gravação pelo Quatro Ases e um Coringa, em disco 78 rpm Odeon, em 27/05/1946), aconteceria mesmo com a parceria de Gonzaga e Zédantas - e cuja importância acaba de ser reconhecida agora, num estudo de nível universitário: "Baião dos Dois: Zédantas e Luiz Gonzaga" de Mundicarmo Maria Rocha Ferretti (volume 29 da coleção Monografias, Editora Massangana do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, Recife, 281 páginas, 1988). xxx Leonardo Dantas Ferreira, incansável pesquisador da música e cultura popular e a quem se devem edições das mais importantes, acrescenta mais um importante título à bibliografia brasileira ao lançar "Baião dos Dois", apresentado inicialmente como tese de mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1983), sob o título "Na batida do baião, no balanço do forró". Agora, com o subtítulo de "A música de Zédantas e Luiz Gonzaga no seu contexto de produção e sua atualização na década de 70", se constitui num indispensável estudo para se entender melhor a importância deste gênero - e especialmente de seus dois autores mais representativos. Por uma feliz coincidência, "Baião dos Dois" é lançado quase que simultaneamente ao aparecimento de caixa com 5 elepês ("50 anos de Chão", BMG/Ariola), - síntese da imensa carreira de Gonzaga na RCA (a partir de 1941), registrada em mais de mil gravações, incluindo quase uma centena de elepês. Aos 76 anos, enfrentando como rijo sertanejo os problemas de saúde, Luiz Gonzaga é a própria imagem de nossa música de mais fortes raízes - último remanescente de uma geração que fez a grande MPB nos anos 40/50, merecedor do maior respeito e admiração. Nenhum outro nome da MPB teve um público tão imenso - e fiel - do que o grande "Lua", amado pelas parcelas mais simples da população, mas que teve sua importância reconhecida também pelos jovens urbanos, a partir dos anos 60, quando Carlos Imperial espalhou a notícia de que Os Beatles iriam gravar a sua composição mais famosa, "Asa Branca" - e os então líderes do Tropicalismo, Gil e Caetano, reconheciam a influência do velho Gonzaga. Há alguns anos, Sinval Sá já havia dedicado um livro a Gonzaga ("O Sanfoneiro do Riacho da Brígida", cuja 6ª edição saiu na Coleção Pernambucana, Governo do Estado de Pernambuco, 1986), mas cuja obra comporta inúmeros outros estudos. Como o que Mundicarmo Ferretti fez, em pesquisa realizada de novembro de 1979 a novembro de 1982, mostrando o reaparecimento do baião, voltando como ritmo da moda com espaço certo na programação das rádios AM e nos forrós. O resultado é este fundamental livro, que se não for encontrado nas livrarias, pode ser solicitado diretamente à editora Massangana, em Recife.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
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01/10/1988

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