Musica
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de janeiro de 1975
Conhecendo-se melhor o violonista, compositor, cantor e amigo Toquinho (Antônio Pecci Filho, 28 anos) admira-se cada vez mais a sua obra por si só já consagrada, cantada do Amazonas ao Rio Grande do Sul, com as letras do amigo e parceiro querido Vinícius de Moraes.
Mas Toquinho não é apenas o parceiro de Vinícius. E um dos mais correntes artistas da moderna música popular brasileira, que sabe o que é importante para o nosso cancioneiro, reconhece a importância da oportunidade de trabalhar com Vinícius de Moraes hoje, sem dúvida, o grande ídolo da MPB - mas sabe que também tem um trabalho individual a desenvolver. E sabe mais: que hoje, ele e Vinícius, estão entre os poucos artistas brasileiros capazes de oferecer ao público jovem uma música de boa qualidade, capaz de ser aceita/consumida/ admirada, nesta hora de crise, em que o (pior) pop elétrico inflaciona o mercado e liquida com o nosso cancioneiro fazendo com que tantos jovens desconheçam a nossa música.
Enfim, são muitos os motivos que fazem Toquinho merecer a admiração. Seja por uma música como "O Filho Que Eu Quero Ter" (gravado por seu amigo Chico Buarque, no excelente lp "Sinal Fechado", Philips, Dezembro/74), seja pela alegria saudável que transmite no lp gravado com Vinicius (Philips, maio/74) ou seja por este seu novo lp individual ("Boca da Noite", RGE, 303.0029, Dezembro/74).
Foi na RGE que há nove anos, muito antes de conhecer Vinícius e quando era, ao lado de Chico, um jovem paulistano que gostava de tocar violão (aluno de Paulinho Nogueira) e compor, que Toquinho fez seu primeiro lp ("A Bossa do Toquinho", FB-137, selo Fermata, produção de Manoel Barenbein). Naquele disco em que aparecia na capa, em smoking e compenetrado ao violão Toquinho não apresentava nenhuma de suas musicas, mas em compensação solava até uma das raras composições de Elis Regina ("Triste Amor Que Vai Morrer", parceria com Walter Silva), sua namoradinha na época.
Esta ligação sentimental com a RGE, faz com que direitos de gravar na Phonogram e continuar a fazer também seus discos na fábrica paulista agora em processo de recuperação do antigo prestigio.
"Boca da Noite" está entre os bons discos do ano, com Toquinho mostrando algumas composições, solando outras, mostrando admiração por algumas composições que gostaria de ter feito: "Vamos Chamar O Vento", "Na Cancela", de Dorival Caymmi; "Ingênuo" de Pixinguinha/ Benedito Lacerda; "Asa Branca" de Luiz Gonzaga - Humberto Teixeira. Especialmente importante o fato de Toquinho ter gravado uma música de Canhota da Paraiba ("Tua Imagem"), notável violonista que reside em Recife, de grande influência em alguns músicos, mas totalmente desconhecido do público. Com seu grande amigo Paulo Vanzolini, Toquinho compôs "Boca da Noite" ( que em 1968 já participou de um Festival de MPB, anterior assim a homônima composição de Sérgio Bittencourt, gravada por Luís Cláudio), "Noite Longa" e "No Fim Não Se Perde Nada" (esta com uma letra das mais interessantes, quase embrionária da obra-prima "O Filho Que Eu Quero Ter", que viria a fazer em Setembro/74 com Vinícius). Com Vinícius, Toquinho fez "Uma Rosa Em Minha Mão", com Geraldo Vandré é "Presença" e dele só - excelente letrista que também é - são "Lembrando Josh White", "aeroporto do Galeão, 1969" e "Sem Enredo". Um disco tão encantador quanto é Toquinho, um dos melhores caracteres de nossa MPB.
LEGENDA FOTO 1- Toquinho.
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