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Aramis

A visão social da música brasileira

Há 24 anos, quando ainda existia a euforia da música popular brasileira, e especialmente a Bossa Nova ter vencido nos Estados Unidos, José Ramos Tinhorão propôs uma reflexão em "Música Popular - Um Tema em Debate" (Editora Saga, 1966, reeditado pela JCM, 1969, esgotado). Mas seria três anos depois com "O Samba Agora Vai... A Farsa da Música no Exterior" (JCM Editores, também esgotado), que Tinhorão provocaria maiores iras. Para o jornalista que, em novembro de 1962, quando redator da então poderosa "O Cruzeiro", copidescando a matéria sobre o histórico concerto dos jovens bossanovistas no Carnegie Hall, em Nova Iorque, deu o título de "Bossa Nova Desafinou nos EUA", sete anos depois, tinha que mostrar que a chamada "invasão" musical brasileira na Terra do Tio Sam tinha outros aspectos a serem analisados. E que o buraco era mais em baixo... Se o seu primeiro livro ("A Província e o Naturalismo", Civilização Brasileira, 1966) tinha um enfoque literário, o restante de sua obra se voltou sempre à MPB: depois do mais polêmico deles ("O Samba Agora Vai..."), vieram estudos sobre "Música Popular / Teatro e Cinema"; "Música Popular - de Índios e Mestiços" (ambos de 1972, Vozes, esgotados); os três volumes da "Pequena História da Música Popular" (1974-1978); "Os Sons que Vêm da Rua" (1976); "Do Gramofone ao Rádio e TV" (Ática, 1981, ainda possível de ser encontrado). Nos últimos anos, publicou duas plaquetas: "Música Popular, Mulher e Trabalho" (edição Senac, 1982) e "Vida, Tempo e Obra de Manuel de Oliveira Paiva" (Fortaleza, 1986), além de "Os Sons dos Negros no Brasil" e "Os Negros em Portugal". Em "História Social da Música Popular Brasileira", Tinhorão funde muitas idéias que, avulsamente, já havia colocado em artigos e mesmo, indiretamente, em alguns de seus livros. Com uma precisão em que une a clareza didática, objetividade jornalística e a documentação de pesquisador sério - com 321 notas referenciais, extensa bibliografia e discografia, a análise de Tinhorão vai do século XVI - justamente das raízes portuguesas - até 1988, nas páginas mais atuais (e polêmica, provocando inclusive muitos "reviews" raivosos na imprensa brasileira), em cujo capítulo "Regime Militar de 1964: era do colonialismo musical, o movimento tropicalista e o rock brasileiro", que conclui pelo "colonialismo" de Caetano Veloso em fazer um disco na Nosuch Records, gravado nos EUA, com produção de Arto Lindsay e Peter Scherer, músicos que compõem a banda Ambitious Lovers. Este disco, aliás, está programado pela Polygram para sair nas próximas semanas no Brasil, já ao que consta o compositor este ano decidiu não fazer um novo álbum com faixas inéditas. Caetano e Tinhorão têm uma diferença que já vem desde 1966: uma das primeiras críticas arrasadoras de "MPB: Um Tema em Debate", foi publicada num jornal universitário de Salvador, assinada pelo então estudante da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia chamado Caetano Emanoel Viana Teles Veloso, então com 24 anos de idade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
12/08/1990

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