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Aramis

Quem tem medo de Tinhorão?

A participação de José Ramos Tinhorão em qualquer evento cultural é sempre uma atração. Jornalista, pesquisador e escritor dos mais sérios, este paulista de Santos tem uma obra das mais respeitadas que vai de "A Província e o Naturalismo" a um novo e profundo ensaio - "A MPB no Romance Brasileiro", que após quatro anos de espera de editora, possivelmente sairá no próximo ano, pela Art Editora, de Marcos Marcondes, o mesmo empresário que, há dez anos, concretizou a básica (embora hoje necessitando de uma segunda edição revista e ampliada) "Enciclopédia da Música Brasileira - Popular, Erudita e Folclórica". Em Tramandaí, durante os 4 dias do Seminário Acorde Brasileiro, Tinhorão foi não só uma das vozes mais ouvidas nos onze painéis realizados no ginásio de esportes municipal como foi requisitado para entrevistas. Sempre profundo e objetivo, Tinhorão não escondeu jamais suas posições críticas em relação aquilo que mais o preocupa - e do qual é o grande defensor: a cultura popular massacrada pelo colonialismo cultural e processo capitalista. Pessimista, ele não vê esperanças, "a não ser pela mudança do regime". xxx Assim, a participação de Tinhorão é sempre polêmica. Ironicamente, o crítico musical mais conhecido do Brasil está há 5 anos sem coluna. Sem mágoas ou ressentimentos, em seu raciocínio dialético, Tinhorão, ex-"Diário Carioca", ex- "Jornal do Brasil", tem uma clara posição a respeito: "É natural que eu seja incômodo aos veículos empresariais. Fico falando em artistas como Zé Cocô do Riachão, um mineiro velho e feio, quando a mídia exige que se promova Paulo Ricardo do R.P.M." xxx A ausência de Tinhorão na imprensa diária faz falta. Afinal, sua voz - por mais polêmica que seja - sempre foi em defesa daqueles aspectos da cultura brasileira que desaparecem frente às regras de marketing da indústria cultural. Em livros - como o que prepara agora sobre a presença do negro em Portugal - e eventuais ensaios e colaborações "free-lancers", além da participação em congressos e eventos, como o de Tramandaí (RS), de 11 a 14 deste mês, sente-se como o nosso País é carente de quem se volte à defesa de valores autênticos. Um exemplo do pensamento de Tinhorão está nesta página, em seu pronunciamento feito na abertura do seminário, durante o painel Colonialismo Cultural Interno.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
11
20/12/1986

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