Entre os melhores
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de outubro de 1981
Garanto que o Aramis - sempre rigoroso na elaboração de suas lista - vai colocá-lo como um dos discos do ano, assim que puder ouvi-lo. Esta para ser lançado "Sonhos de moço", o novo elepê de Francis Hime, quinto de sua carreira e um dos mais leves que ele fez. Embora seja aberto pela faixa "A tarde" (Francis * Olivia Hime), amorosa e delicadíssima, o disco - que já amarra por fora, pela pintura de capa feita por Cafi, na tristeza do semblante do menino - terá seu pique maior no molejo enebriante de "Amor barato" (Hime & Chico Buarque), algo assim em torno do que foi o impacto de "Meu caro amigo", mas que se aproxima mais da linha de "Pivete" e "E se", também frutos da mesma parceria. Os leves versos de Chico e a malícia bem aplicada em algumas frases, tipo "que dá mais que Maria Sem-vergonha" (que também pode ser aquela planta que nasce em qualquer lugar) dão à música a intimidade de velha companheira, já no contato inicial. Algo assim tão cativante quanto poder ouvir a voz infantil de Maria Hime - filha de Francis e Olívia - puxando o solo vocal de "Lua de cetim" (Francis & Olivia Hime) e incrivelmente afinada para uma criança de sua idade (aliás, entrando na moda de filho cantando com pai, que vai desde Gismonti até MPB-4). No final da faixa, a espontaneidade própria de uma criança, no "pare pai" após a quarta ou quinta repetição, por Francis Hime, de uma mesma frase.
Por isso, só o disco já valeria: por "Patuscada" (F. Hime & Cacaso), uma versão revisada da antiga lenda da "festa no céu" e pela reapresentação de "Doce vida" (F. Hime & Toquinho), já gravada anteriormente por Toquinho. Mas ainda há mais: há a nova e efervescente parceria com Milton Nascimento. No disco de Milton - que foi lançado há quase um mês - já está incluída a música "Sonho de moço", que Hime coloca como fecho em seu álbum e faz servir de título de seu novo trabalho. Dos dois também é "O farol" e "Homem feito" - esta contando com a presença vocal do próprio Milton Nascimento, belíssima.
Esse disco prende a atenção ainda pelo belo tratamento instrumental que foi dado a algumas faixas, como "Cachoeira" (F. Hime) - sem vocais - e a rica introdução de "Luz" (F. Hime & Nelson Ângelo), num repertório que ainda tem "Luar" (F. Hime & O. Hime) e "Hora e lugar" (F. Hime & Cacaso).
Arriscado seria dizer que este é o melhor trabalho de Francis Hime, tamanho é o equilíbrio entre os seus cinco discos. Mas, com certeza, já se pode afirmar que este é um dos melhores álbuns que a música brasileira conheceu em seus últimos tempos.
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