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Aramis

Oposiocionistas do 3 Marias querem derrotar oligarquia

Se a tendência oposicionista registrada nas eleições dos clubes do Paraná nos últimos anos for mantida, é certo que a atual diretoria do 3 Marias Clube de Campo tem seus dias contados. Pela primeira vez na história deste clube, fundado há 16 anos pelo comerciante José Pinto Ribeiro, surge uma chapa oposionista, disposta a colocar a boca-no-trombone e repetir ali o que, há cinco anos passados, ocorreu no Santa Mônica Clube de Campo: desalojar o grupo que desde a fundação domina a entidade. A tendência oposionista manifestada em clubes que, tradicionalmente tinham seus associados acomodados e reelegendo, tranqüilamente, os diretores, sofreu uma inversão quando, em 1977, o industrial Ari de Paiva Siqueira, resolveu encabeçar um movimento de sócios descontentes com a desatenção que o empresário Leonel Amaral tratava a muitos, reelegendo-se sempre na presidência do Santa Mônica, cargo que passou a ocupar desde a morte de Joffre Cabral e Silva (1914-1967). A derrota de Leonel Amaral e seu grupo, no Santa Mônica, foi um fato inusitado para a época - já que muitos acreditavam na invencibilidade dos fundadores do Santa Mônica. Ari Paiva de Siqueira, curiosamente - e como já aconteceu ao longo da história, com muitos líderes revolucionários que assumem o poder e não querem deixar mais os cargos - tentou a reeleição, quando foi derrotado por uma dissidência, que convenceu ao ex-ministro Ivo Arzua Pereira a assumir a presidência. Mais uma vez, a mosca-azul do poder voou e acabou picando até o incorruptível e respeitado ex-prefeito de Curitiba: no ano passado, Arzua - contrariando o que havia prometido em sua campanha dois anos antes, foi candidato à reeleição. O advogado Athos Santa Tereza Abilhoa encabeçou um movimento de oposição ao continuismo de Arzua, mas este conseguiu mais um mandato. xxx Estimulados pelo exemplo dos oposicionistas da Santa Mônica, também os sócios da Thalia, que assistiam, indolentes, o presidente José Vieira Sibut, ser constantemente reeleito, decidiram interromper o seu continuismo. O cirurgião-dentista Eolo Schwartz formou uma chapa que, mesmo enfrentando a organização de Sibut, conseguiu derrotá-lo. Aborrecido, Sibut afastou-se totalmente do clube e, algum tempo depois, faleceu. A diretoria de Schwartz chegou a contratar uma auditoria para examinar as contas de Sibut, mas nada foi provado e, findo os 2 anos, passou a presidência para Flávio Cini. Hoje, a Sociedade Thalia é criticada por muitos. Charles (Carlos Tavares), colunista de clubes de O ESTADO, garante que dos 4 mil associados da Thalia, menos de mil estão em dia. Charles também aponta o Santa Mônica como um dos clubes de pior programação do Estado. Com a segurança de quem circula intensamente na área, o colunista diz: - Hoje, se houvesse uma eleição e Sibut fosse vivo, ele seria reconduzido à presidência da Thalia. xxx Charles é defensor do 3 Marias Clube de Campo. Garante que é hoje o melhor clube do Paraná. Entretanto, ali existe um movimento oposionista ao presidente Murilo Lessa Ribeiro, filho do fundador-incorporador, José Pinto Ribeiro. Um ex-diretor social do clube, Jorge Gazal, com antecedência de 3 meses, decidiu partir para a denúncia de irregularidades existentes na entidade e criou a chapa "Liberdade e Justiça". Numa mala-direta, de 4 folhas, Gazal - nome até agora pouco conhecido fora da área clubística, faz várias acusações e, corajosamente, já dá o nome e endereço de sua advogada - Idilma Perez Carvalho (Rua Dr. Murici, 970, 14o andar), a quem deverão ser encaminhadas "eventuais representações judiciais ou contestatórias contra o signatário". xxx De certa forma, muitas das acusações que Jorge Gazal faz [à] "dinastia que se perpetua no poder há 16 anos", no 3 Marias Clube de Campo, lembra os manifestos feitos por Ari Paiva de Siqueira, quando enfrentou o grupo de Leonel Amaral. Além do continuismo, poderes imensos concentrados na assembléia geral, emissão de milhares de títulos, contratos com empresas particulares para a negociação dos mesmos. Assim, diz Gazal que "O 3 Marias mantém contrato com a Santa Cândida Empreendimentos, que recebe 40% sobre o preço de venda de cada título do Clube. "Se o clube vendeu Cr$ 60 milhões em títulos nos últimos 20 meses, Cr$ 24 milhões foram para a incorporadora, importância esta, superior ao valor do patrimônio do 3 Marias". A mesma incorporadora recebe, ainda, 15% a título de taxa de administração e construção das obras e só a edificação do ginásio de esportes - orçado em Cr$ 15 milhões - deverá proporcionar a Santa Cândida, Cr$ 2.250.000,00. De 3.100 títulos patrimoniais, o 3 Marias aumentou para 7.000 títulos. O líder da oposição da família Ribeiro, lembra ainda outros fatos: "como justificar o fato do Clube não possuir Cr$ 2 milhões em caixa para dar de entrada na compra do terreno onde estão localizadas as quadras de tênis?". xxx Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher - diz o ditado popular. Em brigas de clubes, também o assunto fica restrito às partes em debate. Só que, como simples registro do quotidiano comunitário, não deixa de ser curioso que, após 16 anos de inércia, os opositores do 3 Marias Clube de Campo, tenham despertado. E assim como ocorreu na Thalia e no Santa Mônica, na vontade de renovar, derrubando os que se mantém no poder, está um reflexo psicológico de uma situação nacional. Afinal, o 3 Marias nasceu praticamente junto com a Revolução de 31 de março de 1964. E agora, quando a Abertura mostra que, pela primeira vez, a oposição poderá chegar ao poder em alguns Estados, também os sócios do 3 Marias poderão desejar ter presidente que não tenha o sobrenome Ribeiro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
7
11/10/1981

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