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Aramis

Grupos Vocais

Quando o MPB-4 fez o lp "Antologia do Samba", nem a própria Philips imaginou que estava criando uma nova série. O sucesso da "Antologia do Samba-Canção" com o Quarteto em Cy e a boa vendagem que, por certo, a "Antologia do Chorinho", com Altamiro Carrilho, alcançará, garantirão a continuidade desta nova coleção, onde já está prevista, um novo disco do Quarteto em Cy, desta vez com Cirandas.. E como os bons exemplos devem ser imitados, a Continental, astutamente, está lançando "Marcha-Ranchos/ Sucessos Antológicos", com Os 3 Moraes, bom grupo vocal que andava meio ausente nos últimos anos, principalmente pelo trabalho de Sidney Moraes como um dos mais eficientes produtores da Continental. Os 3 Moraes, formado no início pelos irmãos Roberto, Sidney e Jane Moraes (hoje substituída por Vera Lucia), chegou a ter uma fase de prestígio, contratados da Odeon e com muitas excursões, inclusive em Curitiba, no final dos anos 60. Com um estilo suave, vocalizações inspiradas, Os 3 Moraes fizeram falta durante os anos que passaram sem gravar, de forma que este retorno, cantando 12 belíssimas marchas-ranchos é bastante auspicioso. Embora sejam músicas conhecidíssimas, a exemplo dos discos do MPB-4 e Quarteto em Cy, Os 3 Moraes conseguiu dar uma nova roupagem a todas as faixas, no que contou muito, sem dúvida, os arranjos e regências dos maestros Messia Santos Júnior, Ricardo Albano e Edson José Alves. A faixa mais interessante é sem dúvida "História de Pescadores", em cujo final é cantado em adaptação de Sydney Moraes, um Kyrie, "para dar idéia de canto gregoriano". Em outros momentos do disco ouvem-se também sons de rua, praia ou carnaval e nas dobras do vocal, houve a colaboração de Maria Aparecida de Sousa (Cidinha). Pelo bom gosto do repertório, a boa idéia de Ramalho Neto, resultou numa produção sóbria de Wilson Miranda, marcando assim bem o reaparecimento d'Os 3 Morais. Faixas: "Pastorinhas" (Noel Rosa / Carlos Braga), "Máscara Negra" (Zé Keti - Pereira Matos), "Marcha da Quarta-Feira de Cinzas" (Carlos Lira - Vinícius de Moraes), "Andorinha" (Silvio Caldas), "Dama das Camélias", "Mal Me Quer" (Newton Teixeira - Christovão de Alencar), "Estrela do Mar" (Marino Pinto - Paulo Soledade), "Estão Voltando As Flores" (Paulo Soledade), "História de Pescadores" (Dorival Caymmi) e "Noite dos Mascarados" (Chico Buarque de Hollanda). xxx Justificando o repertório de "Dez Anos Depois" (Philips, 6349144, novembro/75), os quatro componentes do grupo disseram a jornalista Emília Silveira (JB, 27/10/75) que ele reúne as músicas "que aconteceram nesse tempo e que passou por nós sem que tivéssemos oportunidade de gravar". Enfim, a reunião de músicas que gostam mas que foram lançadas por outros intérpretes. Assim como "Antologia do Samba", no ano passado mostrou que velhas canções podem adquirir um novo feeling, o mesmo repete-se agora, com este belíssimo lp, produzido por Paulinho Tapajós e que mostra mais uma vez porque, nos dias atuais, o MPB-4 é o mais importante grupo vocal brasileiro, Rui, Magro, Aquiles e Miltinho estão comemorando dez anos de carreira e o balanço é positivo: 10 lps, vários compactos, empresa de produção independente (APC), equipamento de som próprio e programação acertada para os próximos 12 dias. Interromperam a temporada de "República do Ugunga" (Teatro Fonte da Saudade, RJ) para, ao lado do Quarteto em Cy e de Elizeth Cardoso, estrearem um espetáculo em homenagem ao compositor João de Barro ("O Rio Amanheceu Cantando"), produzido por Carlos Machado para uma nova casa de shows na noite carioca ("Viverá"). O MPB-4, como conjunto vocal independente, tem poucos anos de vida. Ficou conhecido, primeiramente, como acompanhante - apoio de cantores, sobretudo de Chico Buarque. Mas, depois de 1968, quando os cantores ligados ao grupo saíram do Brasil, o MPB-4 passou a se preocupar em fazer shows isoladamente, fórmula que funcionou. Hoje lotam qualquer auditório - como provaram na s4 temporadas feitas em Curitiba. A discografia do MPB-4 já é respeitável e afora suas participações em vários festivais, basta lembrar a gravação que fizeram de "Amigo é pra Essas Coisas" (Aldir Blanc / Silvio Silva), que Ruy Faria, classifica como "uma espécie de ressurreição". "Nós já tínhamos uma firma, tentávamos fazer alguma coisa mas não resultava em nada. Quando a música estourou nas rádios, começaram a surgir os convites. Com esse exemplo, a gente pode ver que a base do trabalho do artista é o disco. Viajamos durante dois anos pelo Brasil e, na volta, partimos para a montagem de "Republica do Peru". Daí em diante, tudo bem. Do ponto-de-vista de mercado, é claro". "Dez Anos depois" é um elepê importante. Importante pela sinceridade com que foi produzido, pelos excelentes músicos que ampararam cada uma das faixas e pelo bom gosto do repertório. E nem poderia ser diferente, tratando-se de um disco deste admirável MPB-4. Faixas: "De Frente Pro Crime" (João Bosco / Aldir Blanc), "Manhã de Carnaval" (Luiz Bonfá / Antonio Maria), "Galope" (Gonzaga Jr.), "Canto Triste" (Edu Lobo / Vinícius de Moraes), "Passaredo" (Francis Hime - Chico Buarque), "Ana Luiza" (Tom Jobim), "Pressentimento" (Elton Medeiros - Hermínio Bello de Carvalho), "Praias Desertas" (Tom Jobim / Vinícius de Moraes), "Amei Tanto" (Baden / Vinícius), "Evangelho" (Dory Caymmi / Paulo Cesar Pinheiro), "Assim Seja Amém" (Gonzaga Jr - Miltinho) e "Vera Cruz" (Milton Nascimento - Márcio Borges).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
25
16/11/1975

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