Continua a ótima safra de nossa música instrumental
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de agosto de 1990
Domingo passado falamos de bons discos instrumentais que têm aparecido neste ano. Especialmente pequenos selos - como a Kuarup, Som da Gente, L'Art, Visom e, agora, a Caju Music, além da Chorus, tem valorizado nossos bons instrumentistas-compositores, os quais saindo de um lado cinzento de acompanhantes dos ditos "canários" (superstars da canção) adquirem vida própria.
Mauro Senise (flauta/clarinete/sax) e Gilson Peranzetta, por exemplo, estão com um esplêndido álbum, produção da Visom, que poderá figurar entre os melhores do ano - e cujos méritos aqui foram destacados, na semana passada, pelo crítico paranaense (mas há anos no Rio), Roberto Muggiati.
Outros bons discos merecem registros nesta safra promissora - apesar das limitações advindas do Plano Collor, retração do mercado - mas que, em compensação, obriga os nossos músicos-compositores e já pensarem em trabalhos de nível internacional, como, aliás, vem fazendo virtuoses como Sebastião Tapajós, cujos discos têm um mercado internacional.
Internacionalizar suas produções é meta do germano-brasileiro Peter Klam, que com muitos anos de experiência e após ter presidido a Barclay/Ariola, criou este ano a etiqueta Caju Music, cujo primeiro suplemento a EMI/Odeon começa a distribuir. Reeditando alguns títulos excelentes (como "Brasil em Seresta", com o violonista Baden Powell, lançado há 2 anos por Aluizio Falcão, da Idéia Musical), mas que haviam passado despercebidos, ou com novas produções, a Caju traz produções do primeiro nível. A primeira a chegar para divulgação é "Gosto de Brasil", com o violonista Nonato Luiz, mais um cearense que Fagner lançou anos atrás, pela CBS, e que embora fazendo uma carreira sólida ainda não chega a ser um nome popular.
Agora, ensaiando uma carreira internacional - a partir de setembro, com concerto no Mozarteum, na Áustria, seguida de apresentações em outros países europeus e lançamento de seu álbum "Mosaicos", em CD, Nonato pode ser apreciado em toda sua arte em "Gosto de Brasil", para cuja produção o percussionista e diretor artístico Djalma Corrêa, um dos mestres de seu instrumento, convocou o grande baixista Luiz Alves (durante estes últimos anos, o fiel companheiro de Luis Eça) e, como participações especiais, a excelente cantora Clarice Grova e o flautista Mauro Senise em "Mangabeira" e "Choro Acadêmico", respectivamente, composições do próprio Nonato - autor, aliás, de 7 das faixas do álbum, que abre com quase 14 minutos de homenagem a Luiz Gonzaga, com uma "Suíte Nordestina" (5 temas) e mais "Estrada de Canindé" e "Qui nem Jiló". O lado de compositor de Luiz Alves pode ser apreciado em "Minha Esperança", parceria com Luiz Paiva - em arranjo de Nonato Luiz, enquanto temas conhecidíssimos são revelados com imaginação: "Disparada" (Theo de Barros / Geraldo Vandré) e o tradicional "Maria Bonita".
LEGENDA FOTO - Nonato, Djalma, Clarice e Luís: "Gosto de Brasil".
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