As revelações de um mestre da pesquisa
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de agosto de 1990
A leitura de "História Social da Música Popular Brasileira", de José Ramos Tinhorão, é indispensável para quem pretenda ter uma visão maior da evolução de nossa música. Concorde-se ou não com os pontos de vista do autor, a seriedade de seu trabalho e a riqueza de informações envolvem o leitor reflexionar sobre aspectos até então passados desapercebidos.
Embora basicamente seja um ensaio, o livro é agradável, objetivo e tem várias revelações - muitas das quais, modestamente, Tinhorão reserva para as 48 páginas finais.
Embora seja difícil fazer destaques, tantos são as anotações que José Ramos Tinhorão buscou em diferentes fontes, algumas informações merecem transcrição.
Neste momento em que a "Voz do Brasil" substitui a polifonia de "O Guarani" (Carlos Gomes) pela exaltação de "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso) como prefixo, é curioso o que lembra Tinhorão em relação a visão que Getúlio Vargas tinha da importância da música (e dos artistas) para a sua boa imagem: "(...) Ele não apenas ordenou a criação de uma "Hora do Brasil" na Rádio El Mundo, de Buenos Aires, logo no início de sua gestão como ditador do Estado Novo (instituído em novembro de 1937), mas ao receber Carmen Miranda e os músicos do Bando da Lua na estação balneária de Caxambu na penúltima semana de abril de 1939, recomendou à cantora que não aceitasse o convite do empresário Lee Schubert, da Broadway, sem a inclusão dos músicos brasileiros que a acompanhavam".
A União Nacional dos Estudantes, que sempre combateu a presença americana no Brasil, recebeu, em 1942, quando também era contra a ditadura de Vargas, uma vitrola de presente de Nelson Rockfeller.
Uma entrevista de Roberto Carlos ao curitibano Tato Taborda, então (14/06/1970) repórter da "Última Hora", Rio de Janeiro, com o título "Enfim: O Rei se Define", é utilizada por Tinhorão para mostrar a alienação, comodismo e indiferença política do "Rei da Juventude", que enriquecendo à sombra da ditadura militar pós-64, jamais tomou qualquer atitude digna em termos de defesa de valores nacionais, solidariedade a colegas e mesmo contra a Censura, limitando-se a faturar em torno de sua música digestiva, de fácil consumo. Na entrevista, RC declarava, inclusive, sua posição política: direita.
Analisando a época dos megashows de rock que começaram a acontecer no Brasil a partir dos anos 70, relembra Tinhorão que "quando em fevereiro de 1973 se noticiou a realização, em Londrina, no Estado do Paraná, a realização de uma das primeiras imitações brasileiras dos "concertos" de rock ao ar livre norte-americanos - e a denominada 1ª Colher de Chá, realizada em um clube de campo situado em Cambé, um quilômetro fora da cidade - uma das atrações era o equipamento de "quase quatro toneladas de som" num palco de quinze metros de frente e sete metros de fundo.
Tinhorão se confundiu nos nomes das cidades - mas isto não invalida seu comentário.
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