As Big Bands estão de volta
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de setembro de 1990
Duke Ellington, Benny Goodman e Count Bassie nunca passaram por Curitiba. Mas Harry James (1916-1983), já no final de sua vida, tocou no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto e, mostrando vigor, ainda encontrou tempo para ter um night date com uma esplendorosa loira, convenientemente apresentada por um conhecido publicitário de boas relações sexuais. A loira, que alguns viram com semelhanças com a atriz Betty Gable (1916-1973), com quem ele esteve casado por 22 anos (1943-1965), acabou saindo do Mabu Hotel, onde o pistonista e band-leader esteve hospedado, com uma nota de US$ 100 na bolsinha.
Glenn Miller, ao vivo, nunca passou por aqui - pois morreu nas vésperas do natal de 1944, quando, como major-músico da USAF, deixou Londres para reger um concerto em Paris. O avião caiu sobre o Canal da Mancha e a sua fama cresceu. Tanto é que até hoje existe uma orquestra com seu nome - da qual, naturalmente, não há nenhum sobrevivente da banda original.
E esta Glenn Miller's Band excursionou pelo Brasil há alguns anos, quando a inclusão de "Moonlight Serenade" na trilha sonora da telenovela "O Casarão", provocou uma redescoberta por sua música. No auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, em junho de 1980, a orquestra atraiu nostálgicos coroas e alguns jovens - que mesmo tendo a motivação de que poderiam, no intervalo, dançar no palco, não foram suficiente para lotar o auditório.
Woody Hermann (1913-1987), a frente de uma das últimas formações de sua big-band também teria tocado numa noite dos anos 50 no mesmo - só que então em obras, numa excursão que a então generosa USIS financiou e que incluiu várias capitais brasileiras.
Foram momentos esparsos em que se viu a música de big bands, ao vivo, em nosso teatro. Uma música que nossos avós e pais acostumaram-se a ouvir a partir dos anos 20, cresceu nas décadas de 30 a 50 e após o eclipse sofrido nos negros sessenta - com a invasão do rock - parece ressurgir. Alguns exemplos.
Nos Estados Unidos, existiriam hoje 934 FMs especializadas em divulgar a música das big bands.
Material para isto não falta: as grandes gravadoras - RCA, CBS, EMI-Odeon e inúmeros selos subsidiários - possuem acervos notáveis, dos quais periodicamente tem sido produzidas reedições - nos últimos anos remixados e com a perfeição do laser. Há oito anos, o respeitadíssimo Institut of Jazz Studies Official Adchive Collection, mantido pela The Franklin Mint Record Society da Pensylvannia, editou mais de cinqüenta caixas-álbum com o mais completo levantamento feito em torno da época das big bands, incluindo não apenas orquestras e músicos famosos, mas também formações menores - numa delas incluindo até um notável instrumentista. John Young, pai do professor Phil Young, 49 anos, 24 de Brasil e que hoje dirige uma das melhores escolas de inglês em Curitiba.
Outro exemplo: em seu mais recente catálogo, a Daybreak Express Records (P. O. Box 150250, Van Brum Station, Brooklyn, mais de 30 álbuns de grandes orquestras - em versões CDs e fitas (o disco convencional, praticamente desapareceu nos EUA).
Portanto, nunca a música dos anos 20 a 50 esteve tão viva. Seja em gravações, em imagens (há dezenas de vídeos, infelizmente raros lançados no Brasil, com cenas de filmes, programas especializados começam a serem apresentados em algumas rádios - como a Ouro Verde, com o expert em jazz Caetano Rodrigues, dono a maior coleção em jazz/CD no Paraná. Na Estadual, dentro da reformulação de programação, um especial semanal sobre a época das big bands também é cogitado por Sale Wolokita.
Ao vivo, dois veteranos músicos-band-leaders desta Curitiba velha de guerra mantém suas orquestras: o rijo Osval Siqueira Dias, 61 anos, 43 de pistom e Genésio Ramalho, 70 anos, cuja big band foi reestruturada especialmente para embalar sonhos nostálgicos - e romances presentes - dos endinheirados frequentadores do All Seasons no Bourbon Hotel.
Assim, nada mais natural do que se possa ouvir - também em discos a música harmoniosa, suave, da época em que metais, formavam desenhos harmoniosos em imagens musicais inesquecíveis. Exemplo disto são dez volumes da série "The Best of Big Bands", uma preciosa coleção que a CBS lançou há poucas semanas - ampliando o seu já vasto catálogo do melhor jazz que, remexendo os acervos, Maurício Quadrio tem sabido produzir para que brasileiros de todas as idades possam conhecer mais esta música que somente melhora com o tempo.
LEGENDA FOTO 1 - Harry James, no finalzinho de sua vida, ainda vigoroso: fez um concerto no Guaíra e acabou a noite com uma bela loira.
LEGENDA FOTO 2 - Woody Herman: nos anos 50, também passou com sua big band por Curitiba e tocou no Guaíra, então em obras. Bons tempos que o governo americano patrocinava excursões de grandes orquestras ao Brasil.
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