Em Santa Catarina, uma "Manhã" de novos tempos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de setembro de 1990
Há dez dias, 24 de agosto, no Cinema N. Sra. do Desterro do Centro Integrado de Cultura, em Florianópolis, aconteceu uma sessão histórica: a primeira exibição de "Manhã", produzido pelo Departamento Artístico Cultural da Universidade Federal de Santa Catarina (será que algum dia a nossa septuagenária e artereosclerosada universidade faria o mesmo?)
há 33 anos que não se produzia um filme catarinense em 35mm. A última (e de certa forma frustrada) experiência foi o longa "O Preço da Ilusão", que um grupo de idealistas (Salim Miguel, Ilmar de Carvalho etc) tentou rodar em 1975 através do então atuante "Grupo Sul". Nestas três últimas décadas, entretanto, produziram filmes em super-8 e 16mm, vídeos, empreenderam-se pesquisas, além de um grupo lutar para ali instalar uma Cinemateca.
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Rodado em 35mm, com roteiro do gaúcho Tabajara Ruas, baseado no poema "Morte do Leiteiro", de Carlos Drummond de Andrade (que em 1987, pouco antes de morrer, autorizou a sua adaptação), "Manhã" tem direção dos jovens José Henrique Nunes Pires e Norberto Verani Depizzolatti. Cido Marques, funcionário da Cinemateca do Museu Guido Viaro, fez a fotografia - numa colaboração aliás iniciada já há anos com realizadores barriga-verdes, especialmente nos curtas em 16mm de seu amigo Mauro Faccioni Filho, paranaense ali radicado. Antes de tudo, "Manhã" - independente de qualquer apreciação crítica - vale por ter aglutinado um grupo de entusiastas, tanto em sua parte técnica como no elenco, pois ao lado do mais idoso ator catarinense, Waldir Brazil, 70 anos, 52 de teatro amador, houve a participação de outros intérpretes. José Henrique e Norberto V. Depizzolatti são jornalistas (o primeiro também administrador de empresas; o segundo engenheiro) e, juntos batalharam pela criação da Cinemateca Catarinense, realizaram filmes em vídeo e 16mm e escreveram o livro "O Cinema em Santa Catarina", resultado de anos de pesquisas.
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Outro jornalista radicado em Florianópolis, o paranaense Eduardo Paredes, 30 anos - irmão caçula de Berenice Mendes ("A Classe Roceira"), conseguiu concluir, há algumas semanas, o curta "Memórias do Deserto", produção financiada pela Prefeitura de Florianópolis (que belo exemplo!) e que apesar de ser uma produção difícil, com reconstituição de cenários de época, conseguiu bons resultados conforme mostra o copião já visto por alguns profissionais. Para que Eduardo Paredes pudesse administrar uma promoção em 35mm, em nível profissional, a mão-forte foi da incansável Lu Rufalco, que com a experiência de mais de 20 curtas, em várias bitolas e ter preparado toda a pré-produção de "O Drama da Fazenda Fortaleza", quase que de graça passou mais de três meses na capital catarinense. De volta a Curitiba, Lu e Berenice, da Dokumenta produções, associaram-se a Nanani e Suzi Albino ("Zona Franca") e Osvaldo Flazi ("Usina Vídeo"), para criar a Estúdios Unidos que, nesta fase eleitoral, está realizando vídeos para várias campanhas, "num trabalho profissional, independente, que nos permita respirar economicamente e, futuramente, voltaremos a sonhar em fazer cinema de idéias, criativo, em nosso Estado, onde é tão difícil conseguir apoio", diz Lu, com sua honestidade.
LEGENDA FOTO 1 - Jornalista Zeca Pires, diretor de "Manhã", primeiro filme em 35mm, realizado por catarinenses em 33 anos. Seu lançamento aconteceu há 10 dias.
LEGENDA FOTO 2 - O cineasta Frederico Fullgraf (à direita, em pé) - ao lado do fotógrafo Joe di Gennaro (um sósia de Francisco Alves dos Santos, da Cinemateca do Museu Guido Viaro) durante filmagens em Nova York, em novembro de 1987, de seqüências que serão aproveitadas em seu documentário sobre "Átomos para a Paz". Frederico será o intérprete do crítico Hans-Joachim, que inicia amanhã seminário sobre "Os Filmes da Perestroika" no Goethe Institut.
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