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Berenice, liderança para o nosso cinema

Nasce uma nova liderança na cinematografia. Uma morena mignon, de aparência frágil mas, na realidade, muito firme e segura em suas colocações: Berenice Mendes. Ex-presidente da Associação Brasileira de Documentaristas - seção do Paraná, Berenice foi grande líder da reunião do conselho nacional da ABD, que se reuniu em Curitiba na semana passada, em promoção da Fundação Cultural e Embrafilmes. Independentemente dos documentos aprovados no encontro - "Carta de Curitiba" e várias moções, desde as que vão de questões diretamente relacionadas ao interesse dos realizadores de curtas e médias metragens, até a posições puramente políticas (como as envolvendo questões da reforma agrária), a reunião de mais de 40 delegados, representando as associações de comentaristas de 12 Estados acabou por designar Berenice para representar todos os realizadores cinematográficos que trabalham fora do eixo São Paulo-Rio de Janeiro. Assim, Berenice Mendes terá, de agora em diante, assento na comissão de assessoramento da área cultural da Embrafilmes, com uma grande responsabilidade profissional. xxx Desde cineastas experientes - como o veterano Mário Kupermann, que já fez mais de 15 filmes de longa-metratem - até jovens ainda em busca de condições para realizarem seus primeiros curtas, os participantes da reunião discutiram inúmeras questões relacionadas ao mercado paralelo, as leis de incentivo à produção, a concorrência do filme estrangeiro, etc. Das mais atuantes foi também a presença da bela e simpática Isa de Castro, cineasta e hoje gerente-executiva da Cinema Distribuição Independente - depois da Embrafilmes, a maior distribuidora cinematográfica no Brasil. Três delegados de Santa Catarina - o professor Mauro Pommer e os jovens Jair e Clóvis - trouxeram informações sobre a criação de uma cinemateca em Florianópolis, enquanto Romeu Grimaldi, diretor da Cinemateca Paulo Amorim, de Porto Alegre, firmou convênios com Francisco Alves dos Santos, para maior integração das atividades da instituição gaúcha com a Cinemateca do Museu Guido Viaro, criada há 40 anos e hoje já consolidada nacionalmente. xxx Em todas as sessões, Berenice Mendes teve participação ativíssima. Sempre simpática, mas com energia, conseguiu disciplinar as reuniões quando a temperatura política aumentava e obter resultados práticos, consubstanciados nas inúmeras moções aprovadas e, especialmente na vigorosa "Carta de Curitiba" que, entre outros pontos exige de parte da Embrafilmes um mínimo de 15% da receita da empresa para aplicação na produção de filmes de curta-metragem, bem como a descentralização através de centros regionais de produção, "como fator de fortalecimento da atividade cinematográfica e legitimação da representatividade nacional da ABD, que ao congregar hoje, o maior número de realizadores do cinema nacional é a única entidade capaz de agir na defesa dos interesses do filme cultural". Realmente, a produção de curtas e médias metragens tem crescido em termos qualitativos - mas ainda sem condições de comercialização - permanecendo importantes filmes inéditos nos circuitos comerciais. Apesar do chamado mercado alternativo - escolas, sindicatos, associações, cineclubes - ainda há poucos canais para exigirem os filmes de metragem menor, muitos premiados em festivais de cinema - além da Jornada Nacional, que se realiza, em setembro de cada ano, em Salvador. xxx Vindo do super-8 - onde começou fazendo um curta sobre a visita do Papa João Paulo II a Curitiba - Berenice tem lutado pelo seu espaço em nosso cinema, realizando, no ano passado, o interessante média-metragem "A Classe Roceira", sobre os sem-terras no Sudoeste. Apesar de muitos projetos cinematográficos - incluindo um sonhado longa sobre o ciclo do café no Norte do Estado - Berenice vem usando tempo e energia num trabalho amplo, junto à Associação Brasileira de Documentaristas. Seus esforços foram reconhecidos, pela merecida promoção que teve durante a reunião do conselho nacional da entidade, mostrando assim que já há no Paraná uma nova geração de cineastas, honestos, bem intencionados e talentosos - que não buscam o protecionismo oficial e a autopromoção como busca de sobrevivência. Ao contrário, trabalham e fazem muito por todos - sem posições egoístas e antipáticas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
06/06/1986

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