Berenice grava depoimento com Lupion para a nossa história
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de setembro de 1990
Um grande hiato de nossa história política começa a ser preenchido: ao gravar um depoimento de 80 minutos com o ex-governador Moysés Lupion, 82 anos - completados em 25 de março último, excelente disposição e que retornou há pouco da Europa, a cineasta Berenice Mendes, conseguiu a viga-mestre para importante documentário sobre um dos homens públicos mais famosos do Paraná - e, infelizmente, praticamente desconhecido (e mal-interpretado) junto a história política contemporânea.
O depoimento de Moysés Lupion - que longe de esgotar o tema para um homem de origens humildes, que aos 45 anos era um dos empresários mais ricos do Brasil - antes de ser eleito governador pela primeira vez, em 19 de janeiro de 1947, é apenas o fio-condutor para um trabalho amplo, com as palavras de contemporâneos, informações adicionais e, especialmente, um trabalho de reconstituição visual - fotos, documentos e mesmo filmes da época em que foi Governador, - poderá resultar num trabalho fascinante. Absorvida atualmente em trabalhos políticos para vários candidatos atendidos pela Estados Unidos - surgida da fusão da Dokumenta Filmes, que tinha em sociedade com Lu Rufalco, mais a Solar Produções Cinematográficas das irmãs Nanani e Suzi Goes e a Usina Vídeo, de Osvaldo Fiovi - Berenice não tem pressa de mergulhar neste novo projeto. O importante foi ter conseguido o depoimento de Lupion - e de cuja entrevista, tivemos a honra de participar, com emoção, e cujos trechos ocuparão espaço especial no ALMANAQUE dominical.
Com grande vitalidade, elegante, bem humorado, feliz ao lado da esposa Vilma - dedicada companheira nestes últimos 21 anos o Sr. Moysés Lupion tem muito ainda a contar sobre o Paraná dos anos 30 a 60, e, em especial dos anos em que foi o Governador, eleito por voto direto - obtendo - 91.059 votos em 1947: 185.108 oito anos depois, quando voltou ao Governo - e que agora vê seu neto, Abelardo Lupion Mello, 38 anos, lançar-se na vida política como candidato a deputado federal.
Tendo marcado uma época da vida política do Estado, último dos políticos de sua geração, pessedista até o final de sua participação pública, até hoje apenas um livro, com maior profundidade, havia sido escrito a seu respeito, "Lupion, a verdade", de seu amigo e advogado Raul Vaz, lançado há quatro anos passados e com várias edições esgotadas. Afinal, para quem mereceu, por tantos anos, os votos dos paranaenses e soube suportar anos de ostracismo, a sua palavra - e o que escrevem a seu respeito - continua a interessar.
Berenice Mendes, 33 anos cineasta premiada ("A Classe Roceira", vencedor do II Festival Brasileiro de Fortaleza, 1986), e que não pode ainda deslanchar seu projeto maior - o longa "O Drama da Fazenda Fortaleza", baseado na obra do professor David Carneiro (1904-1990), ao iniciar um documentário em vídeo sobre Lupion e sua época, mostra, mais uma vez, seu amor ao Paraná - e a importância de torná-lo mais conhecido através de imagens & dados.
Falando em Berenice, na quinta-feira viajou ao Rio de Janeiro para participar da assembléia geral dos acionistas da Embrafilme, a qual seria apresentado o relatório de atividades da empresa, balancete e disposição de recursos - já que embora encerrada por decisão do presidente Collor de Mello, em 16 de março último, legalmente ainda existe - tendo como presidente-liquidante o cineasta Adnor Pitanga. Berenice representa o Governo do Paraná, acionista minoritário da Embrafilme desde a sua constituição. No dia 27 de setembro, Ipojuca Pontes, secretário de assuntos culturais do Governo Collor, deve vir ao Paraná, ocasião em que a classe cinematográfica local lhe apresentará uma série de reivindicações.
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