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Lupion, a volta depois de 20 anos de silêncio

Há algumas semanas, repórteres de jornais e revistas nacionais estão tentando, mais uma vez, arrancar alguma declaração do ex-governador Moyses Lupion, 72 anos - praticamente há 20 num total ostracismo. Nestas duas décadas - desde que deixou o governo do Estado, algumas horas antes da posse de Ney Braga, que recebeu o cargo das mãos do deputado Guataçara Borba Carneiro, já falecido, então presidente da Assembléia Legislativa, o nome de Lupion tem sido sempre associado às notícias mais desagradáveis, levando-o a um natural distanciamento da imprensa. Agora, com a abertura política e fazendo questão de frisar "de que que não foi beneficiado pela anistia - mas sim, conseguiu absolvição de todos os processo em que era acusado, por falta de justas provas", o homem que, em dois períodos (1947 / 1951 d 1956 / 1961), por eleições diretas, governou o Paraná, passa a ser namorado pelos novos partidos - embora, até o momento, não tenha dado nenhuma definição a respeito. O jornalista Luís Manfredini, do "Jornal do Brasil", passou toda uma semana tentando focalizar Lupion. Não conseguindo, levantou ao menos um quadro político ao seu redor, principal matéria na página 3, da edição de segunda-feira, 14, do "Jornal do Brasil". Hélio Teixeira, chefe da Sucursal da Abril no Paraná e Santa Catarina, também se interessou em fazer o posicionamento do antigo chefe do PSD e mesmo o advogado Raul Vaz, ex-secretário de Estado nas duas administrações de Lupion, animou-se a concluir um livro que vem prometendo no mínimo há 15 anos: "Lupion: A Verdade". Advogado particular de Lupion, convivendo intimamente com o mesmo e tendo integrado seu staff, Raul Vaz, conselheiro aposentado do Tribunal de Contas, pode, obviamente, dar um depoimento importante sobre Lupion, cuja importância - independente de acusações, críticas, etc. - dentro da história política do Paraná, não pode ser simplesmente esquecida. Afinal, coube a ele dirigir o Paraná em dois importantes períodos administrativos, nas décadas de 40 / 50, quando houve a penetração para o Note e Oeste / Sudoeste, além de uma transformação na própria região Sul. mesmo inimigos figadais do ex-governador se mostram cautelosos a falar a respeito. O ex-deputado Walter Pecoit, que há 23 anos foi um dos líderes da rebelião de 5 mil colonos contra desmandos de uma companhia de terras ligada ao governo, na região de Cascavel - e que posteriormente (1964), cassado e preso, foi espancado e perdeu um olho, falando a Manfredini, do JB, admite o retorno de Lupion à política, através do PMDB, embora frise ser "muito difícil para mim e para o Sudoeste do Estado absorver o Lupion, por tudo que aconteceu". Reconhece - na qualidade de membro da comissão regional provisória do PMDB, que a participação de Lupion no PMDB "viria somar uma área muito importante para o nosso partido, já que sua liderança foi legítima, até porque, independente dos erros que cometeu, foi eleito pelo voto direto do povo por duas vezes". Outro deputado cassado - e considerado a mais felpuda das raposas políticas do Estado, Anibal Khoury, que por anos foi a eminência parda da Assembléia Legislativa, acredita que Lupion conseguirá, "tranqüilamente", 100 mil votos para a Câmara dos Deputados, se se dispuser a concorrer nas próximas eleições. Confirma, assim, opiniões de observadores políticos que, há mais de 4 meses, já nos garantiam que Lupion seria eleito deputado "sem necessidade de sair de seu apartamento", conforme expressão de um de seus mais fiéis amigos e compadre, o médico Pio Taborda Veiga, que, na segunda administração de Lupion, dirigiu o então Departamento Estadual da Criança. xxx Quem tem mantido contatos com Lupion o tem visto como um homem tranqüilo, aparentemente sem mágoas. Mesmo com relação ao governador Ney Braga - que após tomar posse, em 1961, levantou as denúncias que o obrigaram inclusive a refugiar-se, por algum tempo, na Argentina - não alimenta mais rancor. Ao contrário, confirma tê-lo abraçado, num encontro de cursilhistas, há anos, após, "por uma coincidência do destino", numa viagem rodoviária, de Porto Alegre a Curitiba, ter auxiliado no atendimento a um dos filhos de Ney Braga, que se sentiu mal e obrigou o ônibus a parar na cidade de Lages, SC. Embora o peso da idade lhe obrigue a uma vida tranqüila - evitando o frio curitibano, fazendo-o permanecer por longas temporadas em seu apartamento no Rio de Janeiro, Moyses Lupion se mantém atualizadíssimo em torno da política, tem uma visão clara e precisa do quadro político e, a julgar pela sua experiência do passado, no mínimo, funcionará como conselheiro dentro das perspectivas novas que se abrem com a reformulação partidária. As opiniões do ex-governador não se restringem à política regional. Homem que tem aproveitado o tempo livre para muitas leituras, nestas duas décadas de "exilado em se próprio País", ampliou sua visão do mundo - e procurou adequar-se aos novos tempos que modificaram muitas coisas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
6
16/01/1980

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