O livro de Vaz sobre a verdade de Lupion
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de julho de 1986
Há pelo menos 20 anos o advogado Raul Vaz prometia um livro sobre Moisés Lupion. Amigos desde 1933, Raul Vaz foi seu advogado antes dele ingressar na política, acompanhou nas duas administrações, foi secretário da Justiça e o Interior e, nomeado para o Triobunal de Contas, presidiu aquela corte por 15 anos. Poucos, como ele, privaram tanto da intimidade e amizade de Lupion, que, em eleições diretas, por duas vezes foi governador do Paraná.
Muitos não acreditavam mais que Vaz viesse a publicar o prometido livro sobre Lupion. Até sua esposa, dona Maria, pouco antes de falecer, há cinco anos, insistiu com Raul Vaz para que concluísse a tão aguardada obra.
Finalmente, aos 88 anos, forte e lúcido, Raul Vaz finalmente publica "Moisés Lupion: A Verdade". Um alentado volume com mais de 400 páginas, muitos depoimentos, citações de documentos - enfim, um livro que explica ter sido demoradamente concebido "não para atacar ninguém mas para defender um amigo.
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É calro que um livro mostrando o outro lado de Moisés Lupion teria maior impacto se fosse publicado há 18 ou 15 anos passados, quando o ex-governador sofria ainda processos e ataques duros - que o obrigaram, inclusive, por algum tempo, a fugir do Brasil. Raul Vaz justifica não ter saído, na época, com o livro em defesa do amigo:
- "Vivíamos num governo militar. Não havia condições de dizer certas coisas e eu acabaria preso!"
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Por mais completo que seja o livro de Raul Vaz - (e como ainda não oficialmente lançado, desconhecemos o seu texto) - ainda será incompleto. Isto porque o ex-governador do Paraná deve o seu próprio depoimento sobre os muitos anos de poder, em duas adminstrações em períodos que tiveram uma profunda tranformação no Paraná - especialmente na área econômica, no desenvolvimento do Norte e Oeste do Estado.
Desde que deixou o governo - há 26 anos passados - Moisés Lupion nunca mais quis falar, publicamente, em política. A única exceção foi uma cuidadosa reportagem que o então jovem Carlos Roberto Maranhão, repórter da "Panorama" (hoje editor-chefe da "Placar", em São Paulo) conseguiu fazer em princípios dos anos 70 - mas que embora fazendo um perfil humano e emocionante de Lupion, não chegou a ter a profundidade de documento para a história.
Todas as tentativas feitas para que Lupion desse um grande depoimento - capaz de se transformar num livro - esbarraram com sua decisão de não falar a ninguém a respeito de seu governo e, especialmente, das acusações que sofreu por muitos anos. Mesmo Samuel Guimarães da Costa, 65 anos, o mais veterano e respeitado repórter político do Paraná - e que desde o início dos anos 40 acompanha a dança do poder - conseguiu demover Lupion de seu mutismo. E com isto, falta na história contemporânea do Paraná a palavra de um de seus personagens principais, um homem que vindo de família humilde fez a maior fortuna para sua época e, em duas eleições diretas, chegou ao governo do Estado.
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O livro de Raul Vaz deverá ser uma obra importante em termos de informação. Mesmo não deixando de representar a visão de um amigo e companheiro nos dois governos de Lupion deve trazer esclarecimentos, fazer colocações importantes em relação a fatos políticos ocorridos nas décadas de 40 a 50, quando Moisés Lupion, eleito pelo antigo Partido Social Democrático (em coligação com várias outras agremiações políticas) dominava a nossa vida pública.
Raul Vaz, paulista da Capital, no Paraná há 60 anos - aqui chegou em 1926, a convite de Bráulio Barbosa Ferraz, pioneiro na colonização do Norte do Estado, fixando-se inicialmente em Cambará, orgulha-se de sua amizade com Lupion. Lembra que ele foi, antes de ingressar na política, "o homem mais rico do Paraná".
- Hoje, diz Raul, Lupion possui apenas um apartamento no Rio de Janeiro, outro em Curitiba - e sobrevive com sua aposentadoria.
E pensar que em 1940, só na região de Cascavel. ele, possuía 28 mil alqueires de terra...
Advogado da turma de 1935 da Universidade Federal do Paraná, exercendo por muitos anos a profissão, Raul Vaz, seis filhas, 14 netos, 13 bisnetos, considera que publicando "Moisés Lupion: A Verdade" está complementando uma obrigação de muitos anos.
- "Dividi o livro de forma a mostrar o homem, o administrador e o político. em todas as formas, uma personalidade respeitável e admirável".
Moisés Lupion, aos 77 anos, um homem doente, triste, que tem visto entes queridos morrerem de forma trágica, está vivendo no Rio de Janeiro - cidade que adotou há muitos anos. Eventualmente vem a Curitiba, mas sempre de forma discreta, recebendo raros amigos. Sua única aparição em ato público aconteceu há dois anos, quando da inauguração da Rodovia do Cerne - numa justa homenagem que a Secretaria de Transportes lhe prestou já que a pioneira ligação rodoviária com o Norte do Estado foi uma obra executada em seu primeiro governo
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