36 anos depois, o Guaíra ainda não está terminado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de outubro de 1986
Dedicando-se em full-time ao projeto de construção do novo Palácio Avenida, afinal deslanchado após 18 anos de espera, o arquiteto Rubens Meister nem por isto descuida de lembrar, sempre que possível, daquela que considera, com justa razão, a menina dos olhos entre tantas centenas de obras que planejou ao longo de uma brilhante carreira: o Teatro Guaíra.
Por incrível que pareça, até hoje, às vésperas do 40º aniversário do projeto do Teatro Guaíra (1948), - e 12 anos após a inauguração da obra que se arrastou por mais de vinte anos - não se pode dizer que a mesma está totalmente concluída.
Tanto não está, que, na semana passada, ao receber um grupo de alunos do curso de arquitetura da Universidade Católica, preocupadas em fazerem uma pesquisa sobre o Teatro Guaíra, o professor Meister, não teve dúvidas. Convocou as estudantes para, em colaboração com a imprensa, fazerem uma campanha no sentido de sensibilizar o próximo governador - seja Álvaro Dias ou Alencar Furtado - para que, de fato, termine o nosso grande teatro.
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Mas, afinal, o que está faltando no Teatro Guaíra?
Há 12 anos, na pressa de inaugurá-lo, ainda na administração tampão de Emílio Hoffman Gomes (que havia substituído ao governador Pedro Viriato Parigot de Souza, falecido meses antes), entenderam os responsáveis que as chamadas obras complementares seriam desenvolvidas na administração seguinte. Ocorre que assumindo o governo, Jaime Canet Júnior, como é de seu feitio, não quis nem ouvir falar em investimentos na área cultural, na preocupação exclusiva de realizar obras em outros setores. E, desde então, parece que os homens que fazem o orçamento do Estado, acharam que nem mais um centavo precisava ser previsto para o importante item de "conclusão e manutenção do Teatro Guaíra".
Resultado: até hoje não existem os elevadores (havia 4 previstos), o sistema de ar condicionado, o bar-restaurante, a compra de um sistema de luz moderno (o que foi instalado, encomendado na Europa ainda na década de 50, se tornou obsoleto pois, como é proibida a compra de material importado, tornou-se inútil pela falta de lâmpadas para os refletores), o órgão com seus dutos, entre outros detalhes que ficaram faltando.
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Quando se pensou no Teatro Guaíra, há 38 anos passados, Curitiba não dispunha de um único grande restaurante. Por isto, com uma visão de arquiteto, Rubens Meister incluiu no projeto um espaço para um restaurante sofisticado, que serviria também como bar - a exemplo do que existem nos maiores teatros do mundo. Hoje, embora muitos discordem da necessidade de fazer um restaurante no Guaíra, há duas realidades: inexiste um bar competente que atenda as milhares de pessoas que comparecem nos espetáculos do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto - servido apenas por improvisadas instalações, em madeira, no lado esquerdo do hall de entrada. Somente o número de pessoas que circulam no Guaíra, diariamente, entre funcionários, artistas, alunos dos Cursos de Artes Cênicas e de Danças, Ballet Guaíra etc., justificaria a existência de um restaurante-modelo, limpo, confortável. O que ali existe é uma cantina, improvisada, de precaríssimo serviço e que se localiza no porão, ao lado do mini-auditório Glauco Flores de Sá Brito.
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O mais grave, porém, é a inexistência de elevadores. Embora estejam prontos os fossos para a instalação imediata de dois elevadores (cada um com capacidade para 50 pessoas), até agora, as sucessivas administrações da Fundação nunca se empenharam a fundo, junto aos Governos do Estado, para conseguir recursos necessários a sua implantação. Em conseqüência, deficientes físicos e pessoas com problemas de saúde, especialmente cardíacos, estão impossibilitados de assistirem espetáculos no 2º e 3º balcão. Mesmo para o acesso a platéia central, torna-se difícil, pois para isto é necessário uma ordem especial que permita, antes do início do espetáculo a abertura de uma das portas laterais, normalmente só utilizadas na saída.
Em relação ao ar condicionado, trata-se de um sonho distante. Sob alegação de que o clima de Curitiba não exige tal conforto - e que a sua instalação seria por demais onerosa - nunca se considerou, efetivamente, a possibilidade de sua execução. Entretanto, consta do projeto original.
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Entrevistado pelas estudantes Cristina do Rocio Oliveira Mansur, Ana Maria Cabada, Deborah Santos, Leatrice Rocha e Edilson Kassai, para um trabalho na cadeira de Teoria da Arquitetura, o professor Meister fez revelações interessantíssimas. Lembrou, por exemplo, aquilo que poucos sabem: em 1948, quando o então governador Moyses Lupion, preocupado pelo fato de Curitiba não ter um grande teatro desde a demolição do antigo Theatro Guayra, instituiu um concurso nacional, o projeto apresentado pelo seu escritório foi o terceiro classificado. A comissão julgadora, da qual fazia parte o professor David Carneiro, hoje com 85 anos, achou muito audaciosa a sua proposta, preferindo as idéias mais conservadoras dos outros concorrentes. Felizmente, o governador que substituiu a Lupion, Bento Munhoz da Rocha Neto (1911-1975), era um homem culto, sensível às transformações da cidade e que, lucidamente, entendeu que a proposta de um teatro moderno, como as que fazia Rubens Meister, era a que melhor se ajustava. E com isto, optou pela execução de seu projeto, graças ao que Curitiba tem hoje um dos mais bonitos e funcionais teatros do mundo.
LEGENDA FOTO - Meister: Guaíra sem elevadores
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