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Aramis

As muitas reformas que o Guaíra está exigindo

Em todos os cargos que ocupou, o advogado Constantino Viaro deixou a marca de bom administrador. Fosse na diretoria de pessoal da Prefeitura de Curitiba ou na Fundação Cultural de Curitiba, e, como presidente do Clube Curitibano, sua competência executiva sempre ficou bem definida. Por isto mesmo, assim que o governador Álvaro Dias convidou o professor René Dotti para a Secretaria da Cultura, o nome de Viaro foi lembrado como insubstituível para a direção da Fundação Teatro Guaíra. Amigo de Viaro há mais de 30 anos, conhecendo-o como profissional e executivo, Dotti sabia que Viaro, mesmo não sendo um homem de teatro, era a pessoa certa para recuperar o Guaíra, vítima da desastrosa administração no governo José Richa. Hoje, menos de um ano depois, sente-se que Dotti acertou ao enfrentar o lobby oportunista que pretendia, em nome de um discutível "prestigiamento da classe artística" (sic) manter no cargo os mesmos homens que ali "realizaram" uma das mais catastróficas administrações em toda a história do teatro - ao ponto de um deles ter acabado nas páginas policiais. xxx Graças a competência, independência e coragem de Viaro em enfrentar problemas, a Fundação Teatro Guaíra - recebida com o caixa a zero, grandes dívidas na previdência social e um descrédito total, hoje está recuperando-se. Se artisticamente, neste primeiro ano, pouco se pode fazer - apesar de algumas de suas boas idéias terem sido levadas a frentes (como a montagem do Ballet das Cataratas), ao menos em termos administrativos os resultados são palpáveis. O quadro de pessoal, inchado em mais de 400 empregados, hoje já foi reduzido para cerca de 320, e com poucas exceções, os cortes não fizeram falta. Ao contrário, está havendo melhor produção em todos os setores. Agora, aproveitando a paralisação dos meses de janeiro e fevereiro, Constantino Viaro e o diretor administrativo, Joel de Oliveira, funcionário com 20 anos de casa, ex-ator, estão trabalhando bonito para que problemas estruturais sejam solucionados. Melhor aproveitamento dos espaços, devolução de camarins que, pouco a pouco, foram tomados por outros setores, até uma limpeza externa e interna do prédio estão mostrando que faltou nesta década e meia, desde que o Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto foi inaugurado, o funcionamento de um setor básico: o da manutenção do prédio. xxx Paralelamente a esta ação imediata, possível de ser desenvolvida em termos econômicos com a nova filosofia de ceder o auditório para eventos que fogem da área artística (congressos, formaturas, reuniões, etc.), somente mediante pagamento de altas taxas, Viaro também se empenhou para buscar recursos que possibilitem a conclusão efetiva do teatro, até hoje, 40 anos após o projeto ter sido iniciado, ainda incompleto - como admite o próprio autor, o arquiteto Rubens Meister. Poty Lazarotto, em excelente fase de criação, já terminou a revisão do desenho para o mural em óleo, que cobrindo a cortina corta-fogo, no grande auditório, espera sua execução desde 1973. Entretanto, o teatro necessita de muitas obras - num investimento que, calculado em valores de dezembro de 1987, atinge a 614.600,65 OTNs - ou seja, um valor de Cz$ 366.870.710,00. Num descritivo projeto entregue ao ministro Celso Furtado, da Cultura, o secretário René Dotti tenta sensibilizar o Governo Federal para que o mesmo libere ao menos parte destes recursos para o Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, com suas 2.173 poltronas em veludo vermelho, disponha de maior conforto - especialmente um sistema de ar condicionado que funcione (mais necessário do que nunca, haja visto o calor que vem fazendo em Curitiba), e a instalação de três elevadores - previstos no projeto mas nunca programados. O Guaíra é hoje um teatro inviável de ser freqüentado por deficientes físicos - mesmo em sua platéia central. xxx Eis as necessidades da Fundação Teatro Guaíra no que diz respeito à manutenção do imóvel e suas instalações - e que com um custo ao redor de Cz$ 400 milhões (se forem executados imediatamente), dependem de um hipotético (e difícil) auxílio do MinC. 1. Reconstituição do projeto original do Teatro, com restauração da laje superior; reconstrução da cúpula; locação definitiva dos camarins; reforma das poltronas; impermeabilização do teto; reposição e atualização de equipamentos elétricos (aquisição de refletores e lâmpadas). Valor estimado: 320 OTNs. 2. Restruturação do sistema contra incêndio. Valor: 32.743,04 OTNs. 3. Adaptação do sistema de ar condicionado do Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, complementando o equipamento de renovação de ar já existente, consistindo na aquisição do sistema de calefação e refrigeração, bem como a reforma do ar condicionado do Auditório Salvador de Ferrante. Valor: 180.000,00 OTNs. 4. Aquisição de três elevadores, sendo dois para servir o saguão do segundo balcão com capacidade para aproximadamente 20 pessoas e um para a sala de aquecimento do Ballet Teatro Guaíra e Guarda-Roupa, ligado diretamente ao palco, com capacidade para 10 pessoas. Valor: 51.843,16 OTNs. 5. Projeto acústico e de restauração em geral para o Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, dimensionando potências a serem fixadas em locais próprios, oferecendo qualidade de som conforme desejada pelo público. Valor: 21.828,69 OTNs. 6. Retirada, troca e recolocação do tecido que limita o fundo do palco do Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto (ciclorama) e reposição do Auditório Salvador de Ferrante. Valor: 8.185,76 OTNs. xxx Como se vê, a Fundação Teatro Guaíra precisa de muita ajuda para que os auditórios funcionem a contento. Para uma obra idealizada pelo governador Bento Munhoz da Rocha Neto, ainda em 1947 - e que só viria a ser inaugurada 30 anos depois - é de se perguntar: não faltou melhor administração para que ela não estivesse, menos de 15 anos após a abertura do grande auditório, em tal situação?
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/01/1988

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