O museu que Suzana quer (para o João inaugurar)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de dezembro de 1986
Enquanto para algumas Secretarias os nomes já foram definidos, na área da Cultura e Esportes, até ontem, ainda havia uma crescente bolsa de candidatos. Aos que surgiram ainda nos meses de campanha de Álvaro Dias - como o colunista Alcy Ramalho e o vereador Neivo Beraldin - acrescentaram-se, nas últimas horas, alguns outros, com bom cacife. Entre eles, os do jurista e professor René Dotti e o publicitário e escritor Jamil Snege.
Por outro lado, corre paralelo o movimento de fortalecer o nome da professora Suzana Maria Munhoz da Rocha Guimarães, em favor de sua continuidade na Secretaria que vem ocupando. Afinal, embora até agora não tenha podido realizar nada de prático e marcante, Suzana teve ao menos o mérito de reaproximar-se de setores que estavam afastados da pasta devido a estupidez e incompetência do antecessor - o pior de todos os secretários na administração José Richa.
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Para que não termine a sua gestão oficial sem oferecer ao governador João Elísio a chance de inaugurar ao menos uma obra na área cultural, a secretária Suzana Guimarães decidiu mesmo implantar mais um museu em Curitiba. Para tanto quer aproveitar o Palácio São Francisco, na Praça João Cândido, que ficará vago em janeiro próximo quando o Tribunal Regional Eleitoral se transferir para sua sede própria - um prédio de seis andares na Alameda Cabral, esquina com a Rua Cruz Machado.
Suzana Guimarães tem argumentos para justificar a implantação do Museu de Arte do Paraná - retomando, aliás, denominação da antiga instituição criada sob patrocínio do jornalista Assis Chateaubriand no final dos anos 50, quando os Diários Associados constituíam a grande força de comunicação do País. Na época, o então poderoso "Diário do Paraná", dirigido por Adherbal Stresser, patrocinou a criação do Museu de Arte do Paraná, cuja direção foi entregue ao advogado e crítico Eduardo Rocha Virmond. Mesmo sem nunca ter uma sede própria, o MAP chegou a reunir um precioso acervo que, ao longo do tempo, foi se perdendo. Parte dele acabou no Museu de Arte Contemporânea, criado no final da administração Paulo Pimentel e implantado por Fernando Velloso.
Até hoje - como denunciamos em nossas colunas - o MAC ainda não conseguiu sequer reunir o acervo de artes plásticas que se espalha por repartições públicas. Não dispõe de recursos para adquirir boas obras e seu funcionamento é muito questionável. Assim, é difícil entender a "necessidade" de criar mais uma unidade para desenvolver atividades semelhantes.
Uma das justificativas é de que o amplo espaço do Palácio São Francisco - que no total tem 2 mil metros quadrados - possibilitará a realização de grandes exposições, muitas das quais não chegam a vir a Curitiba "por falta de locais apropriados". Ótimo. Só que a exclusão de nossa Capital do roteiro de mostras internacionais não é apenas por falta de espaço. É por falta de iniciativa e agilidade dos órgãos culturais. Por exemplo, o advogado Constantino Viaro, ex-diretor da Fundação Cultural e que realizou a melhor das administrações no Clube Curitibano, conseguiu resgatar a tradição cultural daquela sociedade centenária promovendo duas das mais importantes exposições do ano - a de Cândido Portinari (com obras que nunca haviam saído do MASP) e Djanira. Sem pedir um centavo a órgãos públicos.
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Para acervos de nosso museu sempre faltou dinheiro e, principalmente, disposição e interesse dos eventuais donos do poder. Por exemplo, que o diga o publicitário José Schlapack, o homem da "Manchete" no Paraná e proprietário da empresa de recortes "Sic", há quase 15 anos, herdeiro de 34 óleos de Alfredo Andersen (1860-1935), teve as maiores dificuldades para conseguir Cr$ 80 mil por estes quadros que só após transações burocráticas que levaram dois anos passaram ao acervo da Casa Alfredo Andersen. Na época, o hoje governador João Elísio era superintendente da Fundepar, um dos organismos aos quais se recorreu para tentar a transação - só oficializada após uma "ridícula concorrência pública".
Obras de outros artistas importantes, ligados ao Paraná, deixaram de ser incorporadas ao patrimônio do Estado sempre pela falta de recursos. Hoje, deslumbrados com as possibilidades advindas da Lei Sarney, os tecnocratas da Secretaria da Cultura alegam que já não existe mais este problema. Ao contrário, as obras de reforma do Palácio São Francisco seriam cobertas por empresas, sem que o Estado tenha que fazer investimentos diretos. Entretanto, a pergunta continua: o espaço é ótimo, deve mesmo ser destinado a atividades culturais, mas se justifica a existência de mais um museu?
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