De um museu à procura de uma sede. Sem final feliz
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de junho de 1987
Como o namoro entre o Museu da Imagem e do Som e a Mansão dos Arcos está em temporada de céu cinzento, como diria o jornalista Nelson Faria de Barros, em seus tempos de colunista social da "Última Hora", surge um terceiro candidato ao coração, digo ao corpo inteiro, do MIS: o Palácio Rio Branco, antiga sede do governo, hoje pertencente à Secretaria da Justiça, na Rua Barão do Rio Branco. Assim, no romance imobiliário que busca um happy end para o nosso Museu da Imagem e do Som encontrar, afinal, duas décadas depois de ter nascido, em espaço definitivo, continuam as especulações.
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Resumo dos capítulos anteriores: instalado há quase dois anos num casarão na Rua Martim Afonso, 280, o que deveria representar um casamento perfeito - (tanto é que a inauguração foi comemorada no melhor estilo daquelas festas de casamento de alta roda) o fato é que a união não deu certo. Sem contar que o passado do casarão tinha dados comprometedores - inclusive foi, por muitos anos, um dos bordéis urbanos com freqüência de belas das tardes tupiniquins, o espaço se revelou infeliz. Desde a noite de núpcias, o MIS e o casarão mostraram profundos pontos de atrito e só mesmo pela satisfação a sociedade - ou melhor à Secretaria da Cultura, que investiu muitos mil cruzados no imóvel, é que não se antecipou o divórcio. Mas a situação é tensa! As salas são incômodas, não há possibilidades de fazer obras que resolvam a situação e se os diretores anteriores aceitavam a situação, o atual, Francisco Bettega Neto, já disse que "no pombal", não há condições do MIS - que muitos chamam de "museu da imaginação" desenvolver os muitos projetos que o secretário Renê Dotti acalenta para a área.
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Na separação inadiável, o MIS procura um novo espaço para habitar. Surgiu então a lembrança da Mansão dos Arcos, centenária construção pertencente à família Romani, na Praça Eufrázio Correa - e que vagou desde que a Provopar (hoje nas páginas policiais, devido aos escândalos financeiros da quadrilha de dona Edmara) como um local ideal. Realmente, com mais de 3 mil metros quadrados, um sobradão de linhas clássicas - devidamente tombado pelo Patrimônio Histórico - seria a sede certa para o MIS. Capaz de sediar seu acervo, área administrativa e até receber um grande estúdio, além de nada menos que seis auditórios que Bettega Neto, não deixa por menos, para que cada bitola - super 8, 16mm, fotografia, 16mm ou 35mm, sem falar em vídeo - tenha seu espaço privativo.
O problema é que a Sr. Diana Romani, bilionária e nome maior do internacional set, dividindo sua vida entre o Brasil, Itália e outros países, ainda não decidiu pelo aluguel do imóvel à Secretaria da Cultura. Seus advogados alegam que há outros interessados - inclusive a Secretaria Especial de Ensino Superior, Ciência e Tecnologia - que faz com que o aluguel que a ex-Provopar ali pagava - ao redor de Cz$ 60 mil - seja duplicado, no mínimo, para uma nova contratação.
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Assim, numa época em que o governo do Estado mostra a escalada do vermelho em seu orçamento e os recursos da sempre esvaziada Secretaria da Cultura se exaurem cada vez mais, realmente comprometer milhões de cruzados para alugar um imóvel - por melhor que seja - torna-se uma questão discutível. Para que o Museu da Imagem e do Som não fique, por sua vez, confinado ao pombal da Rua Martin Afonso, surge uma possibilidade prática: a Secretaria da Justiça transferir para outra unidade os serviços burocráticos que restaram no belo palacete da Rua Barão do Rio Branco e ali ser instalado, definitivamente (definitivamente?) o nosso MIS.
A idéia não é nova, aliás, quando o secretário da Cultura, o ex-deputado Luís Roberto Soares pensou em aproveitar o mesmo espaço - mas na época o gabinete do secretário da Justiça ali funcionava (hoje passou para o Centro Cívico, em sede ampla e moderna). O secretário Antônio Acir Breda, da Justiça, sondado a respeito, mostrou boa vontade, mas perguntou ao seu colega René Dotti:
- "E o que eu faço com os serviços que estão no prédio?"
Renê sugeriu várias formas práticas. Afinal, repartições públicas, convencionais, podem ser instaladas em diferentes endereços, mas para um Museu da Imagem e do Som deixar de ser "Da Imaginação" e se tornar realmente uma atuante unidade cultural, justificando sua existência, é necessário um bom espaço.
E o nosso MIS é o exemplo do filho enjeitado, que ao longo de duas décadas tem percorrido endereços improvisados, o que faz com que ao invés de ampliar seu acervo, o perca cada vez mais.
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Por que o governo José Richa - leia-se Secretaria da Cultura e Esportes - adquiriu há quase dois anos um prédio que não se prestava para a instalação de um Museu?
Eis uma boa pergunta a se fazer a quem de direito. Por trás de tudo, era a época em que o governador Richa só se preocupava em fazer política e proteger seus amigos - incapaz de proceder como Álvaro Dias, denunciando publicamente as irregularidades que têm pipocado nas últimas semanas (todas, aliás, herança da administração anterior).
Foi o próprio Richa que na tarde de 20 de dezembro de 1985, compareceu no Cartório do Taboão para assinar a escritura de compra do casarão número 280, da Rua Martin Afonso, de propriedade do cirurgião dentista Aristeu Correa de Bittencour Junior.
Construído na década de 40, o casarão teve diferentes inquilinos nos últimos anos. A questão era de saber se o mesmo tinha condições técnicas para abrigar o MIS. Pelo visto, não houve qualquer planejamento ou estudo preliminar e deu no que deu: o mesmo não serve para o Museu, conforme tem sido amplamente denunciado pela atual administração.
Quanto custou o prédio? Quem foi o intermediário? Quem foi o responsável pela aprovação técnica do imóvel?
Questões que não se levantaram ainda, mas que deveriam ser feitas, já que agora a Secretaria da Cultura está com esta batata quente na mão: o prédio não serve para o MIS e se procura uma nova sede. E o que se fará com este edifício? O diretor Fracisco Bettega Neto já encontrou uma boa designação para o mesmo: pombal.
Ora, pombas! - é de se dizer, como contribuinte do Estado que emprega tão mal seus recursos.
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