Login do usuário

Aramis

MIS sai do "pombal" e ganha um palácio

Apesar do carnaval - o que sempre é desculpa para adiar novos projetos - Valêncio Xavier promete que começa a ocupar a nova sede do Museu da Imagem e do Som na próxima semana. Afinal, não há tempo a perder: uma reivindicação de anos, finalmente atendida pelo governador Álvaro Dias, poderá dar um local definitivo para a mais enjeitada das instituições culturais do Estado. Há duas décadas que o nosso MIS - tão apropriadamente apelidado pelo irreverente pintor Fernando Velloso de "Museu da Imaginação" - vem perambulando em locais desapropriados, uma das desculpas oficiais para explicar o (muito) pouco que realizou ao longo deste período. xxx Agora, o Museu da Imagem e do Som vai ter uma sede condigna, ampla e de muita história: o antigo Palácio do Governo, na Rua Barão do Rio Branco, que já sediou várias repartições públicas, por último a Secretaria da Justiça, que ali mantinha a Defensoria Pública, setor subordinado, após a reforma, à Procuradoria Geral do Estado. Localizado defronte ao antigo Cine Vitória - desapropriado há dois anos para sediar o futuro Centro de Convenções do Paraná - o histórico palácio já estava sendo visto com olhos gordos pelos "planejadores" do futuro Centro de Convenções, como um espaço ideal para ser "anexado" a este empreendimento. No mínimo, serviria para estacionamento de veículos - um dos (muitos) problemas que desafiam os idealizadores do Centro de Convenções - obra que pela escolha imprópria do local e demora em ser deslanchada é motivo para sérias críticas - e mesmo alguns contornos de um escândalo que compromete muita gente conhecida. Assim, antes que o antigo palacete acabe também atingido pela síndrome que condenou o melhor cinema de Curitiba a ficar fechado desde janeiro de 1987 - com uma deterioração interna e externa, o governador Álvaro Dias concordou com os argumentos apresentados pelo Secretário da Cultura e autorizou a ocupação do imóvel pelo MIS. Independente de obras de recuperação e adaptação necessários a serem feitas (mas para os quais, absolutamente não há recursos) o Museu da Imagem e do Som estará muito melhor instalado naquele local do que no chamado "pombal" no qual foi colocado na infeliz administração José Richa. xxx A dramática carta que o secretário René Dotti encaminhou à Álvaro Dias, no dia 19 de janeiro último, fazendo um apelo desesperado pela cessão do imóvel - e que sensibilizou o governador - poderia até ser peça de um processo se o Estado tivesse interesse de remexer o passado e apurar responsabilidades. Afinal, é um caso estarrecedor que a Secretaria da Cultura do Paraná, na administração José Richa, tivesse aprovado e adquirido um imóvel totalmente inadequado para sediar o MIS. Mas foi o que aconteceu: na época, o então Secretário da Cultura inaugurou com festas e muitas notícias a "sede definitiva do MIS", que, desde sua fundação, vivia mudando de endereço. Entretanto, a escolha não poderia ter sido pior - e a prova disto está na carta que o Secretário René Dotti encaminhou ao governador Álvaro Dias. xxx Logo no segundo parágrafo, diz Dotti: "o principal entrave ao desenvolvimento normal das atividades do MIS reside nas instalações de sua sede. Mal localizado - esquina das duas vias rápidas, Martin Afonso e Visconde de Nacar -, e com intenso ruído e tráfego permanente até altas horas da noite (tornando impraticável qualquer gravação de depoimento, entrevista ou palestra que se deseja realizar em áudio-fita), acanhada para as necessidades crescentes de equipamento e de pessoal, a edificação se constitui em apenas mais um museu asfáltico". Quem afirma é René Dotti, jurista famoso, o que, portanto dá maior força à denúncia: "trata-se de uma casa de pequenas peças compartimentadas, com infiltração de água de chuva, com o segundo pavimento já condenado e prestes a desabar, conforme diagnóstico de um engenheiro do DECOM, no ano de 1987. Além disso, a proximidade com o prédio da Telepar ocasiona uma série de interferências nas gravações, tanto de áudio como de vídeo, como também nas reproduções" Na seqüência, denuncia o Secretário da Cultura do Paraná: "Todo um precioso acervo de discos, fotos, filmes, vídeos, negativos fotográficos em chapas de vidro, depoimentos gravados, equipamentos fotográficos, equipamentos de som, equipamentos de vídeo, tanto antigos como modernos, encontram-se mal alojados, se estragando. A partir desse contexto - porque não dizer, aflitivo - a transferência do MIS para outro local constitui-se em projeto indispensável, capaz de possibilitar ao MIS realizar seus objetivos...". O imóvel adquirido em 20 de dezembro de 1985, com a finalidade única de servir ao MIS-PR pertencia ao cirurgião-dentista Aristeu Correio Bittencourt. Construído nos anos 40 teve vários inquilinos e um dos derradeiros foi, vejam só, um bordel urbano - um dos últimos a funcionarem no centro da cidade. Com pequenos cômodos, desapropriado para servir a um Museu, apesar disto foi comprado pela Secretaria da Cultura para se destinar como "sede definitiva" - conforme releases distribuídos na época - ao Museu da Imagem e do Som. Quem fez a vistoria daquele prédio e o aprovou como indicado para o MIS? Porque o Estado não procurou uma sede realmente apropriada? Quem foram os responsáveis pela a aquisição do imóvel? Como se procedeu a operação? Quem serviu de intermediário? Estas questões jamais serão respondidas. Não interessa politicamente ao governo remexer no passado para apurar responsabilidades da administração que o antecedeu. O imóvel foi adquirido e pago. Valorizou, naturalmente - mas não serve para o MIS. Agora, por certo será destinado a alguma outra unidade do Estado. Entretanto fica a questão. E mais uma prova de como se gasta de forma errada o dinheiro público. Ou seja o dinheiro que o povo paga em forma de impostos cada vez mais elevados. xxx O custo da transação foi de quinhentos e cinqüenta milhões de cruzeiros, na época conforme consta da escritura registrada no Cartório do Taboão. Se alguém argumentar que hoje a importância pode parecer ridícula é bom fazer um cálculo retroativo e lembrar que há três anos passados Cr$ 550 milhões era soma altamente significativa. Houve valorização imobiliária, mas a questão é: cabe ao governo do Estado investir em imóveis que não servem às finalidades? Afinal, ao que consta, a especulação imobiliária não está entre as finalidades de um governador... LEGENDA FOTO - Valêncio Xavier, diretor do MIS-PR: ocupar a nova sede antes que se perca.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
29/01/1989

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br