O filho enjeitado de nossa memória
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de janeiro de 1989
Idealizado e fundado por Maurício Quadrio, um dos mais admiráveis pesquisadores e produtores culturais do Brasil, o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro - instalado na administração de Carlos Lacerda, surgiu numa época em que mais do que nunca era grave a perda da memória da música, cinema e fotografia no Brasil. Quadrio idealizou o primeiro MIS no Brasil mas não chegou a permanecer em sua direção por muito tempo. Foi o advogado Ricardo Cravo Albim, cinéfilo e estudioso de música de jazz, quem viria a aproveitá-lo como um centro gerador de atividades culturais e que lhe valeu uma grande projeção pessoal - conduzindo-a, inclusive, menos de um ano, após a presidência do então Instituto Nacional de Cinema - hoje Embrafilme.
A generosa cobertura que a imprensa deu ao MIS, especialmente pelas gravações de depoimentos dos grandes nomes da MPB, edições de discos e mesmo cursos e exposições, estimulou que instituições semelhantes fossem criadas em outros estados.
Em Curitiba, na administração Paulo Pimentel, a professora Nancy Westphalen Corrêa dirigia a Biblioteca Pública do Paraná, quando implantou o nosso MIS. Modesto, ocupando uma pequena sala do 2º andar, começou funcionando bem, recolhendo muitas entrevistas - inclusive de personalidades nacionais (Clarice Lispector fez ali um de seus raros depoimentos).
Depois o MIS passou para os fundos do Museu de Arte Contemporânea e, por falta de recursos e uma planificação maior, sofreu processo de esvaziamento - mesmo com pessoas bem intencionadas em sua direção (como a pesquisadora Marly Corrêa). Quando Ney Braga voltou ao governo e criou a Secretaria da Cultura, Marcelo Marchioro foi designado para a direção do MIS-PR, que teve uma fase atuante, inclusive fazendo até edição do lp com as músicas da peça "O Contestado", de Romário Boreli e promovendo em Curitiba o I Encontro da Produção Cultural Alternativa. Convocado para substituir a Luís Esmanhoto na direção de arte e programação da Fundação Teatro Guaíra, seu substituto, o economista César Fonseca, ali permaneceria poucos meses. Com sua saída começou o debacle da unidade, que acabou tendo o seu acervo - já bastante disperso (inclusive com perdas de importantes depoimentos) jogado numa sala da Secretaria da Cultura. O último diretor do MIS nesta fase foi o poeta Reynaldo Jardim, que hoje reside em Brasília.
Na infeliz administração José Richa o MIS continuou esquecido. Depois de estar "guardado" numa sala da Secretaria da Cultura acabou transferido para uma sede alugada na Rua XV de Novembro - de onde sairia para a badalada "sede definitiva" na Rua Martim Afonso.
Um imóvel que, prova hoje o secretário René Dotti, era totalmente inadequado para o seu financiamento mas foi adquirido há três anos pelo Estado.
Quando Francisco Bettega Netto assumiu a direção, no início da administração Alvaro Dias, constatou o óbvio: o "Pombal" (como apelidou a sede) era inadequado. Arquivos desorganizados e poucos (desmotivados) funcionários. Valêncio Xavier que substituiu a Bettega, vem tentando dinamizar o MIS, promovendo cursos (nos próximos dias, inicia um sobre montagem e depois traz o cineasta Ozualdo Candeias para dar outro, sobre direção), realizando exposições e fazendo edições de boletins práticos, ágeis e oportunos.
Agora, o MIS-PR vai ganhar uma nova sede. De nada adiantará maior espaço se não tiver recursos, pessoal capacitado e equipamento. Competência o seu diretor Xavier tem - mas ele não faz milagres. E para que o MIS não continue sendo o "Museu da Imaginação" do Paraná só com a aplicação de recursos que há 20 anos espera.
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