Rádio Estadual poderá passar para a Secretaria da Cultura
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de outubro de 1986
Decidida a recuperar o tempo perdido na infeliz administração José Richa - quando a pasta da Cultura e Esportes, devido à incompetência e politicagem de quem a ocupou e desviou de suas funções específicas, transformando-se num reduto de ódios, perseguições e projetos frustrados - a secretária Suzana Munhoz da Rocha Guimarães está tentando, de todas as maneiras, usar bem o (infelizmente) pouco tempo que dispõe no cargo. Afinal, no jogo sujo da política, com candidatos tendo que compor com diferentes grupos econômicos e políticos, nunca se sabe quem a substituirá dentro de seis meses. Tanto Álvaro Dias como Alencar Furtado poderão ser infelizes na escolha do secretariado e, ao menos no que concerne a cultura, repetir a catástrofe que foi a administração José Richa. Embora, se espere que aconteça o contrário. É verdade, que pior do que a administração passada, difícil acontecer.
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Embora não tenha ainda concluído o processo de dedetização da pasta - devido a limitações neste explosivo período pré-eleitoral - a secretária Suzana já mostrou do que é capaz e com uma equipe pequena, ágil, vem fazendo um positivo trabalho. Contra sua energia e criatividade existem muitos obstáculos, a começar pelo próprio fator tempo e o comprometimento da pasta em várias áreas - além da desconfiança, especialmente da parte de prefeitos do Interior, que perderam a credibilidade na pasta na administração anterior. O próprio candidato situacionista, Álvaro Dias, durante um encontro com jornalistas - ao qual estávamos presentes - comentou que ficou impressionado com a desilusão de prefeitos em relação à pasta, dos quais ouviu contundentes críticas. Partindo de um senador do PMDB, tal informação não deixa de mostrar como as coisas andavam mal colocadas...
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A secretária Suzana já recebeu sinal verde do governador João Elísio para um projeto tão importante quanto polêmico e difícil de ser executado a curto prazo: conseguir passar a Rádio Estadual do Paraná para a Secretaria da Cultura e Esportes.
Filha enjeitada, tratada como criança excepcional por tantas administrações, a Rádio Estadual do Paraná acabou, há alguns anos, como a única unidade diretamente subordinada à área de comunicação do Palácio Iguaçu - inicialmente a subchefia de Comuinicação Social da Casa Civil do Palácio Iguaçu, transformada, no governo Richa, em Secretaria Extraordinária. Justamente por ser uma Secretaria Extraordinária, tendo assim uma atuação limitada, o ex-deputado e empresário Luís Alberto Dalcanalle, escolhido para o cargo, não pôde, nos últimos dois anos, realizar aquilo que dezenas de relatórios e centenas de opiniões apontam como única solução para transformar a enjeitada Rádio Estadual num organismo forte, atuante e competente: criar uma Fundação, base inclusive para uma onírica TV Educativa.
Há pouco mais de um mês, o empresário Faruk El Khatib, 42 anos, amigo pessoal de Richa, pediu as contas e deixou, em caráter irrevogável, a direção da Estadual - frustrado por não ter conseguido ver consolidada a Fundação que, para muitos, parece ser a varinha mágica para a solução de problemas que só têm crescido nos últimos anos.
Como Secretaria que já administra várias unidades - museus, Fundação Teatro Guaíra, etc. - e dispõe de orçamento próprio (embora, ridiculamente, o menor do Estado), a Cultura e Esportes talvez tenha condições de, absorvendo a Rádio Estadual, agilizar o processo de reestruturá-la, inclusive através de uma fundação. O que animou a professora Suzana Guimarães a se habilitar em receber este pesado fardo é a euforia dos recursos que a Lei Sarney pode trazer ao setor cultural. Afinal, desde que o advogado Fernando Miranda, da Indústria e Comércio - com o cavalheirismo e inteligência que lhe são característicos - decidiu usar sua influência e prestígio junto ao empresariado paranaense, para que apareçam os mecenas locais, cresceu a esperança (ao menos esta), de que uma rádio com boa audiência, programação agradável e voltada a preencher uma faixa desprezada pelos quase 20 outros prefixos da cidade - possa trazer em retorno promocional.
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O governador João Elísio tem mostrado que, ao contrário do que se podia imaginar, é um homem capaz de tomar atitudes eficientes e até corajosas. Exemplo disto foi a fórmula que encontrou para dinamizar o setor da assistência social do Estado. Como a Secretaria da Saúde e Bem Estar Social vinha criando obstáculos para uma maior dinamização da Fundação Promopar, não teve dúvidas: retirou da esfera esquerdista do secretário Cordone Júnior aquele organismo, criando uma subchefia junto ao seu gabinete para cuidar do setor - e permitir que o Provopar - Programa do Voluntariado Paranaense (dirigido, aliás, com eficiência por sua esposa, Cristina Leão Ferraz) pudesse ter maior autonomia. Pelo visto, a fórmula está funcionando, haja vista que, ao contrário dos tempos anteriores, a Primeira Dama do Estado está fazendo da assistência social algo mais concreto do que promoção de chás-de-caridade badalados nas colunas de amenidades sociais.
Com relação à Rádio Estadual, caso o governador João Elísio queira realmente prestigiar a secretária Suzana Guimarães, terá que agir de forma parecida: um simples decreto pode transferir a unidade para a Cultura e Esportes. A discussão com relação a uma futura Fundação pode até ser adiada - embora, com a renovação do Legislativo e do Governo, a questão possa ser bombardeada a partir de março de 1987.
Mas é um risco natural. E administrar é correr riscos - desde que bem intencionados.
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